Francisco Paupério, cabeça de lista do Livre às eleições europeias, garante que "não se coloca a hipótese" de se desfiliar do partido no caso de ser eleito para o Parlamento Europeu.
Em entrevista à Renascença, durante o Congresso do Livre, prefere adiar pronunciar-se sobre uma eventual candidatura de António Costa ao Conselho Europeu.
Depois das polémicas em torno das primárias, em que o grupo de contacto (direção) do Livre admitiu mudar as regras a meio do jogo, mas recuou, o candidato assegura que todos estão "unidos em torno da lista".
Sobre propostas, reforça a ideia de haver um salário mínimo europeu e afirma que o partido quer replicar a ideia dos 3C's pela União Europeia.
Este processo de escolha do cabeça de lista às europeias, acabou por ser atribulado. Acha que Grupo de Contato (direção) vai agora mudar as regras porque o resultado final não foi aquele que esperava?
Vamos fazer essa reflexão depois de todo este processo, não é um tema para agora. Nós estamos focados e empenhados em trabalhar na campanha eleitoral, em eleger duas pessoas para o Parlamento Europeu. Isso será uma discussão posterior e será sobretudo uma discussão interna.
Acho que o processo deve manter exatamente igual ou deve haver algum ajuste?
Primeiro temos de refletir sobre o que se passou e só depois é que podemos pensar nesses ajustes. Mais uma vez não é um tema para agora. Agora estamos focados nas eleições europeias, queremos passar a nossa mensagem ecologista, passar a nossa mensagem feminista e mostrar nas ruas que a confiança que nos deram dia 10 de Março deve ser reforçada nesse dia 9 de junho.
Há algumas divergências entre si e o grupo de contacto. A direção do Livre deve temer uma eventual desfiliação, caso seja eleito?
Temos um programa, é o programa que vamos defender, apesar das nossas divergências pessoais que possam existir. Caso estejamos representados eu e a Filipa Pinto vamos honrar esse programa que foi aprovado por todos e vamos defendê-lo também no Parlamento Europeu.
O Livre já teve esse problema na Assembleia da República [Joacine Katar Moreira], o PAN teve no Parlamento Europeu [Francisco Guerreiro]. Acha que isso pode acontecer no Livre a breve trecho?
Nós temos processos democráticos, transparentes e abertos. Não parece que se coloca essa hipótese agora. Tivemos um Congresso em que apresentamos o nosso programa, é votado favoravelmente, sem nenhum voto contra. Temos aqui o mote para fazer campanha para passar mais uma vez as nossas mensagens.
Em teoria, quando uma pessoa está em desacordo com o partido, deve sair ela ou desfiliar-se?
Nós já fizemos esse comentário internamente, chegámos a uma conclusão de uma lista, apresentamos a lista foi aprovada. Estamos unidos em torno da lista e em torno da nossa mensagem. O que nós estamos a representar é o Livre e as suas ideias, não são as minhas ideias, não são as ideias da Filipa Pinto. Nós concordamos nestas mensagens comuns e é isso que vamos defender.
Deixe-me perguntar-lhe, o que é que o LIVRE pode trazer diferente de todos os partidos agora, para as europeias? Uma das ideias que traz é o salário mínimo europeu. Como é que funciona essa medida?
Nem todos os países da União Europeia têm um salário mínimo definido e o princípio desta diretiva é precisamente dar um salário mínimo digno a toda a gente na União Europeia, especialmente em países Leste em que há muita pobreza e não existia essa essa diretiva.
Ou seja, a haveria um salário mínimo, só não é o mesmo valor para todos os países...
Não será o mesmo valor. Será uma fórmula que será calculada dependendo de cada país. Obviamente, não vamos ter um salário mínimo único europeu. O objetivo é que cada país tenha um salário mínimo e que isso permita dar às pessoas condições de vida e segurança que não têm neste momento.
Tem alguma outra medida para apresentar aos portugueses nestas próximas semanas de campanha?
Nós vamos apresentar algumas medidas fora da caixa, eu elencava o programa dos 3 C’s [Casa, Conforto e Clima], que apresentámos cá na Assembleia da República e vamos apresentar no Parlamento Europeu. A ideia é renovar as casas massivamente na Europa, assim combatemos no eixo da sustentabilidade em que reduzimos a energia, e no eixo da pobreza energética que as casas ficam aptas e dignas para as pessoas viverem e assim reduzimos também o custo de renda.
A ser eleito, Francisco Paupério será um eurodeputado português. Como é que olha para a possibilidade de António Costa vir a ocupar um cargo de destaque europeu?
Nas entrevistas que temos visto, António Costa nem demonstrou esta intenção em assumir esse cargo, pelo menos publicamente...
Também nunca recusou....
Nunca recusa, mas se e quando chegar o momento de se apresentar como candidato, o Livro vai decidir se se apoia ou não. Não penso que seja uma discussão para agora, precisamente porque nem sequer houve essa intenção do outro lado, pelo menos de forma explícita.
Rui Tavares aproveitou este fim de semana para deixar uma mensagem clara de que o Livro tem de preparar-se para governar. Concorda com esta estratégia, com esta preparação de terreno para diálogo à esquerda?
O Livre foi criado, em 2014, precisamente como a mensagem principal da convergência das esquerdas. Em 2019, com o fim da geringonça, houve aí o fim das dessa convergência das esquerdas. Por outro lado, vemos que neste momento o PSD a governar em minoria, em que não se abre a consensos com os outros partidos. Daí, o Livre tem de se preparar para eleições - e nós estamos sempre preparados para defender as nossas ideias na rua -, e, por outro lado, tem de estar preparado para governar à esquerda em maioria, porque o futuro do progresso tem de passar por uma esquerda plural que tenha o Livre muito mais representado do que agora.