Novo Governo
21 mar, 2024 - 20:11 • Susana Madureira Martins
O primeiro-ministro indigitado deverá começar a fazer convites para o novo governo a partir desta sexta-feira e durante os próximos dias. A execução do programa é vista como necessariamente "muito rápida", mas é assumido internamente que levará tempo a ter resultados.
Mal foi indigitado primeiro-ministro, Luís Montenegro voou para Bruxelas para contactos com as presidentes da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu e deverá, só a partir de agora, começar a fazer convites para o novo Governo.
À Renascença, fonte social-democrata garante que "até este momento não houve nenhum convite", o que existiu até agora foram "consultas" e "muita gente a propor uma carteira de sugestões". A partir desta sexta-feira e durante o fim de semana os convites irão, então, começar a ser feitos. "Vai ter de fazer", resume a mesma fonte.
Tal como a Renascença já tinha adiantado, o líder da AD não queria fazer quaisquer convites sem ser indigitado e não terá dado qualquer passo nesse sentido antes do formalismo junto do Presidente da República.
O calendário deverá acelerar e o objetivo é que, a partir da tomada de posse do Governo a 2 de abril, a agenda da AD comece de imediato a ser executada. Junto dos mais próximos do líder do PSD é reconhecido que terá de existir uma agenda "muito ambiciosa" e uma capacidade de execução do programa do Governo "muito rápida".
Fonte social-democrata assume que por mais populares que sejam as medidas do programa de governo, a questão é que levará tempo entre a fase de implementação e a obtenção de resultados, ou seja, a fase em que as medidas chegam ao bolso das pessoas.
Na cúpula do PSD é assumido que conseguir resultados até às eleições europeias de 9 de junho é "impossível" e uma fonte do partido admite mesmo que é "delirante conseguir isso".
A aposta é que a AD consiga fazer passar a impressão junto do eleitorado de que se está a executar com a perspetiva de ter resultados práticos mais ou menos imediatos, ou seja, criar a perceção de que se está a executar. "Mas as coisas não chegam às pessoas numa questão de dois meses", admite-se no PSD.
Um dos desafios considerados imediatos é como responder ao desafio lançado pelo líder do PS, que se disponibilizou para viabilizar um orçamento retificativo. Luís Montenegro já elogiou o "sentido de responsabilidade" de Pedro Nuno Santos, mas não diz se vai a jogo.
A espécie de armadilha montada pelo PS é uma coisa que o futuro governo terá de decidir, mas na direção do PSD o desafio foi visto como algo "tosco" e o entendimento é que será o Governo a tirar benefício das medidas. "Quem é responsável pelo orçamento é o governo, não é quem o aprova", resume fonte social-democrata à Renascença.
Governo com "mix" de experiência e inovação
Nas declarações aos jornalistas que prestou esta quarta-feira em Belém, à saída da primeira audiência com o Presidente da República, Luís Montenegro acentuou que estava ciente de que irá liderar um Governo de "maioria, relativa, não absoluta".
É, por isso, entendimento comum no PSD que o futuro executivo terá de ser de "combate" e com experiência política, como defendeu o ex-líder do partido e conselheiro de Estado, Luís Marques Mendes no habitual espaço de comentário na SIC.
É entendido internamente que o próximo governo terá de ser isso, mas não só. Fonte social-democrata acredita que deverá incluir independentes — "um ou outro deve haver" — embora admita que no desenho do elenco "tem de haver um lado muito político". O ideal, do ponto de vista dos social-democratas é ter um "mix" entre experiência e inovação e capacidade política.
A questão é saber se no atual cenário político, com um governo minoritário dependente dos humores do PS ou do Chega, há quem ainda aceite o convite para ser ministro/a. Curiosamente a questão é colocada ao contrário por um dirigente do PSD: "Quem é que não quer ir nestas condições?"
A tese é que quem aceitar ir para o Governo pode até contar lá estar apenas seis meses e "depois são ex-ministros". Ou seja, no entender desta fonte do PSD, a perspetiva de que este pode ser um governo de duração limitada "vai atrair muita gente" que se disponibiliza para um cargo que "não vai durar muito tempo" e por isso "vale a pena arriscar".
Obviamente que "algumas são afastadas por este cenário" — de eventual curta duração do executivo de Montenegro — "mas outras são atraídas, porque acham que não aguentam quatro anos disto", acredita o mesmo dirigente.
O "puzzle" entre a construção do Governo e as listas para as europeias
Ao mesmo tempo que Luís Montenegro vai fazer convites para os ministérios, no PSD acredita-se que esse processo irá correr "em paralelo" com o da construção da lista às eleições europeias.
O prazo para apresentação das listas no Tribunal Constitucional termina a 29 de abril, mas na direção do PSD há o entendimento que também não é possível entregar os nomes de véspera e que por precaução se trate disso com antecedência.
É, assim, assumido que vai existir "um puzzle". A composição do Governo terá influência na composição da lista para as europeias. E na direção do PSD até se admite que "um ministeriável acabe por ir para as europeias". Ou seja, há "vasos comunicantes" entre os dois processos.
Acredita-se, internamente no PSD, que quando Montenegro começar a fazer convites para o Governo já estará a pensar nas europeias e a guardar nomes que poderão ser trunfos para as eleições de junho. Não é que tenha a lista fechada quando formar o governo, mas poderá já ter quatro ou cinco nomes mais do que fechados.
O trunfo da ida a Bruxelas e a "derrota" de Costa
Voar para Bruxelas para os encontros com Ursula Von der Leyen e Roberta Metsola foi visto como uma jogada do PSD que teve como resultado fazer sombra ao périplo europeu do primeiro-ministro cessante, António Costa, que nos últimos dias se tem multiplicado em contactos.
Há mesmo o entendimento no PSD que foi uma "derrota" para Costa ver Montenegro aparecer em Bruxelas logo após ser indigitado. Estas movimentações do primeiro-ministro cessante são vistas com o objetivo de se promover para um cargo europeu e nota-se entre os social-democratas que nunca aconteceu este tipo de despedidas junto da presidente da Comissão Europeia (CE).
Montenegro foi convidado por Ursula von der Leyen e Roberta Metsola convidou o primeiro-ministro indigitado para ir ao Parlamento Europeu. A reunião com a presidente da CE foi mesmo de trabalho e já serviu para fazer a ligação entre o futuro executivo de Lisboa e o gabinete europeu sobre Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) e o dossiê da Ucrânia. E garantir que "não há razão para colocar em causa a estabilidade do país".
Sobre o PRR, Montenegro aproveitou de imediato para um remoque a António Costa e assumir que quer "recuperar dos atrasos que há na execução" do programa e "incrementar uma capacidade de execução maior do que aquela que Portugal teve nos últimos anos".
Resumindo, em menos de 24 horas, Luís Montenegro foi indigitado primeiro-ministro, voou para Bruxelas para encontros com o Partido Popular Europeu (PPE), com as mais mais altas instâncias europeias, com quem fontes social-democratas garantem que o líder da AD tem "muito boas" relações.