Lisboa está em risco de perder  identidade

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O El País escreveu um duro artigo sobre o sucesso do turismo em Lisboa e diz que a capital portuguesa perdeu  a sua essência.

As críticas e os lamentos não são novos. Lisboa vai perdendo lojas históricas e habitação. Ganha o turismo e os ganhos, mas a que custo? Por cá, já ouvimos vários alertas de que a economia não deve assentar apenas neste setor mas agora esse problema – que não será para todos, certamente – é divulgado também no país vizinho, Espanha.

O El País escreve um duro artigo que tem como título ‘Lisboa está a morrer de sucesso’. «Tradicional mistura de autenticidade, melancolia, rusticidade e modernidade, a capital portuguesa tornou-se uma Meca do turismo internacional. Mas pagou o preço sob a forma de gentrificação e perda da sua essência», lê-se logo no início do texto onde defende que os tuk tuk são o símbolo de Lisboa.

As críticas continuam com o jornal espanhol a usar frases como «e assim, sem perceber, Lisboa entrou no clube das cidades carismáticas que só fazem felizes os visitantes» ou que em seis bairros históricos – Castelo, Mouraria, Alfama, Chiado, Sé e Baixa –, 30% da população foi perdida desde 2013 e 60% das casas foram destinadas ao uso turístico. «O coração de Lisboa perdeu vida local e agora só oferece negócios», lê-se na publicação.

A dependência do turismo não é assim tão bem vista por todos. E pode ajudar a perder a identidade das cidades. Paulo Monteiro Rosa, economista do Banco Carregosa, já tinha dito ao i que «uma economia deve especializar-se, mas é fundamental diversificar», lembrando que o setor do turismo pesa já cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB= português, «um valor relativamente elevado». Mas o economista não tem dúvidas que o turismo é «uma ajuda crucial» para a economia portuguesa. Mas deixou alertas, defendendo que «urge diversificar a economia nacional e enveredar gradualmente por setores de elevado valor acrescentado». Caso isso não aconteça, «perante uma recessão e diminuição do rendimento disponível, o setor do turismo é prontamente um dos mais afetados, pois trata-se de consumo discricionário. A pandemia foi um aviso cabal de que a economia portuguesa não pode estar demasiadamente dependente de um só setor, sobretudo do turismo».

Por outro lado, ao Nascer do SOL, Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, já tinha dito em entrevista que «o caminho tem sido o crescimento em valor e esse é um objetivo para o futuro. Mas naturalmente entendemos que temos de fazer uma gestão cada vez mais inteligente daquilo que são as cidades e daquilo que são os territórios», explicou. «Se olharmos para Lisboa ou Porto como eram há 15 anos, percebemos com manifesta evidência que não tinham capacidade de ter os fluxos turísticos que hoje têm, porque as próprias cidades cresceram, modernizaram-se, qualificaram-se, reabilitaram-se e muito por força do turismo. Agora, temos de olhar para as cidades e perceber os problemas que existem para os resolver. Mas é preciso de uma vez por todas perceber que o turismo é uma atividade económica e enquanto atividade económica, o fim último é melhorar a vida das pessoas. Existem determinados sítios com pressão? Existem. Então temos de gerir de forma mais inteligente os espaços», disse. E não tem dúvidas que o turismo «tem sido bom para as pessoas».

Turismo de Lisboa em números

É inegável dizer que o turismo é uma das maiores contribuições para  a economia portuguesa. Talvez a maior. E se o é assim por todo o país, em Lisboa não é exceção. Os dados mais recentes disponíveis no site do Turismo de Lisboa mostram que, no mês de março, a região de Lisboa apresentou aumentos acumulados de 5% em hóspedes, 4,7% em dormidas e 14,5% em proveitos globais quando comparado com o mesmo mês do ano anterior.

Olhando para o primeiro trimestre do ano, Lisboa fecha com uma evolução positiva dos indicadores da atividade turística em comparação com o período homólogo de 2023. Apesar de o mercado interno apresentar quebras (-3% de hóspedes e -3,7% de dormidas), «estas melhoram face aos dois meses anteriores, e são compensadas pelos aumentos nos mercados externos: 8,6% de hóspedes e 7,3% de dormidas».

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