O caso de Elsa, Roman e Harry. Três irmãos, três bebés abandonados em Londres – em sete anos

3 meses atrás 112

05 jun, 2024 - 17:03 • Fábio Monteiro

Harry foi abandonado em setembro de 2017. Roman em janeiro de 2019. E Elsa em janeiro deste ano. Os três foram deixados à sua sorte na zona de Newham, Londres. E, sabe-se agora, são irmãos. A título excecional, o Tribunal de Família britânico decidiu divulgar o caso por “questões de interesse público”. Os pais continuam por identificar.

Londres, 18 de janeiro de 2024, 21h13. Na noite mais fria do ano, uma pessoa – homem ou mulher, não é público – passeia o cão, no parque de Greenway, zona de Newham. E ouve o choro de uma bebé.

Encontra-a enrolada numa toalha, dentro de um saco de compras. A recém-nascida tem ainda o cordão umbilical, pesa quase três quilos.

A bebé foi abandonada nem há meia-hora. O sistema CCTV de Londres capta uma mulher vestida com um casaco preto, cachecol em torno do rosto e mochila às costas, a entrar no parque, por volta das 20h45. Identidade? Desconhecida.

O caso é notícia, aparece em todos os diários britânicos. É algo raro em Inglaterra. De acordo com a Organização Nacional de Estatísticas (ONS) britânica – o equivalente ao INE português -, entre 2005 e 2014, em Inglaterra e no País de Gales, apenas foram registados 12 bebés abandonados.

No hospital, onde é acompanhada durante alguns dias, a recém-nascida é batizada de Elsa – uma referência à protagonista do filme Frozen e às temperaturas que se faziam sentir na noite em que foi encontrada. Posteriormente, é encaminhada para uma família de acolhimento, entra na linha para adoção.

A polícia investiga, tenta chegar aos pais. Especula que é “altamente provável” que Elsa tenha sido uma gravidez escondida. Mas passam-se meses e o caso acaba por cair no esquecimento - até ontem.

A polícia metropolitana de Londres emite um comunicado. Após testes de ADN, foi descoberto que Elsa tem dois irmãos, Harry (menino) e Roman (menina). E também eles foram abandonados nas ruas de Londres, na mesma zona. Um em 2017 e outro em 2019.

Roman e Harry

A história de Elsa é, em grande parte, semelhante à dos irmãos, segundo a polícia londrina e informações avançadas pelos diários britânicos.

Harry foi abandonado num parque, enrolado num cobertor, perto de Balaam Street, também na zona de Newham, a 17 de setembro de 2017. E foi encontrado por pessoas, por volta das 8h20, que se encaminhavam para o trabalho.

Roman foi abandonado junto a um banco num parque infantil, embrulhado numa toalha e dentro de um saco da cadeia Sainsbury’s, a 31 de janeiro de 2019. E foi encontrado, à noite, por uma avó e um neto lituano que passeavam o cão.

“Ouvia-se choro vindo do saco. Ela estava a lutar pela sua vida. A bebé salvou-se a si própria”, contou Rima Zvaliauskiene, em declarações ao Daily Mail”

Em ambos os casos, a polícia levou a cabo investigações. Mas a identidade dos pais nunca foi descoberta. A relação entre as duas crianças nunca veio a público.

Entretanto, os dois irmãos de Elsa já foram mesmo adotados, e receberam novos nomes.

Um caso sem precedentes

Casos com menores são sensíveis. É raríssimo que sejam expostos a escrutínio mediático. Na verdade, a história de Harry, Roman e Elsa só veio a público devido a uma decisão excecional.

Na segunda-feira, uma juíza do Tribunal de Família britânico determinou que a relação entre os bebés podia ser noticiada devido ao “interesse público do caso” e à raridade de casos de “bebés abandonados”. A decisão foi precipitada por um recurso da BBC e da PA Media.

Num comunicado da polícia metropolitana, o inspetor Jamie Humm garantiu: “É uma notícia importante e o nosso trabalho tem-se concentrado em tentar localizar a mãe e prestar-lhe apoio. Trabalhámos 24 horas por dia, 7 dias por semana, em cada um destes três casos para identificar os pais, até agora sem sucesso.”

Em declarações ao ”Guardian”, Lorraine Sherr, especialista em casos de abandono de bebés, fez questão de afirmar: “Este caso é extraordinário. Eu nunca me deparei com nada igual.”

Segundo a especialista, este será possivelmente um caso de destituição familiar, correlacionado com outros fatores de risco.

“Se tivesse que adivinhar, diria que este caso está relacionado com algum problema de saúde mental”, disse.

Destaques V+

Ler artigo completo