Javier Milei: “Se acabar bem, provavelmente vão dar-me o Prémio Nobel da Economia”

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O presidente da Argentina já habituou os analistas a que, em princípio, quando diz uma incongruência, é porque acredita nela. Desta vez, possivelmente passa-se isso mesmo. “Estamos a reescrever grande parte da teoria económica”, disse Javier Milei na Chéquia.

O presidente da Argentina, Javier Milei, fantasiou esta segunda-feira, durante a sua visita à República Checa, ou mais propriamente à Chéquia, a possibilidade de receber o Prémio Nobel de Economia juntamente com o seu assessor Demian Reidel por fazer “desaparecer” com suas políticas “o conflito entre a fábrica de alfinetes e a mão invisível”.

Milei foi a Praga coletar mais um prémio – depois de ter passado há uns tempos por Madrid, capital de um país que tem as relações com a Argentina semi-suspensas, para coletar um outro – desta vez atribuído por um grupo de ex-líderes do Instituto Liberal da República Checa. A instituição, com certeza desagradada com a publicidade negativa que o assunto lhe traria, desvinculou-se do evento e disse que o prémio é uma iniciativa de pessoas que já não estão ligadas à instituição. O instituto impediu que o seu nome ficasse ligado ao prémio atribuído a Milei.

Na última semana, o presidente argentino foi reconhecido com prémios dados por think tanks próximos da filosofia libertária, dos quais Milei é fiel seguidor. O termo ‘libertário’ pode induzir em erro, mas no caso tem a ver com teorias que apontam para uma espécie de regresso ao primarismo dos relacionamentos económicos – num contexto em que esses relacionamentos devem seguir uma via empírica ao invés de seguirem o caminho cada vez mais afunilado dos ambientes super-regulamentados. É uma espécie de niilismo económico que, evidentemente, é incompatível com o funcionamento global da economia e tende com certeza a criar desastres nacionais de proporções felizmente nunca provadas na prática.

“Com o meu principal orientador, o Dr. Demian Reidel, estamos a reescrever grande parte da teoria económica para poder derivar a Eficiência de Pareto, tanto estática quanto intertemporal, tendo funções de produção não convexas. Se acabar bem, provavelmente vão dar-me o Prémio Nobel da Economia juntamente com Demian”, disse o presidente no seu discurso em Praga.

“A Eficiência de Pareto é um conceito desenvolvido pelo italiano Vilfredo Pareto, que define um estado em que os recursos estão alocados da forma mais eficiente possível. Qualquer realocação dos recursos para melhorar a situação de um indivíduo irá necessariamente piorar as condições de outro indivíduo. No entanto, ao ser eficiente, o sistema não é necessariamente é igualitário”, segundo reza o Google – o que tende a confirmar que as teorias de Milei se desenvolvem no campo que alguns apelidam de anti-economia.

O presidente da Argentina não estará com certeza convencido de quer ganhará o Nobel – ou então está mesmo – mas as palavras de Milei durante o evento foram repletas de referências aos seus economistas favoritos e membros da escola austríaca, corrente de pensamento económico à qual o presidente argentino, que parece que também é economista, aderiu.

O presidente argentino criticou duramente o socialismo e os economistas não-liberais, não poupou elogios a nomes como Adam Smith e lembrou a origem liberal dos nomes dos seus cães – aos quais se referiu, mais uma vez, segundo recordam os jornais, como seus “filhos de quatro patas” – Conan, Milton, Murray, Robert e Lucas.

O presidente da Argentina esteve em Espanha e antes disso na Alemanha, onde manteve uma reunião de trabalho com o chanceler germânico, o social-democrata Olaf Scholz. Por onde passou, os jornais que assumem (ou nem por isso) um alinhamento com o liberalismo trataram de explicar que Milei está por trás de uma espécie de milagre económico que ‘varreu’ a Argentina desde que o economista chegou ao poder. Prova disso? Os índices da bolsa de valores da Argentina – que dispararam desde que Milei chegou ao poder. Milei é considerado o ‘pai’ do milagre da diminuição expressiva da despesa do Estado – conseguido principalmente à custa do empobrecimento do estado social. Em princípio, é uma boa ideia, segundo dizem alguns críticos: quando os pobres morrerem todos, seja lá de que forma for, o problema da pobreza fica resolvido. Há uns anos atrás, um ministro da Educação português tinha uma visão semelhantes sobre como erradicar o analfabetismo.

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