Jogos Olímpicos de 1924. O que é feito do Stade de Pershing e de La Cipale?

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No bosque de Vincennes, zona sul de Paris, os Jogos Olímpicos também têm o seu pequeno papel de história. Numa zona grande e verde esconde-se o Stade de Pershing, um dos principais locais de provas das olimpíadas de 1924.

Dominic Estienne, conselheiro de Desporto para a cidade de Paris explicou a importância histórica deste local. Pershing foi criado por uma associação protestante norte-americana, em 1919, depois de a cidade de Paris ter cedido um terreno. Na altura, o estádio tinha dez mil lugares e recebeu o nome de um general americano, John Pershing, o chefe do exército dos Estados Unidos no fim da I Guerra Mundial.

A primeira competição a ser realizada aconteceu no mesmo ano de 1919 e foi a Taça dos Interaliados, que comemorou a vitória dos Aliados sobre a Alemanha e a Áustria e três anos depois recebeu um torneio pioneiro.

“Em 1922, realizaram-se aqui os Jogos Mundiais Femininos, uma espécie de contra-jogos olímpicos organizados por uma feminista e grande desportista, Alice Milliat, que se opôs ao Barão Pierre de Coubertin, que não queria acolher as mulheres nos Jogos Olímpicos. E aqui, perante 30 mil pessoas, com 18 recordes mundiais, o desporto feminino teve tanto êxito que, alguns anos mais tarde, em 1928, nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, as mulheres entraram nas competições olímpicas”.

Dominic Estienne falou num caminho trilhado que levou um século até haver paridade de género no desporto. “A história é bela”, declarou.

Depois de ter sido ampliado para 30 mil lugares, o Stade de Pershing tornou-se num dos principais locais a receber os Jogos Olímpicos de 1924. Estienne explicou que era neste local que iria ser realizada a cerimónia de abertura, mas a mesma acabou por ser mudada para o Stade de Colombes, que em 2024 alberga as provas de hóquei de campo.

Pershing acabou por receber as provas de futebol nessas olimpíadas e Dominic Estienne lembrou um facto curioso: “infelizmente a equipa de Portugal desistiu e o Uruguai ganhou”.

Com o passar dos anos, o desporto de alto rendimento procurou por outros lugares, mais modernos. No entanto, o Stade de Pershing ainda foi lugar de disputa da Taça de França de futebol. O local original acabaria por ser demolido e tornado local de desporto para todos, com campos de ténis, pista de atletismo, campo de rugby e basebol.

Apesar das infraestruturas que foram construídas ao longo do tempo, Pershing mantém não só a importância histórica mas também desportiva.

“No ano passado, todos os atletas paralímpicos treinaram aqui para o Campeonato do Mundo de Atletismo. Dentro de três semanas, serão os Jogos Paralímpicos. E do outro lado da rua, atrás dos postes de râguebi, fica o INSEP, que é uma espécie de fábrica de campeões franceses, onde todas as equipas francesas, todas atualmente a participar nos Jogos Olímpicos, treinam durante todo o ano”, explicou o Conselheiro.

De seguida, avançamos para um outro pedaço de história patrimonial e desportiva de Vincennes: La Cipale. Um edifício único que está numa lista restrita de locais que repetiram a presença em Jogos Olímpicos. Isto porque o local não só foi palco de provas das olimpíadas de 1924 como também do ano 1900.

“O Velódromo Jacques Anquetil, a Cipale, é um dos quatro únicos recintos do mundo que acolheram dois Jogos Olímpicos. Aqui temos a Cipale, o Estádio de Atenas, o Coliseu de Los Angeles e o Ninho de Pássaro de Pequim, que acolheu os Jogos de verão e os Jogos de inverno”.

Dominic Estienne explicou também a origem do nome deste local: La Cipale, é uma contração linguística das palavras “pista municipal” e em 1900 recebeu provas de futebol, rugby e ciclismo, tendo realizado, em 1924, apenas quatro provas de ciclismo: 50 quilómetros, Sprint, perseguição por equipas e ciclismo adaptado masculino.

O recinto foi construído em 1896 e tem um valor histórico inestimável. Por isso mesmo, as obras de restauração estão a ser constantemente adiadas pela importância histórica do local.

“A Cipale, construída em 1896, é um verdadeiro monumento. Porquê? Por causa das suas arquibancadas com sete mil lugares, com pilares que suportam os níveis e, por fim, o teto das bancadas, inspirado na Torre Eiffel”.

Uma das grandes atrações da Cipale é a pista de ciclismo, em betão armado. Um local que ainda é referência do ciclismo na cidade de Paris mas que já não apresenta os requisitos necessários para continuar a ser utilizado em provas oficiais: “o local não poderia ser aprovado pela União Ciclista Internacional”.

“Mesmo assim, é um local importante, não só para os alunos do 12º bairro, na zona leste de Paris, mas também porque tem um bom clube de râguebi e clubes de ciclismo. Mas a Cipale conheceu a sua última hora de glória nos anos 60. Porquê? Porque a Volta a França, que terminava em Paris no Parque dos Príncipes, o grande estádio de futebol do PSG, que recebe muitas vezes o Benfica, o Porto ou o Sporting, estava a ser reconstruído”.

A Cipale recebeu o fim da Volta a França entre 1968 e 1974, numa altura em que Eddie Merckx era rei do Tour. Mesmo assim, Dominic Estienne relembrou um outro grande ciclista.

“E os anos de Eddy Merckx foram também os anos de um grande ciclista português que era adorado pelas multidões, Joaquim Agostinho, que tinha uma personalidade muito cativante, que corria muitos riscos nas montanhas e que foi terceiro, penso que duas vezes, na Volta a França e no pódio”.

Depois de terminarem os Jogos Olímpicos, o local vai ser alvo de uma renovação. Algo que será difícil, explicou Estienne, devido ao valor histórico do velódromo e especialmente das bancadas. No entanto, Vincennes quer fazer o esforço de melhorar as condições dos clubes locais.

Stade de Pershing e La Cipale, na zona do bosque de Vincennes, no sul de Paris: dois locais onde o desporto e a história andam de mão dada.

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