OPINIÃO | A bazófia do Benfica é um erro histórico

6 meses atrás 52

«Campo Pelado» é o espaço de opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Uma homenagem ao futebol mais puro, mais natural, onde o prazer da camaradagem é a única voz de comando. «Campo Pelado».

* Chefe de Redação

Às vezes, assim muito de vez em quando, os jornalistas fazem perguntas inteligentes. Questões preparadas ao mais ínfimo detalhe, daquelas incapazes de causar indiferença.

Uma das minhas favoritas é esta: «Qual era o seu objetivo para este jogo?»

Não desistam já deste texto. A verdade é esta: de tão básica, a dúvida é bem capaz de ser essencial, um bocadinho no respeito pela lógica das coisas simples.

Dragão, 3 de março de 2024. O Benfica é sovado pelo FC Porto, a exibição é aterradora, herr Schmidt chega à sala de imprensa e em cinco minutos só se fala de estados de alma.

As desculpas por pedir aos adeptos, a constatação do descalabro, o disparo de banalidades na língua de Shakespeare.

Tudo certo, sim senhor. E explicações para os grotescos lapsos estratégicos, para a movimentação amadora sem bola, para a incapacidade de adivinhar os tempos de pressão? Nem vê-las. 

Back to the basics.

«Senhor Schmidt, o que pretendia o Benfica para jogar contra o FC Porto?»

Eu não percebi, provavelmente não estarei sozinho nisto. Se estiver, desculpem a ignorância. Em minha defesa, como bem escrevia o génio Nelson Rodrigues, a ignorância é só o desconhecimento dos factos. Burrice é outra coisa, é uma força da natureza. Disso julgo estar livre.

Não há só uma razão para a debacle do Benfica no Clássico. Estratégia, treino, alma, coração, músculos, enfim, a palete de boas desculpas é imensa, um caleidoscópio de incompetência.

Foco-me numa: a bazófia.

Não é um insulto, não é um atentado de caráter. É uma explicação histórica, baseada num gigantismo medido em milhões de adeptos e disseminado pelos Media, cargos governamentais, ONG, enfim, por todos os cantos da sociedade portuguesa.

A dimensão social maiúscula do Sport Lisboa e Benfica é, paradoxalmente, um pé de barro no campo desportivo. Rouba-lhe equilíbrio e lucidez, por responsabilidade de aduladores desentendidos - «o Benfica é demasiado grande para a liga portuguesa», lembram-se? - e dirigentes impreparados - «o Benfica será maior do que o Real Madrid», Vieira dixit.

Esta soberba é um erro histórico. E um erro com repercussões no comportamento presente.

Número de adeptos à parte, o Benfica em nada se tem revelado superior ao rival do Norte nos últimos 50 anos – respeitemos o simbolismo da Revolução dos Cravos e da democracia conquistada pelos nossos Pais e Avós, para agora vivermos e escrevermos em Liberdade.

Vamos aos números.

Do 25 de abril de 74 até estas linhas, Benfica e FC Porto defrontaram-se 152 vezes. Há 67 vitórias dos dragões (44%), 44 das águias (29%) e 41 empates.

Se nos limitarmos só ao campeonato nacional, a conclusão mantém-se: 45 triunfos do FC Porto (45%), 24 do Benfica (24%) e 31 igualdades nos 100 jogos oficiais.

E se preferirmos pensar apenas nos jogos realizados no Porto – à semelhança deste último -, então os números são ainda mais claros: 30 vitórias portistas (60%), 12 empates (24%) e oito vitórias benfiquistas (16%).

O número de troféus nacionais e internacionais (72 do FC Porto contra 45 do Benfica) também desaconselha esta águia ufana. Mas é o que é.

A força popular e a influência social levam o Benfica a acreditar numa superioridade que, objetivamente, não existe. A não ser, e isso também é objetivo, no número de apoiantes e nas Finanças mais saudáveis.

PS: se ampliarmos o campo de análise, afastamo-nos ainda mais da realidade de 2024 e por isso decidi a fasquia de 50 anos, e do 25 de abril, como sensata. De qualquer forma, o Benfica é ainda a equipa portuguesa mais vezes campeã nacional. Em relação ao número de troféus oficiais, a lista é mais discutível. Na contabilidade do zerozero, o Benfica tem 85 e o FC Porto segue com 84. A diferença está na Supertaça ganha pelas águias em 1980, quando a prova ainda era «oficiosa» para a FPF. No entanto, a federação inclui essa edição no palmarés disponível. O nosso portal segue essa lista. 

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