Metade dos portugueses “sentem-se ansiosos com as suas finanças pessoais”;

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O primeiro estudo sobre Bem-Estar Financeiro em Portugal não é animador, afirma um dos responsáveis que ajudou a dar forma ao trabalho desenvolvido pelo Doutor Finanças, uma empresa especializada em finanças pessoais e familiares.

Lourenço Reis, fundador da Laicos, que apresentou o estudo, no auditório do INE na Faculdade Nova em Lisboa, referiu que "64% dos portugueses tem um baixo conhecimento financeiro e quase metade dos portugueses não tem um fundo de emergência que dure mais de três meses se for confrontado com uma perda de rendimento, por exemplo, o desemprego de um familiar do agregado.

Para Rui Barradas, presidente da plataforma Doutor Finanças que conta com mais de 200 especialistas, o Bem-Estar Financeiro tem uma influência profunda na saúde mental e desta vez este conceito incide não só sobre “o bem estar, o corpo e a mente mas também sobre a carteira”.

Entre as várias questões colocadas que deram origem a várias conclusões que para o professor Catedrático, Mário Ferreira, diretor do Conselho de Escola da Faculdade de Psicologia da Universidade Nova de Lisboa, são “um ponto de partida e não de chegada”, destaca o facto de “27% das famílias portuguesas se identificar como estando em situação de sobreendividamento”. Referindo que estas pessoas sentem-se, normalmente “abandonadas”.

E sublinha que “as preocupações de ‘stress’ e exigências cognitivas decorrentes de se viver sobre endividado criam um risco acrescido de esgotamento da nossa capacidade de autorregulação”, que por um lado leva a piores decisões, agravando as consequências adversas da escassez na qualidade de vida".

O sobreendividamento está associado “a comportamentos de consumo descuidados e imprudência financeira” e contribui para piorar o estigma social e preconceito, o que conduz, na maioria dos casos a uma “maior pressão sobre as condições da vida das pessoas”.

Uma bola de neve que muitas vezes leva a um endividamento crescente e a impulsos de consumo desajustados.

Entre as várias conclusões do estudo pode dizer-se que 53% dos portugueses não sabe avaliar o nível de risco de investir em ações ou fundos, e que o nível de conhecimento financeiro em Portugal está atrás do nível da Alemanha de há 15 anos a esta parte. Na Alemanha 62% tem conhecimento, em Portugal apenas 36%.

É ainda analisado o facto de metade dos portugueses - tendo como base para a extrapolação a amostra do estudo - se sentir ansioso e culpado quando pensa sobre as suas finanças pessoais.

Entre as conclusões é referido que o sexo feminino, com menor rendimento e menos escolaridade, tem menos bem-estar financeiro, maior ansiedade financeira e menor conhecimento.

70% dos portugueses diz que tem poupanças mas, quando aprofundado, verifica-se que, em caso de perda de rendimento, estas são apenas suficientes ”para cobrir despesas durante três meses”.

No estudo com cerca de 100 páginas, conclui-se ainda que o Bem-Estar Financeiro assume um papel fundamental na vida das pessoas, mas este não está diretamente associado ao nível dos rendimentos.

Os responsáveis do estudo, quando questionados pelo Expresso, referem que a sua análise não se focou no facto de em Portugal o vencimento médio ser substancialmente inferior a outros países, nomeadamente Espanha, muito embora o rendimento mais alto esteja associado a maiores níveis de Bem-estar Financeiro.

Outra das conclusões interessantes reside no facto de “o conhecimento ser uma condição necessária, mas não suficiente para alcançar um maior bem-estar financeiro”. Segundo os especialistas e as respostas dadas, o comportamento e as atitudes são uma das ferramentas que podem levar a um maior bem-estar, quando se desviam de gastos desnecessários e orientam-se na necessidade de poupança.

A amostra do estudo tem respostas de 800 pessoas com nacionalidade portuguesa e a residir em Portugal entre os 18 e os 75 anos. O cálculo da amostra teve em conta um intervalo de confiança equivalente de 95%, com uma margem de erro de 3,5%.

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