O mercado de sobrevivência que cresce em Gaza em tempos de guerra

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Mercado improvisado no meio da destruição em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, a 16 de maio AFP

Numa terra onde tudo parece desaparecer, menos a criminalidade, cresce um mercado com produtos básicos indispensáveis à sobrevivência: comida, abrigo e dinheiro. No meio da destruição causada pelos ataques israelitas, durante os últimos sete meses, surgiu na Faixa de Gaza uma economia de guerra que prospera com a crescente crise humanitária e o profundo desespero dos palestinianos que tentam sobreviver não apenas às bombas israelitas, mas também à lei do mais forte imposta por especuladores e gangues criminosos.

A economia da Faixa de Gaza foi totalmente destruída pelo total bloqueio aéreo, terrestre e marítimo imposto por Israel ao enclave palestiniano, em resposta ao ataque liderado pelo grupo islamita Hamas a 7 de outubro, e pelos ataques aéreos e terrestres perpetrados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF), que destruíram e arrasaram mercados, fábricas, terras agrícolas e infraestruturas, dando lugar a uma economia de guerra, caracterizada pela oferta restrita e pela procura desesperada.

O choque para a economia de Gaza é um dos maiores da história recente, de acordo com um relatório do Banco Mundial, da União Europeia e da ONU, publicado no final de janeiro. O Produto Interno Bruto (PIB) do enclave palestiniano caiu 86 por cento no último trimestre de 2023, durante os três primeiros meses de conflito.

Mercado em tempos de guerra
Os correspondentes do jornal norte-americano The New York Times relatam um cenário de “mesas e secretárias de escolas transformadas em abrigos” que servem de expositores para vender “roupa usada, leite em pó para bebés, comida enlatada e raras fornadas de doces caseiros”. Mas também, em alguns casos, “pacotes inteiros” de ajuda humanitária, ainda “com as bandeiras dos países doadores e destinados a serem distribuídos gratuitamente”, no entanto vendidos “a preços que poucos podem pagar”.  "A maior parte dos produtos que se encontram nos mercados têm o rótulo “Não se vende”, conta Issam Hamouda, 51 anos, ao NY Times, que explica que os produtos saqueados acabam em mercados improvisados.

Antes da guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, Issam Hamouda era instrutor de condução, agora "sustenta a sua família de oito pessoas da única forma que pode", revendendo parte da escassa ajuda alimentar que recebem, escreve o jornal nova-iorquino.

"Uma vez recebi quatro quilos de tâmaras secas e vendi um quilo por oito shekels", contou, referindo-se à moeda israelita que equivale a cerca de 1,98 euros. 

A falta de dinheiro agrava a miséria

Com o bloqueio das transferências de dinheiro e a destruição das sucursais bancárias do território, nos últimos meses, a falta de notas também está a agravar a miséria na Faixa de Gaza, alimentando gangues de criminosos e especuladores, escreve a agência Reuters.

Após mais de sete meses de conflito entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, "apenas um punhado de caixas multibanco continua operacional na Faixa, a maioria dos quais na cidade de Rafah, no sul do país, onde se encontram cerca de 1,4 milhões de palestinianos”, conta.

À medida que a fome se espalha pelo enclave palestiniano, milhares de palestinianos desesperados, fazem fila em todo o lugar para obterem ajuda. "Ficar na fila é agora um trabalho a tempo inteiro, seja nos locais de distribuição de ajuda, nas poucas padarias abertas ou nas poucas A.T.M.s ou lojas de câmbio", escreve o NY Times.

"Muitas vezes esperam dias pelo acesso" à porta das caixas multibanco, explica a Reuters, que revela que, por vezes, "bandos armados exigem o pagamento de uma taxa para terem acesso prioritário", aproveitando a ausência da polícia palestiniana.

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