Melhoria das qualificações dos pais das novas gerações foi fator chave para desempenho no PISA

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Estudo da Nova SBE, apresentado esta segunda-feira pelo EDULOG revela um futuro muito incerto. Antes da pandemia já havia sinais de declínio no desempenho dos alunos de 15 anos em Portugal e a pouca evidência que existe sugere que não tem havido recuperação do atraso nas aprendizagens.

No estudo internacional PISA (Programme for International Student Assessment), Portugal começou em 2000 como um dos países com piores desempenhos, mas ao fim de 15 anos conseguiu atingir a média dos países da OCDE. Isto foi possível graças a uma melhoria generalizada do desempenho dos alunos de diferentes contextos socioeconómicos.

Mas e se os pais dos alunos em Portugal não tivessem aumentado a sua formação académica desde 2003, como teriam evoluído as pontuações médias dos estudantes no PISA? Este cenário alternativo foi explorado pelos investigadores Luís Catela Nunes, professor da Nova SBE e membro do Conselho Consultivo do EDULOG, e Pedro Freitas e Ricardo Colaço, investigadores nesta universidade. As conclusões do estudo ‘tendências no desempenho dos estudantes em Portugal: o que nos dizem os dados?’ foram apresentadas esta segunda-feira pelo EDULOG, o think-tank para a educação da Fundação Belmiro de Azevedo, no âmbito da sua conferência internacional.

O estudo, feito com base nos dados do PISA, faz uma análise sobre a evolução do desempenho dos estudantes em Portugal na faixa etária dos 15 anos ao longo dos últimos 20 anos, nas áreas da matemática, leitura e ciências.

“A conclusão a que se chegou foi que a melhoria gradual no desempenho que se verificou até à última avaliação antes da pandemia, em 2018, teria terminado muito antes”. A matemática, o período de melhorias significativas teria durado apenas até 2009.

O estudo também conclui que, depois de 2012, foi a grande melhoria das qualificações dos pais das novas gerações de alunos que permitiu a Portugal manter-se alinhado com a média da OCDE.

Os resultados mostram ainda que as raparigas têm resultados mais elevados do que os rapazes na leitura, destacando-se estes mais na matemática. Já na área das ciências não se verificam diferenças significativas em termos de género.

São apontadas também grandes diferenças entre o desempenho dos alunos dos cursos científico-humanísticos e os do ensino profissional, sendo que os primeiros registam pontuações médias mais elevadas. Já em relação ao desempenho de alunos a frequentar o ensino público e o ensino privado, a partir de 2018 as pontuações médias são praticamente idênticas. Tal é explicado pela recente expansão de cursos profissionais nas escolas privadas. Como o estudo constata, nos cursos científico-humanísticos, as médias dos alunos no ensino privado mantiveram-se sempre muito acima das dos alunos no ensino público.

Uma conclusão importante é que alunos de contextos socioeconómicos menos favorecidos têm melhor desempenho em Portugal do que alunos de contextos semelhantes noutros países da OCDE. No entanto, tal como noutros países, existe um fosso no desempenho entre os estudantes de contextos mais favorecidos e os de contextos menos favorecidos. O mesmo acontece quando se comparam os desempenhos dos alunos de pais com diferentes níveis de habilitação académica. O estudo indica que o desempenho médio de Portugal tem uma dificuldade acrescida em se destacar para além da média da OCDE pelo facto de ser um dos países com maior percentagem de alunos desfavorecidos (12%), a par de países como como a Colômbia e o México (12%), ou o Chile (10%), sendo apenas superado pela Turquia (36%).

Em 2022, após a pandemia, os resultados caíram substancialmente, ligeiramente mais do que a média da OCDE, recuando para níveis de há 13 anos. No entanto, o estudo mostra que, já antes da pandemia, havia sinais de uma queda no desempenho de alunos de diferentes contextos.

O estudo termina com uma análise de cenários alternativos para o desempenho de Portugal no PISA em 2025. A tendência de melhoria das habilitações académicas dos pais dos alunos será um fator positivo para a evolução do desempenho de Portugal no PISA. No entanto, conclui que as perspetivas para o futuro são muito incertas. Tal deve-se a uma falta de conhecimento sobre a recuperação dos atrasos nas aprendizagens no pós-pandemia.

Um dos cenários considerados assume que em 2025 ainda não haverá uma recuperação do atraso dos alunos que irão ter 15 anos, sendo tal cenário consistente com os resultados de um estudo do IAVE sobre o plano de recuperação das aprendizagens de 2021 a 2023.

Nesse cenário, haveria uma pequena melhoria do desempenho de Portugal no PISA, mas que seria insuficiente para chegar aos níveis de desempenho atingidos 16 anos antes, em 2019. Segundo Luís Catela Nunes, “as perspetivas para o futuro revelam muitos desafios e incertezas, desde a recuperação das aprendizagens dos alunos à escassez dos professores. A solução para um futuro de sucesso passa por políticas públicas mais eficazes que permitam que o sistema educativo se consiga adaptar a contextos diferenciados e em constante mudança”.

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