OPINIÃO | Para ti, Pavão

9 meses atrás 56

«O Futebol sob uma perspetiva de cultura pop»

A época 1973/1974 começava com uma derrota do FC Porto frente ao CF Os Belenenses no então Estádio Almirante Américo Thomaz. E os resultados seguintes da equipa então treinada pelo mago Bella Guttman indicavam que seria mais uma época em que muitas almofadas seriam arremessadas das bancadas (uma prática comum nesses tempos).

Empates com a CUF, Sporting, Académica de Coimbra, derrota na Luz perante um Benfica «amaldiçoado» pelo mago magiar.

Chega entretanto uma notícia incrível: o craque peruano Teófilo Cubillas, «congelado» pelo frio de Basileia, e encantado em rumar a climas mais amenos e convencido por um golpe de mestre do então diretor Jorge Vieira, vem para o FC Porto, algo que nem adeptos «doentes» como eu acreditavam.

Para concretizar a vinda realizou-se o que seria hoje um crowdfunding. O meu Pai contribuiu com 1000 escudos. A cidade e o clube uniram -se nesse objetivo surreal e até a grande estrela da equipa se chegou à frente com, e se não estou errado, uma contribuição de dez mil escudos - quantia apreciável para a época.

E mais: Pavão, de seu nome artístico, revelava a satisfação de todos e a vontade de jogar com uma estrela do calibre de Dom Teófilo.

Chegou o dia 16 de Dezembro, a jornada 13, o minuto 13. O Vitória FC de Setúbal, treinado pelo «escorraçado» José Maria Pedroto, era e como sempre um adversário que lotava o meu Estádio das Antas. E assim foi: um mar cinzento e monocromático de guarda-chuvas criava uma espécie de quadro expressionista que nunca mais esqueci.

Nesse dia já estava eu na bancada central, mesmo em cima da linha de meio campo, e observo um movimento de bailado de Fernando Pascoal Neves (há quem diga das Neves, mas penso ser este o nome correto!), que elegantemente o caracterizava.

O jovem prodígio de Chaves, que só não foi jogador do Benfica porque Lisboa ficava num «outro planeta, braços abertos, plasticamente notável, endossa a bola ao jovem Oliveira e indica-lhe para seguir com o lance. Segundos depois cai de uma forma estranha e impactante. Logo ali se fez aquilo a que chamo um Silêncio Tonitroante, um prenúncio de Morte, como diz a canção dos GNR.

Um silêncio sepulcral, emocionalmente mais violento do que o volume de um concerto dos Metallica. Tombava um deus no seu Olimpo: o relvado.

O meu Pai, também transmontano e que o conhecia e me contava histórias dignas da rock star que Pavão era, não balbuciou mais uma palavra e à saída a multidão como antecipou o Funeral - que, entre outros, teve a presença de Eusébio, captado a observar com o máximo respeito o seu colega de profissão e ídolo de um jovem que, 50 anos mais tarde, consegue partilhar com todos um dos seus momentos de Vida! 

Nunca te esquecerei, Pavão, e aqui estou a cumprir a promessa. 

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