O cisne Diogo vs. O patinho feio Adán: «O Tribunal Digital é agressivo»

Caminhamos a passos largos para um dos embates mais emblemáticos do futebol português. Se, até à divulgação dos respetivos onzes, surgem algumas dúvidas sobre as escalações de Sérgio Conceição e Rúben Amorim, as reticências sobre quem serão os responsáveis pelas balizas parecem estar dissipadas.

Neste confronto defensivo, num lado teremos um atleta jovem, mas que tem mostrado uma grande maturidade entre os postes: Diogo Costa. A sua segurança tem sido valorizada pelos adeptos portistas, que o consideram um dos elementos mais valiosos do plantel.

Para proteger as redes contrárias, o escolhido será Antonio Adán. O guardião espanhol, aos olhos da crítica, não atravessa o melhor momento da carreira, sendo visto pela maioria da massa associativas dos leões como um jogador substituível. 

A antítese da idade: 24 anos vs.36 anos, numa aguardada batalha entre o progressismo e a experiência. O zerozero esteve à conversa com Beto Pimparel, guarda-redes que representou ambos os emblemas, com o intuito de analisar as valências e debilidades dos intervenientes.

Diogo Costa: o cisne dos dragões

São poucos os guarda-redes que podem afirmar, a peito feito, que possuem menos golos concedidos que partidas disputadas. A jovem promessa dos dragões é um dos felizes contemplados, tendo sofrido, apenas, 21 tentos, em 25 duelos na presente temporada. 

Olhando primeiramente para o prisma seleção, responsabilidade que tem sido preenchida de forma exímia, Diogo Costa tem assumido a função de 'número 1' com maestria. Apesar da mudança de selecionador, o voto de confiança dado ao atleta tem sido alto, com a resposta a ser dada em conformidade.

Aliás, na qualificação para o Europeu 2024, a jóia sonhou, por um bom período de tempo, com uma baliza intocável durante toda a fase da competição. O registo histórico esteve mesmo perto de acontecer, mas os dois tiros certeiros da formação eslovaca (3-2) acabaram com os planos. No entanto, este sabor amargo não desfez todo o seu brilhantismo.

Na atual época pelos azuis e brancos, a arte da eficácia entre os postes parece estar cada vez mais apurada: na Liga, o FC Porto é a defesa menos batida até ao momento, tendo contemplado o adversário a comemorar por nove momentos distintos. Para além disso, Diogo Costa tem sido assíduo, disputando todos os compromissos para a competição.

«O Diogo é dos mais completos dos últimos anos»

Bem, tal como aos fãs da turma da Invicta, Diogo Costa parece também ter conquistado Beto, que o compara com um ícone do futebol nacional: «Para além do Vítor Baía, que foi uma das grandes referências que eu tive, o Diogo é dos guarda-redes mais completos dos últimos anos. É forte no jogo exterior, no um-para-um e na leitura. Destaca-se também no trabalho com os pés.»

A habilidade do prodígio tem dado que falar, não só no panorama nacional. Associado, no último defeso, a voos maiores, em campeonatos de maior expressão, o antigo profissional explicou os motivos que irão levar o camisola '99' a vingar num tubarão europeu.

«Primeiramente, porque tem muita bagagem europeia. Tem demonstrado uma habilidade acima da média na Liga dos Campeões, numa equipa cuja exigência é grande. O FC Porto participa na competição para vencer jogos e, como tal, é necessário alguém que cumpra os requisitos», salientou.

«Claro que irá depender muito do treinador que poderá apanhar pela frente, mas tem todas as capacidades para ser bem sucedido. O Diogo é jovem e ainda tem muito para aprender e crescer», acrescentou ainda.

Antonio Adán: o patinho feio dos leões

Considerado por muitos, na fase atual, o patinho feio dos leões, Adán tem desejado um pouco a desejar, fruto de exibições menos conseguidas. O atleta de 36 anos, no último duelo frente ao Vitória SC (3-2), concedeu uma grande penalidade e ficou muito aquém das expectativas no derradeiro tiro certeiro por parte dos conquistadores. 

