Moçambique. MSF suspende atividades em Macomia após ter sido saqueada em ataque

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"Durante o ataque, as instalações de MSF foram saqueadas. Todos os profissionais de MSF encontram-se em segurança. No entanto, medicamentos, equipamentos médicos e carros foram roubados", refere a ONG em comunicado, no qual "condena o uso da violência contra a sua missão médica"

A MSF refere estar "extremamente preocupada com o uso indevido de equipamentos e materiais identificados como de MSF e a perceção errada que isso pode criar nas comunidades" da província de Cabo Delgado.

"O ataque forçou a organização a suspender todas as suas atividades em Macomia. No entanto, a MSF continua empenhada em oferecer cuidados médicos nos seus outros projetos em Cabo Delgado", lê-se no comunicado.

A ONG acrescenta que a população de Cabo Delgado, "uma das províncias mais pobres de Moçambique, sofre com a violência há mais de seis anos" e que o recente ataque a Macomia "reduziu ainda mais o acesso das pessoas aos cuidados de saúde".

"A MSF prestava serviços de saúde primários e atividades que salvavam vidas na sua maternidade e unidade de emergência, para uma população de mais de 150.000 pessoas. As equipas da MSF asseguravam igualmente o encaminhamento de pacientes para o hospital mais próximo, em Pemba, a três horas de carro em uma zona de conflito", sublinha a ONG.

A MSF recorda que presta cuidados médicos e assistência humanitária à população de Moçambique há 40 anos, "respondendo a desastres naturais, conflitos e epidemias", estando atualmente presente, ainda, nas províncias de Nampula e Sofala.

O ataque de grupos insurgentes à vila de Macomia, um dos maiores dos últimos meses no norte de Moçambique, palco de uma insurgência armada, provocou de 10 a 14 de maio quase 1.500 deslocados, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), além de relatos da população sobre saque e pilhagem de lojas e outras ONG.

De acordo com o mais recente relatório daquela agência do sistema das Nações Unidas, que a Lusa noticiou anteriormente, os "ataques e receios de ataques" por parte destes grupos armados levaram à fuga de mais de 530 famílias de Macomia, totalizando 1.461 pessoas registadas pela OIM nos locais de destino, sendo mais de metade (57%) crianças.

O Ministério da Defesa Nacional confirmou em 10 de maio este "ataque terrorista", garantindo que um dos líderes do grupo foi ferido pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e outro morto.

Posteriormente, fontes locais consultadas pela Lusa confirmaram que pelo menos cinco corpos foram encontrados no regresso da população à vila de Macomia, após a saída dos grupos insurgentes da localidade -- segundo alguns relatos com cerca de 100 homens -, mais de 24 horas depois.

Os ataques levaram ainda à pilhagem das lojas da vila, tendo os insurgentes levado igualmente viaturas e motorizadas.

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, já tinha confirmado, ao final da manhã do mesmo dia, este ataque à sede distrital de Macomia, explicando que aconteceu numa zona antes controlada pelos militares da missão dos países da África austral, que está em progressiva retirada até julho.

"É verdade que é uma zona ocupada pelos nossos irmãos que nos apoiam, em retirada. Mas os que estão no terreno são 100% os moçambicanos. Talvez possa haver um reforço (...). Como estão de saída, espero que consigamos nos organizar melhor, porque o tempo de transição dá isso", reconheceu, enaltecendo a intervenção em curso dos militares moçambicanos.

Cabo Delgado enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.

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