Muralha do Atlântico de Hitler. Fortificação de cinco mil quilómetros não travou Aliados no Dia D

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A 20 de fevereiro de 1944, o marechal alemão Erwin Rommel concluiu uma inspeção de quatro dias à Muralha do Atlântico. 

A construção do sistema de fortificações fazia parte da estratégia de Hitler, executada por Rommel, para travar um desembarque dos Aliados nas praias, caso acontecesse. Se a invasão das forças ocidentais fosse bem sucedida o marechal nazi receava ter dificuldades em empurrar os militares de volta para o mar.

De qualquer forma, Rommel teria garantido a Adolf Hitler que a Muralha do Atlântico estava pronta para enfrentar a invasão aliada.


Milhares de fortificações são hoje as últimas ruínas da II Guerra Mundial. Fazem parte tão da paisagem. No entanto, estes vestígios documentam a mais importante operação de colaboração económica da ocupação nazi | Olivier Morin - AFP

O maior projeto de defesa de Hitler

"Em alemão, a Atlantikwall é considerada uma muralha. A construção é também uma fortificação de propaganda que lembra as da antiguidade, como a Grande Muralha da China ou a Muralha de Adriano romana. Mas é na verdade uma linha descontínua de pontos fortificados”, argumentou o escritor e cineasta francês Jérôme Prieur, que dedicou vários documentários e livro ao tema da II Guerra.

Na empreitada, o III Reich precisou de mais de 300 mil trabalhadores de todas as nacionalidades. Grande parte eram prisioneiros de guerra, trabalhadores forçados a contribuir para o esforço de guerra alemão. Também havia pessoas em dificuldades, desesperadas por trabalho, ou trabalhadores fabris alemães. 

O maior projecto de defesa de Hitler, levou dois anos a ser construído e por onde passava obrigou comunidades inteiras a serem desalojadas.

Estima-se que foram utilizados 20 milhões de metros cúbicos de betão e 1,2 milhões de toneladas de aço para a edificação da muralha.


Bunker em Lokken, oeste da Dinamarca | Olivier Morin - AFP

A construção do sistema defensivo costeiro assentava num conjunto muito variado de fortificações ligadas por arame farpado ao longo das costas do Atlântico e do Mar do Norte. 

Percorria cinco mil quilómetros entre o norte de Espanha, França, Bélgica, Países Baixos, Dinamarca, até à Noruega. Contava com simples trincheiras e campos minados até complexos de bunkers construídos em betão armado.

Em suma, as estruturas foram projetadas para desacelerar o avanço inimigo. Prieur, em entrevista ao Mediapart,  acrescenta que a "linha de fortificações edificada para resistir ao desembarque de tropas aliadas, foi uma pedra angular do esforço de colaboração entre o governo de Vichy (França ocupada) e a Alemanha nazi”.

Os bunkers de observação foram implantados para monitorizar o movimento das tropas inimigas. Já as casamatas abrigavam metralhadoras para proteger as praias. Com a instalação dos postos de comando, todo a sistema estava preparado para criar uma linha defensiva sólida que dificultasse ao máximo o avanço inimigo, proporcionando uma vantagem estratégica nazi.

 

Bunker submerso da Muralha do Atlântico na entrada da Baía de Arcachon, perto de Cap Ferret, sudoeste da FrançaOlivier Morin - AFP

Em 1944, o marechal Rommel foi encarregue de reforçar as defesas, pois Hitler adivinhava uma iminente invasão aliada.

Os planos ocidentais, liderados pelo general norte-americano Dwight D. Eisenhower, deixaram transparecer um desembarque na costa francesa perto de Calais, fazendo a guarda alemã desviar-se para norte, destapando áreas mais a sul.

Desta forma, as praias na Normandia tornaram-se o palco do desembarque do Dia D e da Operação Overlord, a 6 de junho, há 80 anos.

Rommel apreçou-se em estacionar mais de dois mil tanques, canhões de assalto e caça-tanques ao longo da costa da Normandia. Ordenou ainda a colocação de “ouriços tchecos” – obstáculos antitanques de aço pontiagudos – e postes de madeira apelidados de “espargos de Rommel”, usados para tentar impedir a aterragem de planadores e paraquedistas. Mais de cinco milhões de minas foram instaladas ao longo das praias mas já foi tarde.

Embora tenha desempenhado um papel significativo nas primeiras fases da guerra, a Muralha do Atlântico não foi suficiente para conter o avanço dos aliados. Após 11 meses, a Alemanha rendeu-se.

Muralha do Atlântico em França. Sainte-Marguerite-sur-Mer na Normandia | J&L Historical via X

Memória das ruínas
Apesar da derrota do III Reich, a Muralha do Atlântico deixou um legado duradouro na história da engenharia militar.

 
Muitas das estruturas ainda existem e estão visíveis permanecendo espalhadas ao longo da costa da Europa. Outras foram engolidas pela areia ou afundadas no oceano. Algumas implantadas em terra estão a ser preservadas e reabilitadas como memoriais ou museus.


 Bunker de vigilância. Elemento da Muralha do Atlântico construído entre a montanha e o oceano em Eggum, Lofoten, norte da Noruega | Olivier Morin - AFP

Em Batz-sur-Mer, na França, em Ostende, na Bélgica e em Noordwijk, nos Países Baixos as ruínas foram convertidas em museus.

Por exemplo, o Governo neerlandês lançou em 2014 o “Dia do bunker”. A cada dia 25 de maio as fortificações são abertas ao público para visitas.

A Muralha do Atlântico ressalta o engenho da inovação tecnológica e do planeamento estratégico durante os conflitos armados e naturalmente permanece como um lembrete da II Guerra Mundial.

O escritor francês relembra que "Hitler foi quem acreditou neste muro, que nunca visitou, mas que era o seu projeto favorito. Prestou atenção meticulosa a inúmeros detalhes, como a espessura das paredes. E acabou por morreu num bunker”.

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