Líbia vive caos 13 anos depois da queda de Kadafi, mas há uma empresa lusa a fazer negócios

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Mas em 2018, o cenário era diferente para a empresa sediada na Bobadela, distrito de Lisboa. Com uma dívida bancária de 13 milhões de euros, a empresa entra em Processo Especial de Revitalização (PER).

“Chégamos a um ponto com um índice de dívida bancária muito alto. Nunca tivemos dívidas nem a fornecedores, nem a trabalhadores, nem à Segurança Social, nem ao fisco. Portanto, vimo-nos obrigados a passar por esse calvário”, afirma, revelando que a dívida recuou desde então para os nove milhões de euros.

A empresa chegou este ano a um acordo extrajudicial com os credores, que substitui o PER inicial, aligeirando o custo da dívida. “Isto permitiu-nos aligeirar bastante a pressão sobre a empresa. O serviço da dívida está muito mais aligeirado neste momento. A empresa tem a perfeita capacidade para o cumprir. Estou convencido que vamos amortizar o PER muito antes do seu término: dentro de três a quatro anos”.

“O único senão do PER é que eu não posso retirar dividendos da empresa, mas isso não me preocupa, a empresa é minha. E os dividendos que vamos acumulando permite-nos amortizar mais cedo a dívida”, acrescentou.

O empresário destacou o continente africano como um mercado onde a empresa gosta de atuar. “Temos um capital de simpatia. Portugal, enfim, não é uma potência económica, não assusta ninguém com alguma tendência imperialista. Em África temos algum prestígio, porque, quer nos países francófonos, quer nos anglófonos, eles têm boas relações com as antigas potências colonizadoras. Mas quando aparece alguém que oferece os mesmos níveis de confiança fora desse universo, nós somos preferidos. Temos um capital de simpatia em África que não é negligenciável. No Burundi, normalmente compravam tudo à Bélgica…”.

Os equipamentos são produzidos numa fábrica em Braga, com quem a Resul tem “há 42 anos, uma ligação muito forte. É uma fábrica altamente tecnológica. Exporta bastante para o mercado da subcontratação e para o mercado elétrico. Somos os distribuidores exclusivos”.

A empresa também tem contratos nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP):  “somos o fornecedor mais antigo das eléctricas de Cabo Verde, de Angola, de Moçambique e de São Tomé. Temos uma tradição e uma credibilidade acumulada”.

Em relação a Angola, o gestor aponta que há grande projetos de eletrificação no país, mas que são “financiados pelos americanos e pelos alemães. Aí não chegamos, porque os produtos têm de ser comprados na origem”.

Sobre Cabo Verde, destaca que o país está a fazer um “esforço imenso de eletrificação” que está “quase todo conseguido”. “Mas têm uma necessidade de reparação e de reposição de redes muito grande, como acontece nos Açores, porque a duração das redes elétricas nesses países insulares é muito menor do que em países tipo continental por causa da corrosão marítima e da salinidade”.

Nos Açores, a empresa já criou “alguns acessórios especiais feitos em aço inox, o que torna esta rede muito mais cara, cuja duração é muito inferior. Uma rede de distribuição eléctrica de baixa tensão em Portugal terá uma duração de 25 anos; nos Açores, chega a ter 10 anos”.

A empresa faturou 12,7 milhões de euros em 2023 e prevê fechar 2024 com 14 milhões, com um crescimento nas vendas. “Acho que vamos ultrapassar. Sou muito otimista, mas para aquilo que está em carteira está certo. O maior crescimento virá de exportação para África. O nosso grande universo de exportação será sempre África”.

A companhia também desenvolveu uma unidade para criar projetos solares fotovoltaicos de autoconsumo e já concluiu projetos em Cabo Verde e Espanha.

Internamente, destaca um concurso do grupo EDP (E-Redes) no valor de nove milhões de euros, distribuído por três anos. “Para já, isto assegura-nos três milhões de faturação no mercado interno”.

Na América Latina, diz que a empresa não pode vender “porque a tecnologia de rede da América Latina não tem nada a ver com europeia, é uma tecnologia de rede americana, os produtos não são compatíveis”, à exceção de um pequeno país para onde já vendeu: “no Suriname,  como foi uma colónia holandesa, toda a tecnologia de rede ali instalada é europeia”.

O empresário defende uma mudança nas regras do PER, considerando que “como está legislado, não é verdadeiramente um instrumento de recuperação de empresas. Antes pelo contrário, cria um estigma que depois torna difícil às empresas superá-lo. No nosso caso, o âmbito da dívida era restrito e foi fácil negociar. Tivemos o acordo dos credores porque provámos a viabilidade da empresa”.

E defende mesmo uma “desburocratização do processo”: “porque é que tem de passar por um tribunal, se os credores e eu chegamos a um acordo? Porque é que tem de haver a nomeação de um gestor judicial? Isto assusta o mercado. Se se chega a um acordo com os credores, só entro em incumprimento se não cumprir no novo acordo. É muito complicado, no primeiro PER perdemos oito meses até que o processo todo fosse desencadeado”.

A Resul vende equipamentos de energia em Portugal e em vários mercados, como Espanha, França, Itália, Angola, Argélia, Benim, Burundi, Cabo Verde, Egipto, Guiné-Equatorial, Guiné-Bissau, Israel, Líbia, Maurícias, Mauritânia, Moçambique, Quénia, São Tomé e Príncipe, Senegal, Tanzânia, Tunísia, Zâmbia, Zimbabwe, Sri Lanka, Suriname e Macau.

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