Notícias da morte do gás natural são “manifestamente exageradas”: consumo mundial vai disparar com China a liderar

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O consumo na China vai aumentar 50% até 2040, numa altura em que substitui o carvão e acelera esforços de descarbonização. Mas há mais países asiáticos a contribuir para o aumento do apetite gasista.

As notícias sobre a minha morte são manifestamente exageradas“, disse um dia o escritor norte-americano Mark Twain quando confrontado por um jornalista sobre a sua morte.

Mas a frase poderia aplicar-se ao mercado global de gás natural, que deverá continuar a crescer nos próximos anos com um mundo com cada vez mais apetite por gás perante a necessidade de substituir o carvão e perante o crescimento da indústria em vários países.

O comércio mundial de gás natural liquefeito (GNL) atingiu as 404 milhões de toneladas em 2023 (mais 6 milhões face a 2022). Até 2040, a procura de GNL deverá atingir os 625-685 milhões de toneladas, estando a aumentar em várias regiões, apesar de já ter atingido o pico noutras, segundo o outlook da Shell.

“A China deverá continuar a dominar o crescimento da procura do GNL esta década à medida que a indústria procura reduzir as emissões de carbono ao desligar o carvão. Com o sector do aço chinês, movido a carvão, a corresponder a mais emissões do que o total de emissões do Reino Unido, Alemanha e Turquia em conjunto, o gás tem um papel essencial em travar uma das maiores emissões mundiais de carbono e de poluição do ar”, disse em comunicado Steve Hill, vice-presidente da Shell.

Ao longo da próxima década, o declínio da produção doméstica de gás no Sul da Ásia e no Sudeste asiático pode provocar um aumento na procura por GNL à medida que estas economias precisam de mais gás para a indústria ou produção de eletricidade. Para tal, precisam de investimentos significativos na infraestrutura de importação de gás.

Entre 2025 e 2040, o consumo na China vai disparar dos 400 BCM para os mais de 600 BCM, disparando mais de 50%, com o maior crescimento de consumo a ter lugar na indústria e no retalho e consumo.

Daqui a 16 anos, a América do Norte deverá ser responsável por abastecer 30% do consumo global de GNL.

Por fonte, a China vai registar aumentos na produção doméstica de gás, na importação de GNL e nas importações via pipeline.

Entre os fornecedores à China encontram-se a Rússia (via pipeline e GNL) e os EUA (via GNL), com a maior fatia a ter origem no gás russo enviado por gasoduto.

Mas há mais países na Ásia a liderar o crescimento da procura, como o Vietname, Filipinas, Tailândia e Bangladesh, com a capacidade de regaseificação nestes países a subir dos 20 MTPA em 2025 para um valor acima de 60 milhões de toneladas por ano (MTPA) até 2040.

Na Europa, o GNL vai continuar a desempenhar um “papel vital na segurança energética europeia” em 2023, após uma queda nas compras à Rússia depois da invasão da Ucrânia.

As compras de GNL europeias continuam em níveis semelhantes aos de 2022, apesar de um declínio geral na procura europeia de gás em 2023.

O inverno ameno em países que dependem do gás do aquecimento, combinado com altos níveis de armazenamento, produção mais forte de energia nuclear e uma recuperação económica modesta na China, “ajudaram a equilibrar o mercado global de gás em 2023”.

Apesar de um mercado “bem-abastecido em 2023”, a falta de gás russo via pipeline para a Europa e uma quantidade limitada de crescimento de GNL no último ano “significa que o mercado global de gás continua estruturalmente sob pressão”.

Em 2023, os EUA foram o maior exportador mundial de GNL (acima de 80 MT), seguido da Austrália, Qatar (ambos com cerca de 80 MT), Rússia e Malásia.

Em termos de compras, a China foi o maior importador (8 MT), seguida da Alemanha (4,6 MT) e dos Países Baixos (4,1 MT). Curiosamente, Portugal encontra-se entre os países que compraram menos GNL (com uma queda de 0,7% nas importações), com o Japão a registar a maior queda (-6%), seguido do Reino Unido (-4,3%) e de França (-3,5%).

Na Europa foi registada uma queda na procura em 2023, com a Shell a apontar os preços elevados e menos oferta. O consumo de gás para produzir eletricidade, para a indústria e para retalho e consumo sofreu quebras entre 2022 e 2023.

Na China, a procura de gás subiu 8% em 2023, apesar do crescimento da economia ter ficado abaixo do que era esperado após a pandemia.

No Japão, a procura de gás recuou com a reabertura de várias centrais nucleares, após o acidente de Fukushima.

A Shell prevê que este ano fique marcado pelo fornecimento dos EUA e a procura na Ásia.

Vários projetos de GNL deverão entrar em operação até ao final da década com destaque para os projetos nos EUA e no Qatar.

Nos últimos 20 anos, três vagas de nova capacidade GNL trouxe paulatinamente mais GNL ao mercado: em 2009-11, o Qatar avançou com um mega-projeto que trouxe mais 25% de GNL ao mercado (60 MTPA). Em 2017-19, foi a vez da Austrália e dos EUA, em que a nova capacidade provocou uma subida acima de 25% (60 MTPA) de GNL no mercado. Em 2025-27, a segunda vaga para os EUA e o Qatar vai provocar a entrada de mais 35% de GNL no mercado (80 MTPA).

O novo investimento a nível global de GNL vai ser “sustentado pelo crescimento da procura na China, Sul da Ásia e Sudeste Asiático”.

Na Europa, apesar de a procura de gás natural estar a recuar, ainda vai ser preciso gás natural.

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