O voo baixinho de Raimundo na primeira passagem por Évora

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Às portas da empresa Aernnova, que fabrica asas para aviões, o secretário-geral do PCP veio aproveitar a mudança de turno para entregar folhetos da Coligação Democrática Unitária (CDU, que junta PCP e PEV). "Amigo, posso deixar-lhe um documentozinho da CDU?", pergunta, repetidamente, agradecendo de seguida aos trabalhadores, quer aceitassem, quer seguissem em frente sem o papel nas mãos.

Com a concentração de pouco mais de uma dezena de pessoas da comitiva e da comunicação social junto ao portão, vários trabalhadores que vão entrar ao serviço até procuram contornar a agitação para evitar o contacto. Apesar da pouca recetividade inicial, Paulo Raimundo vai trocando algumas piadas com a deputada e candidata distrital Alma Rivera. "Com um rapaz jeitoso destes é mais fácil", atira, em alusão ao seu próprio rosto nos folhetos.

O vaivém de trabalhadores com os casacos escuros da empresa é uma constante junto ao portão, mas obriga a comitiva a reposicionar-se mais do que uma vez, para que Paulo Raimundo consiga distribuir primeiro os folhetos a quem passa. "Eles vêm de todos os lados, ainda dizem que não há operários", comenta.

Alguns aceitam o folheto quase sem olhar para o líder comunista, até que Paulo Raimundo encontra uma cara conhecida do passado e trocam um cumprimento mais expansivo. "É um amigo lá de Setúbal, lá da escola. O mundo é mesmo pequeno", conta a Alma Rivera, brincando ainda com o contraste entre o cabelo comprido do trabalhador que conhecia e a sua própria falta de cabelo.

"É engraçado como ele continua com o cabelo comprido e eu estou nesta figura. Uma vez, com 20 e poucos anos, fui ao médico de família -- quando ainda tinha -- e já me estava a cair o cabelo. Perguntei à doutora, 'há alguma coisa para a queda de cabelo?', e ela perguntou-me 'Tem alguém assim na família?'. Eu disse 'Tenho, o meu pai'. Ela perguntou, 'Tem dinheiro para gastar?', eu disse que não. 'Então conforme-se', e foi um descanso, nunca mais me preocupei com o cabelo", recorda, fazendo rir os que estavam à sua volta.

Pouco depois ouve-se um alarme, provavelmente a sinalizar o início do novo turno. Já não havia muitos mais trabalhadores a quem entregar os papéis que restam ainda nas mãos, passando então Paulo Raimundo às declarações aos jornalistas. Confrontado com as várias pessoas que não quiseram aceitar o folheto da CDU, o líder comunista relativiza e lembra que há razões para estes trabalhadores "terem perdido a confiança" nas respostas aos problemas.

"Nem todos aceitaram, é um facto. A grande maioria aceitou, como viram. Os que não aceitaram não fizeram cara feia. Não queriam, não há nenhum problema com isso. É mesmo assim. Se aceitassem todos com um entusiasmo grande dava logo cabo de toda a perspetiva de a gente desaparecer", afirma, continuando: "Outros experimentem fazer o mesmo. Nós vimos cá confrontar essa justa indignação, distribuir as nossas propostas, dar a cara".

Enquanto presta declarações, um carro passa a alta velocidade atrás da comitiva e ouve-se um grito pelo Chega. "É caso para dizer 'chega para lá'", graceja Paulo Raimundo, que recusa, porém, que o partido de André Ventura esteja a acelerar pela direita e a roubar votos à CDU no distrito de Évora, numa transferência de votos direta entre as duas forças políticas.

"Acho que alguém colocou essa narrativa e foi tudo atrás. Não há nenhum dado que demonstre isso. De facto, nas últimas eleições, em 2022, descemos. Não há nenhuma dúvida, mas quem subiu à nossa custa foi o PS, que encheu e agora vai despejar. E vai despejar para a CDU", reitera, concluindo: "Foi criada uma narrativa de que os nossos votos foram para o Chega e isso não tem nenhuma correspondência com a realidade. Aliás, vamos verificar isso no dia 10 de março".

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