OPINIÃO | Era uma vez um FC Porto - Man. United, 1974

«O Futebol sob uma perspetiva de cultura pop»

1973. As Antas enchiam para receber o astro argentino Heredia, emprestado pelo Barcelona. Surpresa e algum espanto, numa era em que o FC Porto não tinha escala ou outra palavra parecida para receber alguém que vinha do gigante Barcelona . 

Ainda mais invulgar: o adversário dessa tarde de Gala foi o Manchester United. Cinema? Not really. O treinador dos mancunians era o excêntrico Tommy Docherty, de quem se dizia apreciador de “iguarias“ portuenses e admirador do meu ídolo Pavão que, e segundo, os mentideros da época, estaria a caminho de Inglaterra tal era o interesse do excêntrico escocês pelo talentoso flaviense!

Um empate a duas bolas iniciava uma série de disputas, com resultados surpreendentes, goleadas, mind games e um Jogo de Vida que não é, e apesar da sua extrema importância para o futuro, por exemplo de Mourinho e do próprio FC Porto, o tal em que Costinha está onde devia e divinamente estar!

Outubro 19, 1977. São 60 000 (segundo o zerozero) a assistir, atónitos ao hat-trick de Duda e ao habitual momento artístico de Oliveira. Os Arrogantes Britânicos prometiam resolver o humilhante assunto no então Working Class, Old Trafford! Coppel, McIlroy e o poderoso tanque Joe Jordan, acesos pelos cânticos de Five-Nil dos fans, massacram (por vezes com complacência da arbitragem) a equipa de Pedroto e nem o primeiro golo de Seninho impede os Red Devils de chegar ao 3-1 com que se inicia a segunda parte com e agora “apenas” três golos que a BBC (via o meu querido Grundig) anunciava: Old Trafford believes The Miracle .

Confesso que, após o quarto golo, não aguentei mais e só recupero emocionalmente com o segundo e algo bizarro golo de Seninho, que com este jogo teria lugar no então fabuloso New York Cosmos! Mas Murça, tal como Seninho, faria dois golos, mas na baliza errada!

Noutra era, noutro contexto, FC Porto e Manchester United voltam a defrontar-se. E como por magia recuperam, em 2024, uma espécie de viagem sensorial a momentos em que o tempo e memória se confundem...