“O populismo reacionário não é capaz de entregar nada”

7 meses atrás 49

Conversa com o cientista político e professor universitário brasileiro, no Cícero Bistrot, na sua recente passagem por Lisboa. Sobre a mesa, um café cremoso, os perigos que a Democracia enfrenta, a direita radical, o papel dos partidos políticos e a História, “que sempre recomeça”.

O café chegou à mesa, aromático. Não enaltecemos o dito, pois um ‘reacionário’ entrou na conversa. Num tweet dirigido a Christian Lynch, o autor, anónimo, insulta o próprio e os brasileiros que vivem em Portugal. “O interessante nisso é que você vê que o pensamento reacionário está ligado à ideia de um essencialismo cultural, histórico, do que o país seria. Portugal é uma coisa definida, com cidadãos que são católicos, patriarcais, chefes de família. Ou seja, esses são os ‘homens de bem’”, comenta o cientista político e professor universitário brasileiro. O mote está dado.

O que é que caracteriza o pensamento reacionário?
É o facto de que a política tem de ser orientada por valores religiosos. Então, ele é contrário ao Estado, ao Estado de Direito e ao Estado de Direito Democrático, porque este é um Estado de bem-estar social, e esse é um Estado de comunismo, perversão, crime. O Estado socialista, social-democrata, eles chamam isso de comunismo. Na sua perceção, [Portugal] é comunista porque é governado por um partido socialista. Mas também são contra o Estado de Direito. Porquê? Porque consagra a laicidade, portanto, é um Estado pagão, ou que tolera diversos paganismos.

E onde enquadra a direita radical, populista?
Existe uma espécie de dégradé: um conservadorismo ainda democrático, liberal, como o PSD em Portugal, e como era o PSDB no Brasil. E aí você tem um dégradé de direita radical que começa a sair do quadro constitucional, aparentemente, com um pé dentro e um pé fora [do sistema]. Isso é um conceito reacionário de democracia, sendo que esta é só para o “povo de bem”, o “cidadão de bem”. E é preciso entender o que é o “cidadão de bem” – é a família salazarista, a família patriarcal. A ideia é que você tem de corrigir a democracia, porque ela é só para esse povo. O conservador, o que é que ele quer? Quer operar a mudança mantendo a tradição. O reacionário não, ele acha que tudo se perdeu, tudo ficou no passado e aí passamos a ter uma utopia reacionária, ou uma ‘retropia’, se você quiser. Há um passado que é idealizado e ao qual é preciso voltar, e esse é o passado em que não havia Estado.

Conteúdo reservado a assinantes. Para ler a versão completa, aceda aqui ao JE Leitor

Ler artigo completo