Magro, com aspeto cansado, tinha-se entregado às autoridades norte-americanas depois de chegar à fronteira sul sem papéis, sem malas e sem dinheiro, procurando asilo para fugir das ameaças na terra natal de Riseralda, na Colômbia.
"Tentaram matar-me três vezes", contou à Lusa o migrante, no centro de apoio para onde foi enviado depois de ter recebido uma data de audiência em tribunal. "Fui chantageado por grupos armados e as ameaças estavam a aumentar, por isso tive de fugir".
León disse que a polícia não ajuda pessoas como ele, que são pressionadas a pagar a grupos armados para não sofrerem violência, e que "a corrupção vem de cima", dos postos mais altos da nação. Seguiu para Filadélfia, onde tem um irmão que lhe poderá dar abrigo se o tribunal aceitar o seu pedido de asilo. Viajou sozinho, numa jornada difícil, disse.
O colombiano foi um dos 42 migrantes que chegaram naquele autocarro a um centro que dá água, comida e atenção médica a quem precisa, encaminhando-os depois para os seus destinos finais.
"Muitos dos migrantes que recebemos fogem de condições instáveis nos seus países, seja por causa da violência dos cartéis, governo ou pobreza extrema nalguns casos", disse à Lusa Alejandro Bejarano, diretor de relações públicas do centro regional de Somerton.
"Muitas destas pessoas não queriam sair dos seus países e têm esperança de poder voltar quando as condições melhorarem", salientou o responsável.
Foi isso que disse Jonathan, um jovem que também fugiu da Colômbia com a família. Apontando para uma mulher que dava atenção a duas crianças pequenas, contou o que aconteceu: "ela viu-se envolvida com uma pessoa perigosa e tivemos de fugir".
Demoraram oito dias a chegar e iam com medo. "As pessoas falam dos `coyotes`, que roubam migrantes e raptam crianças", disse Jonathan, referindo-se aos contrabandistas que cobram para levar pessoas a ilegalmente para os Estados Unidos. "Gostaria de voltar, mas por agora não dá". A família seguirá para São José, Califórnia.
Alguns dos migrantes chegam com lesões físicas e sinais de trauma psicológico, a que o centro dá apoio.
"Gostava que as pessoas soubessem que esta é uma crise humanitária", sublinhou Alejandro Bejarano. "Estes migrantes não vêm de um país apenas, vêm de 140 países diferentes e são crianças, famílias, avós e avôs", continuou. "Quando as pessoas põem uma cara humana na crise da fronteira, começam a entender que são necessidades humanas básicas".
O centro recebe agora três a quatro autocarros trazendo cerca de 250 migrantes por semana, o que é razoável para a equipa. Mas no pico da crise na fronteira, há cerca de ano e meio, a situação era dramática: chegavam 18 autocarros por dia.
"Trabalhávamos dia e noite a tentar assistir e ajudar a patrulha da fronteira, porque a estação deles aqui em Yuma não tem capacidade para alojar toda esta gente", disse à Lusa.
Quando o pacote bipartidário no Congresso para reforçar a segurança na fronteira falhou a pedido de Donald Trump, o Presidente Joe Biden assinou uma ordem executiva que limitou o número de pedidos de asilo por dia e impôs regras sobre o processo, que se não forem seguidas podem resultar numa rejeição. A ordem assinada em junho levou a uma quebra dramática no número de migrantes.
O que Bejarano salienta é que aqueles que chegam não fogem da patrulha, entregam-se a ela para pedir asilo. "É importante saber que há uma diferença entre os que chegam e se entregam e os que chegam e se escondem", disse.
O centro recebeu 235 mil migrantes desde fevereiro de 2021, o que é mais que a população do condado inteiro de Yuma, onde Somerton se insere. Devido ao seu trabalho, estes migrantes já não são largados no meio da cidade; seguem para outros destinos.
Susana, que fugiu de Cuba com a filha e viajou durante 21 dias, vai para a Florida, tal como Jose Alfredo, que escapou de Guerrero. Daniela e Marioly, que fugiram da perseguição na Bolívia, vão para a Virgínia.
"Grande parte dos migrantes não ficam no Arizona", confirmou o advogado de imigração Mo Goldman, que lida diariamente com estes casos. "A maioria está a fugir de situações difíceis, situações impossíveis", referiu.
Reconhecendo que a questão da imigração é uma das mais contenciosas na eleição presidencial, Goldman disse que o país precisa de decidir o que quer ser para poder fazer reformas.
"Temos de perceber qual é a identidade dos Estados Unidos", afirmou. "Se representamos ou não a mentalidade de que estamos aqui para ajudar pessoas de todo o mundo, que depois retribuem a generosidade trabalhando arduamente, pagando impostos, gerando famílias que são gratas ao país".
O advogado apontou para a necessidade que o país tem de trabalhadores. "É inegável que os Estados Unidos dependem muito do trabalho dos imigrantes e sem eles o sistema colapsa", afirmou.
Goldman disse que o seu trabalho se torna "muito frustrante" e contou que há empregadores que o procuram para tentar legalizar os seus trabalhadores que estão ilegais, porque gostam muito deles. Mas os mesmos votam em Trump para parar o fluxo de imigrantes a entrar.
"Há uma espécie de desconexão a acontecer", considerou Goldman. "Eles dizem que querem ajudar um, mas não querem saber dos outros, e isso não funciona". Não há forma de legalizar estes casos sem uma reforma que abranja todos.
"Há o mito de que eles querem vir para os EUA para abusar do sistema e potencialmente são perigosos", disse Goldman. "A realidade é que a maioria quer trabalhar, estar legal, abrir uma conta no banco. O nosso sistema torna isso muito difícil".