Lula diz que não se pode "naturalizar" 730 milhões de pessoas a passarem fome

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"Naturalizar a fome de 730 milhões de pessoas seria vergonhoso. Voltar atrás em nossos compromissos é colocar em xeque tudo o que construímos tão arduamente", afirmou Lula da Silva, ao intervir na "Cimeira do Futuro", na sede das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, evento projetado pelo secretário-geral da organização em 2021 e apresentado como uma "oportunidade única" para mudar o curso da história.

"Outras ideias não saíram do papel. Temos duas grandes responsabilidades perante aqueles que nos sucederão. A primeira é nunca retroceder. Não podemos recuar na promoção da igualdade de género, nem na luta contra o racismo e todas as formas de discriminação. Tão pouco podemos voltar a conviver com ameaças nucleares, é inaceitável", apelou o chefe de Estado brasileiro.

Na sua intervenção na cimeira, que pretende revigorar e restaurar a confiança no multilateralismo, Lula da Silva reconheceu que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável "foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos".

Contudo, assumiu, a iniciativa "caminha para se tornar o maior fracasso coletivo": "No ritmo atual de implementação apenas diversos 17% das metas da Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo. Na presidência do G20, o Brasil lançará uma aliança global contra a fome e a pobreza, para acelerar a superação desses flagelos".

Lula da Silva recordou que na última Cimeira do Clima (COP28) "o mundo realizou um balanço global da implementação das metas do Acordo de Paris", assumindo que "os níveis atuais de redução de emissões de gases de efeito estufa e financiamento climático são insuficientes para manter o planeta seguro".

"Em parceria com o secretário-geral [da ONU], como preparação para a COP30, vamos trabalhar por um balanço ético global, reunindo diversos setores da sociedade civil para pensar a ação climática sobre o prisma da justiça, da equidade e da solidariedade", garantiu Lula da Silva.

A "segunda responsabilidade" elencada pelo Presidente do Brasil visou a "responsabilidade comum" de "abrir caminhos diante dos novos riscos e oportunidades".

"O Pacto para o Futuro [adotado minutos antes nesta cimeira] aponta a direção a seguir. O documento trata de forma inédita temas importantes como a dívida de países em desenvolvimento e a tributação Internacional. A criação de uma instância de diálogo entre os chefes de Estado e de Governo e líderes de instituições financeiras internacionais promete recolocar a ONU no centro do debate económico mundial", assumiu.

Os Estados-membros da ONU comprometeram-se hoje a traçar "um futuro melhor" para a humanidade afetada pelas guerras, pela pobreza e pelo aquecimento global, apesar da oposição de alguns países, incluindo da Rússia, à adoção do "Pacto para o Futuro".

Depois de duras negociações até ao último minuto, a Rússia manifestou hoje a sua oposição ao texto do acordo, sem, no entanto, impedir a sua adoção por consenso, antes da sessão de abertura da "Cimeira do Futuro".

O "Pacto Global Digital", também a adotar nesta cimeira, reconheceu Lula da Silva, "é um ponto de partida para uma governança digital inclusiva que reduza as assimetrias e uma economia baseada em dados e mitiga o impacto de novas tecnologias, como a inteligência artificial".

"Todos estes avanços serão louváveis e significativos, mas, ainda assim, falta ambição e ousadia. A crise da governança global requer transformações estruturais. A pandemia, os conflitos na Europa e no Médio Oriente, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações das instâncias multilaterais", criticou.

Segundo Lula da Silva, a "maioria dos órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões", a Assembleia Geral das Nações Unidas "perdeu sua vitalidade", enquanto a "legitimidade" do Conselho de Segurança "encolhe a cada vez" que "aplica duplos padrões" nas suas decisões.

Além de declarações de Estados-Membros da ONU, a "Cimeira do Futuro" contará igualmente com diálogos interativos sobre temas como transformar a governança global e impulsionar a implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável; ou reforçar o multilateralismo para a paz e a segurança internacionais.

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