A pressão nos preços tem vindo a recuar, mas permanecem riscos ligados ao mercado laboral e às cadeias logísticas, pelo que os bancos centrais devem mover-se com precaução, aconselha a OCDE.
A queda da inflação nos últimos trimestres cria espaço para os principais bancos centrais ocidentais começaram a cortar taxas em breve, mas o fenómeno dos preços deve estar bem controlado, argumenta a OCDE, uma condição que se tem vindo a complicar com o reacender de tensões geopolíticas e com a dinâmica salarial acima da inflação em várias economias.
No mais recente relatório de perspetivas macroeconómicas globais publicado esta segunda-feira, a organização reconhece que a pressão nos preços tem vindo a acalmar no final do ano passado, criando margem de manobra para a Reserva Federal, Banco Central Europeu (BCE) e Banco de Inglaterra (BoE) para começarem a reverter em breve os disparos recentes nos juros. Ainda assim, permanecem algumas tensões que devem ser acauteladas, sobretudo no que respeita a salários e logística.
O relatório relembra que o mercado laboral permanece aquecido nestas economias, com ganhos salariais acima da inflação que arriscam prolongar a pressão inflacionista por mais tempo. Recorde-se que nos EUA, por exemplo, janeiro viu uma criação de emprego de 353 mil postos, quase o dobro dos 180 mil projetados pelo mercado, enquanto a zona euro registou aumentos salariais na casa dos 5,3% no terceiro trimestre, quando a inflação rondava já os 3%.
Por outro lado, os ataques no Mar Vermelho têm causado disrupções consideráveis no tráfego marítimo internacional, agravando custos para a generalidade das empresas europeias. Embora a situação não se assemelhe em magnitude às perturbações vividas aquando da pandemia, são uma fonte de pressão acrescida e um foco de preocupação na dinâmica de preços na zona euro.
“A política monetária terá de manter-se prudente para assegurar que as pressões inflacionistas subjacentes estão contidas”, lê-se no relatório. Assim sendo, a postura “deve continuar restritiva por mais algum tempo”, o que sugere que os cortes deverão surgir só na segunda metade do ano.
Os mercados têm vindo a colocar o foco no corte esperado de juros, apostando em descidas já no primeiro trimestre face a uma inflação que tem vindo a recuar nas últimas leituras de 2023. No entanto, os bancos centrais têm procurado afastar esta possibilidade, sinalizando precaução no combate à pressão nos preços.
A OCDE alerta ainda para o peso da dívida nas contas públicas, alertando que os níveis de endividamento se mantêm acima do registado antes da pandemia na generalidade dos países e que muitos registam mesmo rácios de endividamento só comparáveis a alturas de guerra. Como tal, a articulação com a política monetária deve ser maior e a política orçamental deve ser “mais inteligente”, procurando reduzir os encargos para gerações futuras.