"Isto é Paris, não o Mali": Cantora francesa alvo de insultos racistas por ser hipótese para cantar nos Jogos Olímpicos

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Aya Nakamura é uma das vozes mais ouvidas da música de língua francesa. Esta semana começaram a circular rumores na imprensa local de que a cantora ia interpretar uma música de Édith Piaf, depois de se ter reunido com o presidente Emmanuel Macron.

A hipótese não foi bem recebida por movimentos de extrema-direita franceses, que se manifestaram. O tema foi discutido num comício do partido 'Reconquête!' ("Reconquista!"), onde o nome de Nakamura foi vaiado.

A cantora nascida em Bamako, capital do Mali, alcançou o estrelato com o sucesso da música "Djadja", que alcançou mais de mil milhões de visualizações só no YouTube.

No sábado, um pequeno grupo extremista, 'Les Natifs' ("Os nativos"), estendeu uma tarja perto do Rio Sena, em Paris, onde se lia: "Não pode ser [Ya pas moyen] Aya; isto é Paris e não o mercado de Bamako".

A tradução para francês da frase é uma clara alusão ao 'hit' de Nakamura. "Ya pas moyen" é a frase utilizada pela artista no refrão da canção.

Cantora reagiu: "São racistas, mas não são surdos"

A cantora que vive em França desde criança, quando saiu do país africano, reagiu à tarja do grupo extremista. Face à alusão dos radicais à sua letra, Nakamura respondeu.

"Vocês podem ser racistas, mas não são surdos... é isso que vos magoa! Estou a tornar-me número 1 de discussão... mas o que é que vos devo? Nada", partilhou nas redes sociais.

Comité olímpico sai em defesa da cantora

As críticas dos grupos extremistas podem ter o efeito contrário ao pretendido pelos grupos que criticaram Nakamura, uma vez que, esta semana, o comité olímpico saiu em defesa da cantora.

"Estamos muito chocados com os ataque racistas contra Aya Nakamura nos dias recentes. Oferecemos todo o apoio à cantora francesa mais ouvida no mundo", disse o comité, citado pela AFP.

Também a ministra do Desporto francesa, Amelie Oudea-Castera defendeu a cantora. "Não importa, as pessoas amam-te. Não te preocupes com nada", escreveu no X, antigo Twitter.

"Eles [extremistas] dizem que amam o seu país, mas querem excluir a cantora francesa mais ouvida desde Edith Piaf. Não podemos ser racistas e patriotas em simultâneo, em França", escreveu Antoine Leaument, do partido 'La France Insoumise' ("A França insumbissa").

Não é a primeira vez que Nakamura sofre estes ataques

Aya Danioko, Nakamura para o mundo musical, vive em França desde criança. Desde que começou a ganhar mais fama que sofreu ataques racistas.

A cantora franco-maliana usa, nas suas canções francófonas, várias vezes calões do hip-hop, o que motiva algumas críticas.

"Eu consigo perceber porque dizem: 'Quem é que ela pensa que é, a gozar com a nossa língua", disse a artista numa entrevista à AFP.

"Mas é importante aceitar a cultura dos outros e eu tenho duas culturas", acrescentou.

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