NATO: cimeira de Washington cai sob a alçada da política interna

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Com a agenda oficial a ser em tudo semelhante às de todas as cimeiras mais recentes – a Ucrânia – Joe Biden usará o encontro que comemora 75 de existência da organização para provar aos norte-americanos que ‘ainda anda por ali’.

epa09846261 NATO Secretary General Jens Stoltenberg attends a press conference at the end of an extraordinary NATO Summit at the Alliance headquarters in Brussels, Belgium, 24 March 2022. EPA/STEPHANIE LECOCQ

Inesperadamente, a cimeira da NATO que tem lugar em Washington – o lugar onde foi lançada, em 4 de abril de 1949 – para assinalar os seus 75 anos, tomou um lugar preponderante na política interna dos Estados Unidos: depois da hecatombe que se seguiu ao debate entre os dois candidatos às presidenciais de novembro, Joe Biden (o candidato democrata) está a usar toda a agenda para provar aos norte-americanos que tem capacidade para ‘aguentar’ mais um mandato à frente da Casa Branca. A cimeira da NATO é, neste particular, de evidente importância: recebendo mais de 30 chefes de Estado e de governo para assinalar a criação de um instrumento central da política externa norte-americana, Biden terá ali (se tudo correr bem) a possibilidade de relançar a sua campanha.

Depois de o embate que manteve com Donald Trump (o candidato republicano) lhe ter corrido especialmente mal – a pontos de os democratas terem lançado o debate sobre se Biden devia ou não ser substituído – o ainda presidente tem feito rudo para apagar a imagem que deixou e que foi tão negativa que até conseguiu surpreender o candidato ‘insurgente’. De então para cá, Biden tem usados todas as ocasiões para apagar essa imagem, recorrendo mesmo à autoironia e ao gracejo, que surgem sempre como se fossem muito pouco naturais. A cimeira da NATO, que começa esta terça-feira e se ‘arrasta’ por dois dias, vai ser, neste contexto, mais um desafio. Que vale a pena: o ainda presidente cumprirá a função de anfitrião de um grupo de 32 países acantonados por baixo da agenda externa norte-americana – e ninguém poderá duvidar que esse papel está reservado ao homem mais importante do mundo.

Oficialmente, o tema mais importante é ainda a Ucrânia – dado que o apoio ao país invadido pela Rússia é a melhor explicação para a sua própria existência. O secretário-geral, Jens Stoltenberg – que está de saída – antecipou a cimeira sublinhando que o apoio à Ucrânia será a “tarefa mais urgente” da NATO. “Espero que os chefes de Estado e de Governo cheguem a acordo sobre um pacote substancial para a Ucrânia”, disse Stoltenberg. “A NATO assumirá a coordenação e a prestação da maior parte da assistência de segurança internacional”, com um comando liderado por um general de três estrelas e várias centenas de funcionários trabalhando na sede da NATO na Alemanha e em polos logísticos na parte oriental da Aliança”, disse, citado por comunicado oficial da organização.

Stoltenberg acrescentou que os aliados concordarão com um compromisso financeiro para a Ucrânia e que também espera um apoio militar mais imediato à Ucrânia. Mais acordos bilaterais de segurança e trabalho no aprofundamento da interoperabilidade militar, fazem também parte da agenda comum. O secretário-geral disse que todos estes elementos “constituem uma ponte para a adesão à NATO e um pacote muito forte para a Ucrânia na cimeira”, acrescentando: “A Ucrânia está a aproximar-se da NATO”.

“A dissuasão e a defesa serão outro tópico importante para a nossa cimeira”, disse Stoltenberg, afirmando que a NATO foi-se transformando na última década, o que inclui 500 mil soldados em alta prontidão, capacidades melhoradas, grupos de batalha prontos para o combate e a adesão de novos membros. Na cimeira, os aliados deverão subscrever a promessa de reforçar a cooperação industrial de defesa transatlântica, a fim de aumentar a produção. E acrescentou que a NATO aumentará ainda mais as defesas contra mísseis balísticos com uma nova base Aegis Ashore na Polónia. O secretário-geral congratulou-se com o facto de 23 Aliados estarem agora a gastar pelo menos 2% do seu PIB em defesa.

As parcerias globais serão o terceiro tema da cimeira. O secretário-geral convidou os líderes da Austrália, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul para a estarem presentes nos trabalhos “para aprofundarem ainda mais a cooperação, incluindo sobre o apoio à Ucrânia, cibersegurança e novas tecnologias”. “Quanto mais próximos os atores autoritários se alinham, mais importante é que trabalhemos em estreita colaboração com os nossos amigos no Indo-Pacífico”, disse, referindo-se à China – que a organizações isolou há um par de anos como ‘o’ inimigo a longo prazo. Na ótica da NATO, haver ‘um’ inimigo é fundamental – se não houver um, a organização deixa de ter razão para existir.

Recorde-se que Portugal faz parte da NATO desde o primeiro momento – muito por causa de ser o país administrante daquela espécie de porta-aviões sempre fundeado, os Açores – com a Base das Lages a ser durante décadas um importante ponto estratégico para a aliança. As relações entre Portugal e a NATO foram sempre de cordialidade – com a exceção do dia 3 de junho de 1971.

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