A verdade é que estas falhas individuais têm acontecido com uma certa frequência, algo que não deve deixar Rúben Amorim agradado.  O ex-Atlético de Madrid é membro integrante de um sistema defensivo que ainda está longe de ser perfeito, uma vez que, embora líder, o conjunto de Alvalade é, apenas, a quinta menos batida no campeonato.

Beto colocou um ponto final na sua carreira com 41 anos, no HIFK Helsinki, da Finlândia. Questionado sobre se a idade pode ter influenciado esta quebra de rendimento do antigo colega de profissão, o lisboeta realçou o seu exemplo pessoal.

«Eu comecei a ficar melhor com mais idade [risos]. Eu senti-me melhor a partir dos 30 anos. Comecei a sentir-me muito mais confortável a nível de posicionamento, em qualquer zona do terreno. No entanto, pode retirar algumas aptidões físicas, nomeadamente alguma velocidade e potência.»

Aliás, o internacional português descartou uma eventual descida dos níveis qualitativos do experiente guarda-redes: «Eu não vejo o Adán com tanta perda de rendimento. Já o vi a marcar presença em várias situações. Por vezes acontece uma pequena falha, mas é algo que acontece a todos que desempenham esta função. Obviamente que os mais regulares são aqueles que sobressaem mais»

O vencedor da Nations League, em 2019, destacou, ainda, a última prestação do portero, para ressalvar a ingratidão associada à posição: «Ainda agora vi o jogo contra o Vitória SC e o Adán fez duas brilhantes intervenções. Às vezes, os guarda-redes defendem quatro remates, mas depois sofrem um golo. Infelizmente, as pessoas acabam por se esquecer do que tinha acontecido antes.»

Com o aparecimento das redes sociais, os futebolistas acabaram por ficar bem mais expostos ao criticismo. Contudo, Beto Pimparel garantiu a existência de discrepâncias: «Numa equipa que luta para títulos, a margem de erro é menor. O Tribunal Digital é agressivo, principalmente para quem atua num Grande. Os níveis de concentração têm que ser bastante mais elevados, porque as oportunidades para criar impacto serão reduzidas.»

Posto isto, para o guardião que representou a Seleção das Quinas por sete ocasiões, o madrileno também possui múltiplas armas que deverão ser relevantes ao seu conjunto: «É muito forte no um-contra-um. Apesar de não ter uma estatura elevada, acaba por posicionar-se muito bem, ocupando muito espaço. O seu timing de saída também roça a perfeição. Destaco também a tomada de decisão, que é algo que o Diogo ainda tem que melhorar.»

Os números não mentem: Adán com mais golos sofridos que o expectável

Para a obtenção de uma visão mais objetiva, nada melhor que dados estatísticos. Como tal, o zerozero utilizou a plataforma, FBREF, especialista em números associados ao futebol, para retirar algumas conclusões sobre as exibições na Primeira Liga.

No que toca a 'Remates à Baliza Concedidos', os valores entre Sporting e FC Porto são idênticos: 38 para os leões e 31 para os dragões. Porém, quando o assunto é a percentagem de intervenções, Diogo Costa leva a melhor, com 77,4%. Já a taxa de Adán é de 65,8%.

Contudo, esta percentagem não leva em conta as dificuldades das defesas. Analisaremos, então, os 'Golos Expectáveis por Remate', que coloca em cima da mesa a probabilidade de intervenção. Neste requisito, as diferenças são bem mais notórias, não sendo nada favoráveis para o espanhol.

Segundo a plataforma, Diogo Costa deveria sofrer 9,5 golos, registo semelhante aos nove tentos sofridos até ao momento. Todavia, no caso do guardião leonino, a diferença é de 3,6 golos... negativos. Ou seja, Adán foi buscar a bola às redes em 15 ocasiões, mas, face á qualidade dos remates, só deveria ter sofrido 11,4.

A formação de Alvalade tem o quarto pior registo neste parâmetro, fenómeno que não pode deixar nenhum adepto satisfeito. A título de curiosidade, Ricardo Velho, do Farense, destaca-se pela positiva, ocupando o primeiro posto, com +7,8.

Os números não mentem, mas também não ditam o futuro. Na noite desta segunda-feira, veremos quem terá mais motivos para sorrir.