No Marakana ninguém passa na Sérvia: Estrela Vermelha está invicto há 122 jogos em casa

18 de abril de 2017. Um dos dérbis mais quentes do futebol europeu para arrancar o play-off de apuramento de campeão na Sérvia: Estrela Vermelha - Partizan, com as bancadas do mítico Marakana - alcunha dada ao recinto do Estrela, que em tempos teve capacidade para 110 mil pessoas, em honra ao famoso estádio brasileiro - compostas por 27 mil almas. No onze da casa há um tal de Mihailo Ristic, que veio a representar o Benfica anos depois.

O Partizan sai na frente do marcador, pelo 21.º minuto, com um remate certeiro de Leonardo Souza. A resposta dos anfitriões chega no arranque da segunda parte e Richmond Boakye assina o empate. O relógio está perto do minuto 70 quando Léandre Tawamba volta a colocar os homens da camisola listada a preto e branco na frente do resultado. O bis de Leonardo Souza, aos 79', dá a machadada final: 1-3, vitória de um Partizan que começou aí a caminhada para o título sérvio.

O encontro que acabamos de lhe resumir foi o último que o Estrela Vermelha perdeu em casa para o campeonato sérvio. Já passaram seis anos e o Marakana já recebeu 122 jogos da equipa no campeonato local desde então. Em nenhum deles o Estrela Vermelha perdeu. Foram 110 vitórias e 12 empates desde aquele desaire perante o maior rival.

No último sábado (9), a vitória por 3-1 sobre o Mladost Lucani permitiu à equipa de Belgrado chegar a essa marca. De acordo com o playmakerstats, permitiu também superar o melhor registo verificado nas cinco principais ligas europeias em toda a história: na década de 60, o Real Madrid esteve 121 jogos consecutivos sem perder em casa para o campeonato. Em Portugal, o recorde pertence ao FC Porto, que esteve 119 jogos consecutivos invicto em casa no final da década de 80.

O recorde de invencibilidade caseira nos cinco principais campeonatos europeus + Portugal:

Espanha: Real Madrid, 121 jogos Portugal: FC Porto, 119 jogos França: Nantes, 92 jogos Itália: Torino, 88 jogos Inglaterra: Chelsea, 86 jogos Alemanha: Bayern München, 74 jogos

«Só o início do jogo e a passagem no famoso túnel...»

A história do Estrela Vermelha cruza-se, em diferentes momentos, com três portugueses: Hugo Vieira, figura de culto em Belgrado e que apontou 29 golos em 51 jogos pelo clube, Tomané e o falecido Lucas. Foi com o segundo que o zerozero conversou, em busca do conhecimento de quem faz parte desta série e que pode atestar a dificuldade de se jogar no Marakana.

«É especial. É um campo muito difícil. Ainda ontem [n.d.r. na última quarta-feira] vi o jogo com o Manchester City e o Estrela perdeu, mas é sempre um campo onde os adeptos são a grande força do clube», começou por nos contar o avançado de 31 anos, atualmente ao serviço do APOEL, mas que representou o emblema de Belgrado em 2019/20 e no arranque de 2020/21.

«Têm um apoio muito grande. É mais um estádio que vale pelos seus adeptos, um estádio mítico e que não é fácil passar. Só o início do jogo, a passagem no famoso túnel do Estrela, o Marakana... É muito difícil jogar lá», garantiu-nos alguém que só guarda boas memórias: «É um clube grande e de uma exigência enorme, que está habituado a ganhar e tem que ganhar. No campeonato, neste momento é o clube que vai ganhando e não tem rival. Esse dérbi com o Partizan é muito diferente dos outros que joguei e é especial.»

Tomané alertou também para a diferença atual entre os rivais da capital: «No campeonato, a realidade é que o Estrela não tem tido o rival que é o Partizan nos últimos anos. Não tem estado ao mesmo nível. O Estrela está mais forte e este ano fez uma aposta muito grande. Contratou muitos jogadores com algum nome e fez um investimento grande.»

Série que pode ser para durar

O Estrela Vermelha já quebrou o recorde das principais ligas do Velho Continente, mas pode não ficar por aqui. Todas as condicionantes já mencionadas por Tomané levaram o avançado a vaticinar: «É muito difícil o Estrela perder em casa.»

Na ótica do jogador português, só há um emblema na Sérvia que pode colocar um término à sequência, sendo ele o bom e velho Partizan. «A única equipa que vejo a poder contrariar isso é o Partizan, mas neste momento não é fácil. O Estrela investiu bem, contratou muitos jogadores bons e está cada vez mais forte. Cada vez é mais difícil ganhar. Se já vem numa série enorme de jogos sem perder e o projeto está cada vez mais forte, com presença na Europa como não acontecia há uns anos... Pode ser que haja uma quebra com o Partizan, caso contrário é difícil», concluiu.

Curiosamente, novo duelo entre os velhos rivais está marcado para a próxima quarta-feira (20), mas no recinto dos black and whites. A série caseira do Estrela Vermelha volta a ser testada na receção ao FK Vozdovac, agendada para o próximo dia 23. Dérbi de Belgrado em casa... só para março.