Organizações redobram esforços para levar alimentos à população de Gaza

6 meses atrás 68

A entrada dos camiões com ajuda está concertada com a partida de um navio que deixou o Chipre esta terça-feira carregado com 200 toneladas de alimentos numa tentativa de quebrar a espiral de catástrofe que está a desenhar-se no território palestiniano face ao cerco montado por Israel há cinco meses, após os ataques de 7 de outubro do Hamas contra comunidades israelitas.

Um molhe está a ser construído na Faixa de Gaza para receber a ajuda via marítima, inaugurada com o acostar de um primeiro navio que abriu esta terça-feira a rota cipriota. Os responsáveis da ONU saúdam estes esforços mas sublinham que esta não pode de forma alguma vir a substituir a opção da ajuda por terra.

Telavive está a ser pressionada pela comunidade internacional, incluindo o seu mais fiel parceiro, os Estados Unidos, para permitir a entrada de auxílio em Gaza quando o mundo assiste em direto à escalada de uma crise humanitária que já levou à morte de palestinianos pela fome.

O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, dizia esta terça-feira que os Estados Unidos estavam “a trabalhar com os israelitas para aumentar o fluxo de assistência humanitária por terra, tanto através de Kerem Shalom quanto através da nova travessia onde os primeiros camiões entraram ontem à noite”.

Na estimativa das Nações Unidas são quase 600 mil os palestinianos de Gaza que estão a um passo da fome e que no norte do território se esgota o tempo para 300 mil pessoas que vivem nestes dias com escassez de comida e água potável sem que as agências consigam chegar até eles com suplementos.

Num momento em que Israel está a ser acusado de usar a fome como arma de guerra neste conflito com o Hamas, o Ministério da Saúde controlado pelo movimento palestiniano informou que 27 pessoas, 23 das quais crianças, morreram já de fome e desidratação nos hospitais do território. Rota a norte de Gaza “é possível”

De acordo com os responsáveis das Nações Unidas, o Programa Alimentar Mundial (PAM) conseguiu esta terça-feira entregar alimentos para 25 mil pessoas. Foram cerca de 88 toneladas de pacotes de alimentos e farinha de trigo que entraram nessa rota a norte do território rumo à cidade de Gaza.

Shaza Moghraby, porta-voz do PAM, aponta que o sucesso da entrega dos abastecimentos na noite desta terça-feira são a prova de que as rotas terrestes são a melhor solução e de que “é possível transportar alimentos por estrada”.

“Esperamos aumentar esta operação, precisamos que o acesso seja regular e consistente, especialmente com as pessoas no norte de Gaza à beira da fome. Precisamos de pontos de entrada diretamente para o norte”, declarou esta responsável do programa mundial à Reuters.

A ajuda escassa que chega a Gaza tem entrado através das passagens de Kerem Shalom, controlada por Israel a norte, e de Rafah, controlada pelo Egito a sul, mas a ONU adverte que “os combates contínuos e os bombardeamentos israelitas, a que se soma a insegurança e o fecho frequente das fronteiras e restrições de acesso” impedem uma chegada segura e consistente da ajuda humanitária vital às populações palestinianas.

 
Têm sido, nesse sentido, procuradas outras soluções complementares para conseguir fazer chegar alimentos aos palestinianos e nas últimas semanas foi posta em prática a largada aérea de suplementos, mas as populações queixam-se de que são escassos os mantimentos que lhes chegam nessas condições.

As rotas marítimas começam agora a ganhar vida e chega entretanto o primeiro navio que partiu do Chipre rumo a Gaza. Um outro carregamento deve deixar o porto de Larnaca, na costa cipriota, depois de se verificar o sucesso da primeira rota marítima de alimentos.

“Para a entrega de ajuda em escala não há substituto significativo para as muitas rotas terrestres e pontos de entrada de Israel em Gaza. As rotas terrestres do Egito, Rafah em particular, e Jordânia também continuam a ser essenciais para o esforço humanitário geral [mas] o corredor marítimo traz uma opção adicional muito necessária e faz parte de uma resposta humanitária sustentada para fornecer ajuda da forma mais eficaz possível através de todas as rotas possíveis” sublinharam a coordenadora humanitária e de reconstrução da ONU para Gaza, Sigrid Kaag, e o diretor executivo do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS), Jorge Moreira da Silva.

Segundo navio pronto a largar de Chipre

“Na opção atual, estamos a operar através de uma ONG e já temos um acompanhamento com um navio comercial maior” que poderá deixar Chipre “após a primeira descarga, se não houver problemas”, avançou o ministro cipriota dos Negócios Estrangeiros, Constantinos Kombos, explicando que o navio “está em Larnaca desde sábado [e] navio e carga estão a ser inspecionados”.

A ajuda foi fretada pela organização não-governamental (ONG) World Central Kitchen (WCK), parceira na organização da primeira viagem, bem como pelos Emirados Árabes Unidos e outros países, esclareceu o governante cipriota.

O primeiro barco que utiliza um corredor marítimo entre Chipre e a Faixa de Gaza (370 quilómetros) pertencente à ONG espanhola Open Arms e largou na terça-feira com 200 toneladas de ajuda a bordo.

Trata-se de “uma viagem inaugural e temos de garantir que temos a capacidade de descarregar e distribuir” a ajuda em boas condições, sublinhou Constantinos Kombos.

Entretanto, os Estados Unidos, no seguimento do anúncio do presidente Joe Biden no discurso da semana passada do Estado da União, fizeram partir cinco navios com material para a construção de um cais em Gaza que passará a ser de uso preferencial para a entrega de ajuda humanitária, estrutura que, no entanto, só deverá estar pronta em dois meses.

Ler artigo completo