Literacia financeira dos alunos portugueses caiu ainda mais

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A notícia menos má é que a queda está em linha com os países da OCDE – um fraco consolo face aos números evidenciados pela avaliação de 2018.

O PISA (Programme for International Student Assessment), desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), avalia a preparação dos alunos de 15 anos para enfrentarem os desafios da vida quotidiana. A OCDE divulga esta quinta-feira os resultados da avaliação da literacia financeira dos alunos de 15 anos no ciclo de 2022, que é um domínio opcional no qual Portugal participou em 2022 e em 2018.

Segundo o Ministério da Educação, “o PISA 2022 avalia a literacia financeira definida como o conhecimento e a compreensão de conceitos e de riscos financeiros, bem como as competências e as atitudes mobilizadas na aplicação desse conhecimento, a fim de tomar decisões eficazes, no âmbito de vários contextos de natureza financeira. Este conceito está organizado em torno dos conteúdos, processos e contextos que são relevantes para a avaliação dos conhecimentos e competências financeiras que os alunos aprendem dentro e fora da escola”.

Os alunos portugueses têm um desempenho em literacia financeira de 494 pontos, estatisticamente em linha com a média dos 14 países da OCDE que participaram neste domínio (498 pontos).

Portugal encontra-se em nono lugar no ranking dos 20 países/economias participantes e, no conjunto dos 11 países da União Europeia, é o sétimo país com desempenho mais elevado (Comunidade Flamenga da Bélgica – que não é um país) 527 pontos; Dinamarca 521; Países Baixos 517; Chéquia 507, Áustria 506, Polónia 506).

Cerca de 84,5% dos alunos portugueses atingem o nível básico de literacia financeira (82,1% na OCDE). Os restantes 15,5% são considerados ‘low performers’, conseguindo, na melhor das hipóteses, reconhecer a diferença entre necessidades e desejos, tomar decisões simples sobre os gastos diários e reconhecer a finalidade dos documentos financeiros diários, como uma fatura. No oposto, 6,6% têm um nível de proficiência elevado (‘top performers’, 10,6% na OCDE), conseguindo aplicar uma ampla variedade de termos e conceitos financeiros, analisar produtos financeiros complexos e resolver problemas financeiros não rotineiros, “que provavelmente só virão a ter relevância na sua vida adulta”.

O relatório avança ainda que, em 2022, as diferenças no desempenho dos alunos portugueses por sexo, por estatuto imigrante e por estatuto socioeconómico acompanham o padrão da média da OCDE. Os rapazes têm melhor desempenho em literacia financeira do que as raparigas (diferença de oito pontos em Portugal e cinco na OCDE), os alunos imigrantes pontuaram abaixo dos alunos não imigrantes (diferença de 26 pontos em Portugal e 31 na OCDE) e os alunos de contextos socioeconómicos favorecidos têm melhor desempenho do que os de contextos desfavorecidos (diferença de 74 pontos em Portugal e 87 na OCDE). Tal como o desempenho dos alunos nos domínios principais avaliados no PISA 2022 – matemática, leitura e ciências –, o estatuto socioeconómico dos alunos é um forte preditor do desempenho em literacia financeira.

Os alunos portugueses de 15 anos estão ao nível da média da OCDE no que diz respeito a práticas financeiras responsáveis: 91% dos alunos afirmam verificar o troco que recebem e 93% poupam dinheiro em casa, pelo menos uma vez por ano. Em relação à utilização de produtos financeiros, a percentagem de alunos portugueses com conta bancária diminuiu de 2018 para 2022 (45% vs. 38%), mas, em 2022, mais alunos portugueses afirmaram ter um cartão de débito (27%). “Estes valores estão substancialmente abaixo da média dos países da OCDE, onde 63% dos alunos têm conta bancária e 62% têm cartão de débito. Em comparação com a média dos países da OCDE, os alunos portugueses realizam atividades financeiras digitais com menos frequência e sentem[1]se menos confiantes na utilização de serviços financeiros digitais”.

Em 2022, o desempenho dos alunos portugueses em literacia financeira diminuiu 11 pontos face a 2018. Tendo em conta a forte correlação entre o desempenho a literacia financeira e a matemática e leitura, a queda acompanha a verificada nos domínios principais do PISA (-20 pontos em matemática, -15 pontos em leitura e menos oito pontos em ciências). À semelhança do que ocorreu nesses domínios, a queda em Portugal em literacia financeira foi superior à verificada na média dos países da OCDE que participaram no módulo de literacia financeira nos ciclos de 2018 e 2022, que se fixou em cinco pontos (sem significância estatística). Este resultado médio esconde variações em sentido contrário: enquanto o desempenho aumentou de forma significativa no Peru (+10 pontos) e em Itália (mais sete), caiu com significância estatística na Polónia (-14 pontos) e em Portugal (-11 pontos).

A queda do desempenho dos alunos portugueses entre 2018 e 2022 ocorreu de forma transversal na distribuição do desempenho, foi superior para raparigas comparativamente a rapazes (-15 e -8 pontos, respetivamente) e verificou-se de forma mais acentuada em alunos de contextos socioeconómicos favorecidos. A percentagem de low performers aumentou de 14% para 15,5% e a percentagem de top performers diminuiu de 8% para 6,6%.

Para o Ministério, “a literacia financeira é uma das competências relevantes para a melhoria do bem-estar financeiro dos indivíduos e da sociedade e para viabilizar a participação na vida económica, tendo implicações ao longo de toda a vida dos jovens. A sua melhoria é pertinente à luz dos consecutivos estudos internacionais que colocam a população portuguesa com baixos níveis de literacia financeira e da maior complexificação dos sistemas e produtos financeiros. Em Portugal, a literacia financeira integra a disciplina Cidadania e Desenvolvimento, fazendo parte do conjunto de módulos obrigatórios em pelo menos dois dos três ciclos do ensino básico”.

No PISA 2022, 30% dos alunos portugueses afirmam que tiveram contacto com atividades de literacia financeira nas aulas de Cidadania. No geral, os alunos portugueses têm um contacto menos frequente com atividades e tarefas de literacia financeira na escola do que a média dos alunos dos países da OCDE. Apenas os de Itália e da Comunidade Flamenga na Bélgica têm indicadores inferiores aos dos alunos portugueses.

Dos 20 países participantes no módulo de literacia financeira PISA 2022, 15, incluindo Portugal, implementam uma estratégia nacional de literacia financeira. O Plano Nacional de Educação Financeira, coordenado pelos supervisores financeiros (Banco de Portugal, Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões), iniciou-se em 2012 com o objetivo de melhorar o nível de literacia financeira dos portugueses.

“Desde o início, os supervisores consideraram as escolas e os alunos como público-alvo prioritário, tendo celebrado protocolos com a Direção Geral da Educação. O Plano desenvolveu um referencial de competências essenciais para a educação financeira, formação de professores e materiais didáticos”.

Tendo em conta os resultados em literacia financeira do PISA 2022 para Portugal, é necessário refletir e atuar sobre como melhorar a literacia financeira dos alunos e em como a escola, como garante de igualdade de oportunidades, pode contribuir para essa formação, concluiu o Ministério.

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