Ocidente volta a pressionar a China para adotar medidas ‘ocidentais’

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A reunião anual do Congresso Nacional do Povo costuma ser usada pela Europa e pelos EUA para aconselhar o regime de Xi Jinping na frente económica. Tradicionalmente, o regime não liga aos conselhos – e não se tem saído mal.

À medida que a reunião anual do Parlamento da China se aproxima (será em 5 de março), o ocidente vem acrescentando pressão sobre os líderes do regime de Pequim para que aceitem implementar medidas que, na ótica ocidental, permitam a salvaguarda do potencial de crescimento da economia a longo prazo.

No início do ano, as ações das empresas chinesas caírem para mínimas de cinco anos devido a preocupações com o crescimento e a deflação nunca vistos desde a crise financeira global, provocando comparações com a turbulência de 2015, que forçou as autoridades centrais a agir.

“A última vez que a liderança chinesa enfrentou esse tipo de pressão foi em 2015”, disse Tommy Wu, economista para China do Commerzbank, citado pela agência Reuters, que acrescentou: “2024 é um ano crucial para a China estabilizar a economia. “No entanto, a situação atual é muito mais complicada.”

A China superou a crise de 2015 desvalorizando o yuan e apertando a sua conta de capital para evitar saídas, enquanto despejava recursos em propriedades e infraestrutura e cortava as taxas de juros em mais de 100 pontos-base. Na altura, o ocidente queixou-se de que as medidas aprofundavam o peso do Estado na economia e impediam o andamento ‘natural’ do crescimento.

Como era evidente que iria acontecer, o governo chinês manteve-se impávido e sereno e continuou a aplicar os ‘remédios’ que entendia como certos. O futuro viria a dar-lhes razão – e a retirá-la aos críticos ocidentais: a economia do antigo Império do Meio recuperou e em pouco tempo as perspetivas de crescimento voltaram a colocar o país à frente em termos de crescimento.

O cenário repete-se: quando a economia chinesa ‘abana’, os analistas tratam de envolver o governo do país numa barreira de críticas e, pior ainda, de conselhos tendencialmente liberais, que o regime de Xi Jinping olimpicamente despreza.

Para o ocidente, a receita anterior não funcionará desta vez, limitando as suas opções para consertar uma economia ‘aos soluços’ e encontrar uma saída para o que ameaça tornar-se uma espiral descendente autoalimentada na confiança do consumidor e do investidor e no crescimento económico.

Uma maior flexibilização da política monetária corre o risco de uma corrida aos ativos em yuan devido a uma diferença crescente das taxas de juros com outras economias e pode exacerbar as pressões deflacionárias à medida que o crédito barato flui para o complexo industrial da China, repleto de excesso de capacidade, refere a análise da Reuters.

“É subestimado o quão restrita Pequim está neste momento, em termos de opções para estimular a economia por meio da política fiscal ou por meio de um crescimento mais rápido do crédito dos bancos”, disse Logan Wright, sócio do Rhodium Group, citado pela agência. “A China não tem boas opções para manter o crescimento por meio dos seus canais tradicionais.”

Os mercados querem planos claros e de longo prazo para limpar o sector imobiliário, reestruturar a dívida e mudar para um modelo de crescimento mais sustentável, que dependa menos de excessos de investimento alimentados pela dívida e mais do consumo das famílias. Mas essa é apenas a visão do ocidente – e nada faz crer que o regime de Xi Jinping passe a usar a ‘cartilha’ que lhe chega dos Estados Unidos.

No encontro anual, o primeiro-ministro Li Qiang deve entregar o seu relatório anual que define as metas económicas do ano, incluindo um crescimento constante para 2024 em cerca de 5% e um défice orçamental de 3% do PIB. Com o ocidente a revelar incapacidade geral em chegar a um nível de crescimento do mesmo nível e com os orçamentos a derraparem – nomeadamente por causa do esforço de apoio às guerras, os conselhos oriundos da Europa e dos Estados Unidos soam um pouco estranhos. Em 2024, acontecerá provavelmente o mesmo.

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