​“Muitas vezes são dois guardas para 300 presos. A segurança é descurada sempre”

2 horas atrás 19

Serviços Prisionais

07 out, 2024 - 20:00 • Cristina Nascimento

Guardas prisionais reclamam mais recursos humanos, mais investimento da tutela e dizem estar admirados por não acontecerem mais fugas como as que aconteceram há um mês no Estabelecimento Prisional de Vale dos Judeus.

Fábio Valente trabalha no Estabelecimento Prisional do Porto, mas esta segunda-feira está em Vale dos Judeus. Veio de propósito para estar na manifestação de solidariedade organazida pelo Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional. O principal objetivo é deixar claro que a fuga de cinco reclusos, que aconteceu há um mês, “podia ter acontecido em qualquer outro estabelecimento prisional”.

“As fragilidades que existem aqui, existem nos outros lados, nomeadamente a falta de guardas”, explica este guarda prisional com 15 anos de carreira, acrescentando que são “muito poucos” e que se desdobram “diariamente para ocupar quatro ou cinco postos”.

Fábio insiste: “muitas vezes estamos dois guardas para 300 presos nos pavilhões. A segurança é descurada sempre”.

Traído pelo amor, detido em Marrocos e extraditado para Portugal. O que vai acontecer a Fábio "Cigano"?

Sentimento parecido tem Cláudia Gomes. Guarda prisional há 22 anos, atualmente trabalha no Estabelecimento Prisional de Coimbra. Tem queixas semelhantes e garante que “há falta de investimento”, uma tendência que terá acentuado quando a gestão dos serviços prisionais uniu-se à reinserção.

Cláudia Gomes, que é também dirigente do sindicato que organizou a manifestação, diz que “a partir do momento em que há junção das duas hierarquias, a reinserção e os serviços prisionais, o desinvestimento nos serviços prisionais na parte da vigilância foi muito grande”.

“Quem nos dirige estão sempre mais voltados para a reinserção, o que não resulta. Se formos verificar, a reincidência é muito grande em Portugal”, assegura. Cláudia Gomes fundamenta o que diz com aquilo que vê.

“No dia a dia, nos estabelecimentos onde trabalhamos, vimos os reclusos a entrar e a sair uma, duas, três vezes”, descreve.

Detido um dos fugitivos de Vale de Judeus

Os guardas prisionais ouvidos pela Renascença são unânimes e reclamam por melhorias na atratividade na carreira.

“Não é só a questão do salário, mas é óbvio que isso conta. Para a função que nós exercemos não pode ter uma diferença de 30, 50 euros para o salário mínimo nacional”, explica Cláudia, acrescentando que “ninguém, no seu perfeito juízo sai de Bragança, de Coimbra, do Porto para vir para Lisboa durante 20 anos, trabalhar, a ganhar 960 euros quando em Lisboa paga um quarto por 500/600 euros, é incomportável”.

Mais parco nas palavras encontramos José Lima, colega de Fábio Valente no Estabelecimento Prisional do Porto.

Veio da Invicta a Alcoentre de propósito porque está solidário com os colegas de Vale de Judeus. “O que aconteceu neste estabelecimento poderia, pode acontecer noutros estabelecimentos”, insiste.

É com algum desalento da voz que fala à Renascença. Este antigo militar hesita quanto questionado sobre se está arrependido de ter seguido a carreira de guarda prisional.

“Arrependido, não, no entanto, sinto que deveria ter mais apoio por quem nos tutela”, remata.

Destaques V+

Ler artigo completo