OPINIÃO | Francisco Conceição: inevitável

4 semanas atrás 36

«Campo Pelado» é o espaço de opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Uma homenagem ao futebol mais puro, mais natural, onde o prazer da camaradagem é a única voz de comando. «Campo Pelado».

* Chefe de Redação

A delicadeza do processo-Conceição (filho) mereceu de André Villas-Boas um trato de ourives. Era de um produto fino que se tratava e os riscos associados não se julgavam despiciendos.

Dito isto, todo o cuidado na gestão de expetativas estaria sempre condenado a uma imperfeição parcial. Não havia aqui um cenário ideal, fosse qual fosse o epílogo.

Medindo os prós, os contras, as emoções envolvidas e o interesse supra do FC Porto, a saída de Francisco Conceição para a Juventus foi a mais inteligente das soluções.

O empréstimo avaliado em dez milhões de euros – confiando no apuramento da Juventus para a Liga dos Campeões – é uma notável movimentação de mercado de AVB, Zubizarreta e restante equipa.

Uma prova de força e conhecimento, num clube que há poucos meses se digladiava por despojos de uma guerra intestina, provocada por vícios insuportáveis de 40 anos de poder - e escassa sensatez dos destronados.

Começo pelo lado financeiro. Se o FC Porto vendesse Francisco pelo valor atual da cláusula (45 milhões) ou perto disso, teria sempre de entregar 20 por cento dessa verba ao atleta e mais dez ao empresário Jorge Mendes.

Perderia o controlo sobre o futuro de um mais-do-que-prometedor futebolista e o lucro não seria nada de extraordinário. Assim, com este empréstimo, encaixa uma verba importante para a gestão corrente e dentro de um ano volta a ter a ficha de Francisco para análise interna.

O dinheiro, principalmente numa instituição empurrada para a penúria pela gestão danosa dos últimos anos, é um elemento primordial, mas neste caso em concreto subordino-o ao lado disciplinar e emocional.

Sejamos claros: Francisco tem uma ligação fortíssima ao pai (felizmente) e certamente é influenciado pelo que diz e pelo que sente o progenitor. Ora, como se sabe, a perspetiva de Sérgio Conceição sobre a promoção de Vítor Bruno não é bonita: o ex-treinador sentiu-se atraiçoado.

Se Francisco ficasse no FC Porto, iria trabalhar sob as ordens do homem que, na perspetiva familiar dos Conceição, traiu o pai.
Impossível. Uma bomba relógio pronta a explodir.

O FC Porto perde um tremendo executante, sim, mas elimina um foco de problemas. Extingue um incêndio certo, antes deste deflagrar. E continua a ter nomes mais do que competentes para preencher o lado direito do ataque. Este é o lado desportivo.

Penso em Pepê, em Gonçalo Borges, até em Fábio Vieira se o treinador preferir um extremo de características mais cerebrais e a jogar por dentro.

Uma separação inevitável. 

PS1: tudo me soa a estranho nos últimos tempos dos Conceição no FC Porto. O pai Sérgio a renovar contrato a 48 horas das eleições – para ganhar a Champions, diz o ex-presidente, quando a Champions não entra no calendário portista em 24/25 -, o filho Francisco a ampliar a ligação até 2029 e a inscrever no seu acordo cláusulas mais do que discutíveis. Sete épocas são muito tempo, mas mal do FC Porto – assim como do Sporting, do Benfica, do Boavista, do Vitória, do SC Braga – se estivesse condicionado pelos humores de um brasão familiar. É demasiado grande e demasiado forte para isso.

PS2: vénia ao comportamento da task force do FC Porto no ataque ao mercado de transferências. Vendas robustas (Evanilson, Carmo, o empréstimo de Chico, até a saída de Toni Martinez) e aquisições certeiras, capazes de entusiasmar o portista comum. Penso, sobretudo, no explosivo Samu Omorodion e em Fábio Vieira, o génio de Argoncilhe. Falta um defesa central de grande qualidade. Há um mês, nem o mais otimista dos dragões sonharia com um plantel com a competência do atual. 

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