Mourinho e o United: «Há lá jogadores que não queria há cinco ou seis anos»

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Livre de compromissos desde que deixou o comando da AS Roma, José Mourinho - que já admitiu querer regressar ao ativo dentro em breve -, concedeu uma entrevista à publicação inglesa, The Telegraph, na qual abordou vários assuntos relacionados com a sua carreira. Entre os planos no futuro mais próximo, o final de carreira ou a passagem pelo Manchester United, vários foram os assuntos abordados pelo Special One.

«Não é como se tivesse 61 anos e quisesse parar aos 65. De maneira nenhuma. Ainda há uma longa carreira pela frente», começou por dizer: «O que realmente pode fazer a diferença é o quanto o clube me quer, o quanto precisa de uma pessoa e de um treinador com o perfil. E também o sentimento e empatia que posso sentir pela estrutura.»

«A única coisa que quero é que as metas e os objetivos sejam estabelecidos por todos de forma justa. Não posso ir para um clube onde, por causa da minha história, o objetivo seja ganhar o título. Não. A única coisa que quero é que seja justo», admitiu, antes de nova contextualização.

«Acham que se estivesse num grande clube da Premier League e estivéssemos no sexto, sétimo ou oitavo lugar, ainda teria o meu emprego? O que estou a dizer é que as pessoas deviam olhar para mim da mesma forma que olham para os outros. Para mim o importante é que o clube tenha objetivos e eu possa dizer que estou preparado para lutar por eles», prosseguiu, momentos antes de dar o exemplo que viveu nos giallorossi.

«Quando fui para a Roma, ninguém sonhava com a final da Liga Europa e conseguimos. Não é possível ir para um clube quase a descer de divisão e querer vencer a Liga dos Campeões. É bom, mas não é justo», acrescentou ainda.

O festejo que «mudou» a carreira e o Manchester United

Mais atrás no tempo, Mourinho recordou a conquista da Liga dos Campeões pelo FC Porto e a forma como se expressou na mítica passagem frente ao Manchester United: «Tive muitas comemorações bizarras, mas, provavelmente, a corrida em Old Trafford foi a que mudou o rumo da minha carreira.»

«No outro dia, encontrei um indivíduo na rua que me disse: "Quando é que voltamos a ter isto em Portugal?". Disse-lhe que podemos ganhar o Europeu daqui a alguns meses, porque temos uma seleção incrível. A melhor de todos os tempos. Mas um clube português ganhar a Liga dos Campeões outra vez? Vamos ver se conseguimos nos próximos 20 anos», atirou.

«Depois da Taça UEFA, comecei a ter alguns clubes estrangeiros interessados, mas não eram os grandes e nem da Premier League. Naquela hora, pensas: "Adoro isto aqui. Tenho uma boa equipa, um ótimo presidente e uma ótima estrutura. Vou voltar a ganhar o campeonato português. Vamos aproveitar a Liga dos Campeões e ver até onde vamos". Tive a sensação que poderia sair de Portugal sempre que quisesse, mas não para um dos grandes. Honestamente, foi depois do festejo pela linha lateral do Manchester United que a situação mudou», reconheceu.

Sobre os tempos no Manchester United, o técnico português não se poupou de dizer que não teve a confiança de que agora goza Erik Ten Hag: «A minha relação com Ed Woodward [ex-presidente executivo] era boa. Mesmo agora trocámos mensagens. Do ponto de vista profissional não foi o melhor. Sou quem sou. Sou um homem do futebol. Ten Hag está a ter um tempo no Manchester United que eu não tive. Não tive essa confiança. Saí triste, porque estava no início do processo. Senti em alguns momentos que se confiassem em mim e acreditassem na minha experiência, as coisas poderia ter sido diferentes.»

«Ainda há jogadores lá que não queria há cinco ou seis anos. Acho que representa um pouco o que considero não ser o melhor para um clube dessa dimensão. Mas fiz o meu trabalho. O tempo acaba por dizer a verdade. Gostava que o Manchester United tivesse sucesso», concluiu.