A ativista iraniana, detida numa prisão de Teerão, irá iniciar uma nova greve de fome este domingo. Um ato simbólico no dia em que os seus dois filhos vão a Oslo receber o Prémio Nobel da Paz em seu nome.
Taghi Rahmani, marido da ativista, esclareceu na mesma comunicação que se trata de um gesto de solidariedade para com a minoria bahá’i. Outras duas ativistas iranianas também detidas, Mahvash Sabet e Fariba Kamalabadi, também vão estar em greve de fome.
“O Comité Norueguês do Nobel decidiu atribuir o Prémio Nobel da Paz de
2023 a Narges Mohammadi pela sua luta contra a opressão das mulheres no
Irão e pela sua luta para promover os Direitos Humanos e a liberdade
para todos”, destacava o comité em outubro.
De acordo com o marido da vencedora do Nobel da Paz deste ano, Narges Mohammadi quis marcar desta forma simbólica o dia em que o prémio será entregue à sua família. “Talvez o mundo oiça falar mais disso”, afirmou a ativista, de acordo com Rahmani.
A comunidade bahá’i constitui a mais significativa das minorias religiosas do Irão e é alvo de frequentes ataques e perseguições. A fé Bahá’i teve origem em Shiraz, na Pérsia, durante no século XIX, mas a República Islâmica não a reconhece sequer como religião, considerando que se trata de uma “seita política”.
“Acho que não a vou ver novamente”
Narges Mohammadi, distinguida este ano com o Prémio Nobel da Paz, tem-se destacado na luta contra o uso obrigatório do hijab pelas mulheres e também contra a pena de morte no Irão, o que lhe valeu longos períodos de prisão ao longo de várias décadas. Está atualmente na prisão de Ervin, em Teerão.
"No total, o regime do Irão já a deteve por 13 vezes, condenou-a por cinco vezes e sentenciou-a a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas", destacava o comité norueguês em outubro, quando a ativista iraniana foi anunciada como vencedora do prémio.
De saúde frágil, esta não é a primeira vez que Narges entra em greve de fome. No início de novembro esteve vários dias em protesto pelo direito de ser transferida para o hospital sem ter de cobrir a cabeça com o hijab.
Ali e Kiana Rahmani, filhos de Narges, vivem exilados em Paris com o pai e vão receber o prémio este domingo, em Oslo. Ambos com 17 anos, viram a mãe pela última vez há oito anos.
“Talvez a veja daqui por 30 ou 40 anos, mas acho que não a vou ver novamente ”, afirmou Kiana em conferência de imprensa.
Família de Amini impedida de viajar para França
Narges Mohammadi é uma das principais figuras do movimento “Mulher, Vida, Liberdade” que tem varrido o Irão desde setembro de 2022, quando Mahsa Amini, uma jovem curda iraniana de 22 anos, morreu às mãos da polícia após ter sido detida por utilização incorreta do véu islâmico.
O Parlamento Europeu decidiu atribuir o Prémio Sakharov a Mahsa Amini, a título póstumo, e ao movimento “Mulher, Vida, Liberdade”, reprimido com violência pelas autoridades iranianas ao longo dos últimos meses.
De acordo com a advogada da família, Chirinne Ardakani, os pais e o irmão de Mahsa Amini foram “proibidos de embarcar no voo que os levaria a França para a cerimónia de entrega do Prémio Sakharov" na passada sexta-feira.
Apesar de terem os vistos, os passaportes dos familiares de Amini “foram confiscados”, acrescentou a advogada em declarações à agência France Presse.