O que é o fenómeno DANA que causou cheias em Espanha e pode afetar Portugal?

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Valência

30 out, 2024 - 18:58 • Diogo Camilo , Carla Fino

Num só dia, caíram mais de 400 litros de chuva por metro quadrado em Valência - o dobro do máximo alguma vez registado em Portugal continental. A depressão isolada a níveis altos (DINA, em português) é um fenómeno meteorológico que acontece todos os anos e que vai passar pelo nosso país entre hoje e amanhã, mas com muito menos intensidade.

As chuvas torrenciais e inundações no leste de Espanha já fizeram pelo menos 95 mortos desde terça-feira, naquela que foi a noite com maior precipitação em quase três décadas na região de Valência. O responsável é o fenómeno DANA, ou em português “depressão isolada a níveis altos” - DINA - , que acontece todos os anos na região mediterrânea da Península Ibérica, mas que não afetará Portugal com tanta intensidade.

Apenas nesta terça-feira, choveram 445,4 litros por metro quadrado (mm) em 24 horas - mais do dobro do máximo alguma vez registado em Portugal Continental, de 220 mm nas Penhas da Saúde, a 14 de janeiro de 1977, e só abaixo do máximo na Madeira, registado em junho do ano passado, em Chão do Areeiro.

Para colocar as coisas em perspetiva, choveu tanto num dia como é normal chover num ano inteiro na região de Valência - a média anual de precipitação na Comunidade Valenciana é de cerca de 500 mm.

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O que é a DANA?

Ao contrário do que acontece com outras depressões, DANA não é o nome da tempestade, mas sim a sua definição: “depressão isolada em níveis altos” no acrónimo em espanhol DANA, ou em português - DINA.

Acontece quando uma massa de ar polar frio em altitude (entre os 5.000 e os 9.000 metros) se separa do fluxo atmosférico e encontra uma massa de ar tropical quente e húmido à superfície, com um choque de pressões que dá origem a chuvas torrenciais e tempestades como as que foram observadas na região de Valência.

Embora seja também chamado de “gota fria”, o nome não é inteiramente correto, uma vez que o conceito apenas se refere às consequências causadas pela depressão, pelo que o termo DANA é mais específico para a situação, como descreve a Agência Meteorológica Espanhola (AEMET).

Como e em que altura aparece?

A DANA acontece todos os anos e não é exclusiva de uma altura do ano, embora seja mais normal ocorrer durante a primavera e o outono.

No ano passado, o mesmo fenómeno fez oito mortes no início de setembro, atingindo 28 distritos espanhóis. Em setembro de 2019, Alicante e Murcia foram atingidos durante dois dias por um temporal em que seis pessoas perderam a vida e no qual foram contados prejuízos superiores a 1,3 mil milhões de euros.

A depressão é formada quando a corrente de ar frio se separa da corrente polar e é mais comum após uma sucessão de dias secos e calor intenso, como o período chamado em Espanha do “Veranillo de San Miguel”.

A região onde é mais comum este tipo de fenómeno é a do Mediterrâneo, onde ocorre o choque entre o ar polar que passa pela Europa Ocidental e o ar quente e húmido que vem do Mar Mediterrâneo. Toda a costa leste de Espanha, de Barcelona a Almería, passando por cidades como Valência e Múrcia, está particularmente exposta à DANA.

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Quanto choveu em Valência?

A tempestade que passou pela Comunidade Valenciana foi a maior desde um fenómeno de “gota fria” a 11 de setembro de 1996, quando caíram 520 litros por metro quadrado em Tavernes de la Vall.

Numa localidade em particular - Chiva, a cerca de 30 quilómetros de Valência -, choveu o equivalente a um ano inteiro em apenas oito horas: 491 litros por metro quadrado, semelhante à média anual na região (500 mm).

À Renascença, a especialista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Ângela Lourenço, indica que a causa para as inundações deveu-se à queda de elevados volumes de precipitação “num espaço de tempo muito curto” e que em Portugal “não é tão comum acontecerem estes episódios”, com o facto da depressão ter estado muito tempo no mesmo local a contribuírem.

Com pelo menos 95 vítimas registadas até ao momento - 92 na Comunidade Valenciana, uma na Andaluzia e duas em Castilla La Mancha -, já é o fenómeno meteorológico com maior número de vítimas em Espanha desde agosto de 1996, quando chuvas torrenciais fizeram 87 mortes em Huesca.

Como pode afetar Portugal?

À Renascença, Ângela Lourenço explica que a mesma depressão que deu origem a inundações em Espanha irá passar por Portugal, embora com menor intensidade.

“A depressão está mais ou menos estacionária, com movimentos mais ou menos para oeste. Nas próximas 48 horas vai ter um deslocamento para o Atlântico e vai atravessar o território [de Portugal continental]”, explica a meteorologista.

O impacto deverá acontecer entre a tarde desta quarta-feira e a tarde de amanhã, quinta-feira, mas sem a “severidade que foi registada em Espanha”.

“Espera-se uma precipitação forte, mas sem a gravidade da que originou os episódios em Espanha. Ainda assim, consideramos o nível de aviso amarelo”, considerou, alertando as pessoas para um possível agravamento ou para um aviso para distritos que atualmente não o têm.

Neste momento, estão em aviso amarelo 12 distritos: Beja, Aveiro, Coimbra, Porto, Santarém e Leiria vão estar sob aviso amarelo entre as 12h00 desta quarta-feira e as 00h00 de quinta-feira; enquanto em Évora, Viseu, Guarda, Castelo Branco e Portalegre o aviso vai vigorar entre as 12h00 de hoje e as 00h00 de quinta-feira e entre as 12h00 de quinta-feira e as 00h00 de sexta-feira.

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