Mais de 45 mil espécies de animais e vegetais estão em risco de extinção

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Mais de 45 mil espécies estão em risco de extinção atualmente. A atualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas divulgada pela UICN esta quinta-feira inclui dados de 163.040 espécies animais e vegetais — mais 6.000 do que no ano passado - das quais 45.321 estão ameaçadas de extinção. Com o número número, o Barómetro da Vida ultrapassa o seu objetivo que era de avaliar 160 mil espécies.

Contudo, as más notícias não atingem todas as espécies: o lince ibérico passou de Ameaçado para Vulnerável na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, continuando a recuperação de uma situação de quase extinção graças aos esforços de conservação.

Os cactos Copiapoa, do deserto de Atacama, no Chile, o elefante de Bornéu, no Brunei, e o lagarto gigante da Gran Canária, em Espanha, estão entre as espécies mais ameaçadas, segundo a IUCN.

O elefante de Bornéu, por exemplo, foi um dos animais considerado como estando "Em Perigo de extinção", devido a ameaças de atividades humanas. Estima-se que, na natureza, sobrevivem apenas cerca de 1.000 destes animais.

Além destes elefantes, também as cobras invasoras estão a levar os répteis endémicos das Ilhas Canárias e de Ibiza à extinção. Já quanto aos cactos de Copiapoa, do deserto de Atacama, no Chile, também está em risco devido ao comércio ilegal e às alterações climáticas.

Elefante de Bornéu Em Perigo

Atualmente, existem cerca de 1.000 elefantes do Bornéu em estado selvagem. A população diminuiu nos últimos 75 anos, principalmente devido à desflorestação extensiva nas florestas do Bornéu, que destruiu grande parte do seu habitat.

De acordo com o relatório do UINC, devido ao crescimento da população humana em Sabah, os elefantes foram obrigados a aceder a zonas dominadas pelo homem em busca de alimentos, podendo também causar danos às culturas e serem alvos de abate por retaliação.

"A perda de habitat, combinada com o conflito entre as pessoas e a vida selvagem, continua a representar uma ameaça tanto para a vida selvagem como para as comunidades que vivem ao seu lado - e este facto foi sublinhado pela avaliação dos elefantes asiáticos do Bornéu como ameaçados de extinção", afirmou Mike Hoffmann, diretor de recuperação da Vida Selvagem da ZSL.

Hoffmann destaca ainda a necessidade de trabalhar com as comunidades locais para "compreender os desafios que enfrentam e apoiá-las" para que possam "coexistir pacificamente com a vida selvagem".

O relatório acrescenta ainda que, a agricultura (especialmente a extração do óleo de palma), as plantações de madeira, a exploração mineira e projetos de infraestruturas também ameaçam habitats destes elefantes de Bornéu. Mas, além das ameaças ao habitat, a caça furtiva para tráfico de marfim, a ingestão acidental de produtos agroquímicos e as colisões de veículos são também motivos de preocupação.

"Esta última atualização da Lista Vermelha da IUCN inclui milhares de avaliações de árvores, incluindo muitas espécies nativas do Bornéu. A diversidade de espécies de árvores existentes no Bornéu proporciona habitats vitais para aves e mamíferos, mas muitas estão ameaçadas de extinção", afirmou Kathryn Fowler, responsável pela conservação do Botanic Gardens Conservation International.

Répteis na Gran Canaria e em Ibiza ameaçadas por cobras invasoras

As espécies de répteis da Gran Canaria estão a diminuir significativamente devido a cobras invasoras.

A lagartixa gigante da Gran Canaria (Gallotia stehlini) passou de "Menos Preocupante" para "Criticamente em Perigo" e a doninha da Gran Canaria (Chalcides sexlineatus) de "Menos Preocupante" para "Em Perigo".

Estes animais são presas de uma espécie invasora: a cobra-rei da Califórnia (Lampropeltis californiae), que foi introduzida na ilha em 1998. O número de lagartixas gigantes e de lagartos da Gran Canaria diminuíram em mais de metade desde 2014.

A lagartixa de parede de Ibiza (Podarcis pityusensis) passou de "Quase Ameaçada" para "Em Perigo", tendo a sua população diminuído 50% desde 2010 devido a outra cobra invasora.

Cactos Copiapoa são cobiçados como plantas decorativas

Cerca de 82% das espécies de cactos Copiapoa, do deserto de Atacama, no Chile, estão atualmente em risco de extinção. Em 2013, eram cerca de 55%.

Estes catos, endémicos do deserto costeiro de Atacama, tornaram-se numa moda como plantas decorativas na Europa e na Ásia, o que gerou um aumento do comércio ilegal, segundo o UICN, também motivado pelas redes sociais, onde estas plantas são muitas vezes exibidas. Os contrabandistas também passaram a ter um acesso mais fácil ao habitat destas plantas devido à expansão de estradas e à construção de habitações na zona.

"Os cactos e as suculentas de todo o mundo têm atualmente uma procura excecionalmente elevada como espécies ornamentais, o que agrava as ameaças contínuas das alterações do coberto vegetal e das pressões relacionadas com o clima", afirmou o Dr. Steven Bachman, líder de investigação - Avaliação e Análise da Conservação no Royal Botanic Gardens, Kew.

Além do comércio ilegal, os cactos também são ameaçados pelas alterações climáticas, já que o nevoeiro oceânico de que necessitam para se hidratarem se desloca com as alterações da temperatura global.

Para o UICN, o cultivo da copiapoa em estufas pode ser uma alternativa sustentável para o fornecimento de cactos ao mercado mundial.

"Como mostra a atualização da Lista Vermelha, a biodiversidade enfrenta pressões crescentes, desde a caça furtiva, às alterações climáticas e à propagação de espécies invasoras. Felizmente, a Lista Vermelha também aponta soluções. Com uma ação de conservação sustentada, colaborativa e baseada na ciência a uma escala suficiente, podemos retirar as espécies do limiar da extinção", afirmou a Dra. Grethel Aguilar, diretora-geral da UICN.

Lince ibérico passou de Ameaçado para Vulnerável

Depois de estar perto da extinção, o número de linces ibéricos adultos multiplicou-se por dez neste século e deixou de estar classificado como "em risco" passando a espécie "vulnerável".

A UICN lembra os esforços de conservação que permitiram recuperar o lince ibérico depois de estar perto da extinção.

"Os esforços de conservação permitiram recuperar esta espécie depois de estar perto da extinção, com um aumento exponencial da sua população que passou de 62 espécimes adultos em 2001 para 648 em 2022", destaca a UICN.

De acordo com a organização, a população total do lince ibérico (Lynx pardinus), incluindo jovens e adultos, é agora estimada em mais de 2.000 exemplares.

Desde 2010, mais de 400 linces ibéricos foram reintroduzidos em partes de Portugal e Espanha e o animal ocupa agora pelo menos 3.320 quilómetros quadrados, contra 449 quilómetros quadrados em 2005. De acordo com o Censo 2023 do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), existem em Portugal 191 exemplares de lince ibérico.

Um lista "encorajadora e desanimadora"

Para Anne Bowser, diretora executiva da NatureServe, esta atualização da Lista Vermelha é, "simultaneamente, encorajadora e desanimadora".

"Realça o papel fundamental da avaliação científica do estado para informar as prioridades e ações de conservação. Esta atualização recorda-nos que os levantamentos e inventários no terreno, quer com os tradicionais binóculos ou redes de borboletas, quer utilizando ADN ambiental de última geração ou monitores acústicos autónomos, continuam a ser os alicerces de uma ação de conservação eficaz", afirmou.

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