Israel. Ataques dos EUA contra milícias pró-Irão com final incerto

7 meses atrás 100

"Creio que isto pode ser as duas coisas. Por um lado, podemos ter eliminação da ameaça, mas, por outro, também podemos ter alguma escalada", respondeu à agência Lusa o académico da NOVA School of Law de Portugal, Filipe Pathé Duarte.

Segundo Pathé Duarte, no que diz respeito à eliminação da ameaça "ou à intenção norte-americana", este conjunto de ataques, que supostamente irá durar alguns dias, visa o objetivo "muito concreto de dissuadir e limitar novos ataques" por parte dos grupos de milícias iraquianos e sírios pró-iranianos. 

"Mas poderá transformar-se numa escalada, desde logo, porque poderá haver retaliação, Mas a retaliação por parte destes grupos militantes será essencialmente depois dos ataques [norte-americanos], em que os grupos se vão juntar, reunir, reagrupar, para depois poder retaliar. Parece-me que eles vão retaliar", opinou.

Para Pathé Duarte, outro nível de escalada será sempre considerar a questão do Irão, "e de facto está aqui uma escalada relativamente ao Irão", embora tenha dúvidas quanto a um conflito militar direto, que ninguém quer.

"Isto será o final da escalada, bem entendido. Não obstante haver muita pressão por parte de alguns chamados 'falcões' republicanos, que querem que os Estados Unidos ataquem diretamente o Irão e que haja uma confrontação militar direta, acho que isso não irá acontecer", sustentou.

Por um lado, acrescentou, não interessa a ninguém, aos norte-americanos com eleições em breve.

Um novo conflito dificultará em muito uma potencial vitória, quer dos republicanos, quer dos democratas, no sentido em que é de novo uma guerra no Médio Oriente, argumentou.

"E, depois, ao Irão isto não convirá, como é óbvio, não só em termos internos, porque pode causar turbulência interna e pôr em causa o regime dos 'ayatollah', e por outro lado pode haver uma ameaça assistencial ao próprio Irão, no sentido em que uma guerra com os norte-americanos, quer dizer um confronto militar direto, seria complicado", salientou o académico da NOVA School of Law.

Mas há uma escalada que se tem que considerar, explicou, essencialmente através de 'proxies', e, por outro lado, também há a considerar que está cada vez mais longe encontrar um caminho para alguma estabilidade diplomática com o Irão, porque, à medida que o Irão vai apoiando estes grupos, está a alterar permanentemente a estratégia norte-americana contra Teerão.

"Portanto, respondendo à questão, sim, pode haver alguma limitação e eliminação da ameaça, mas ao mesmo tempo também temos de considerar a possibilidade de uma escalada essencialmente através de 'proxies'", resumiu.

No mesmo sentido se pronunciou João Henriques, vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico (OMI), para quem os ataques norte-americanos não são o prenúncio de uma escalada no conflito. 

"Os ataques norte-americanos que visaram as milícias apoiadas pelo Irão foram uma resposta a um ataque com 'drones' [aeronaves não tripuladas] que matou três soldados norte-americanos. A Casa Branca atribuiu o ataque a representantes iranianos e visaram estes grupos para impedir novos ataques às forças norte-americanas. Estes ataques foram, de imediato, condenados tanto pelo Irão como por outros países, incluindo a Rússia", explicou.

"Mas os Estados Unidos já fizeram saber que não pretendem uma guerra mais vasta na região. Esta posição é, de resto, comungada pelas autoridades iranianas, o que exclui, de momento, uma eventual escalada do conflito em toda a região", concluiu João Henriques.

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