Os meus bitoques

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Mas mesmo sendo um prato considerado simples de confecionar existe muita diferença entre um razoável bitoque ou um daqueles que entram para o grupo restrito de excelência.

Se em cada português há um pastel de nata também se pode dizer quase o mesmo dos bitoques. Quando somos chamados a elencar os nossos pratos preferidos, este famoso bife (normalmente frito mas também pode ir grelhado) cheio de molho onde nadam as batatas fritas, juntamente com arroz e salada, com ovo estrelado por cima, é invariavelmente incluído. É um dos típicos da nossa gastronomia e poucas tascas ou restaurantes de bairro o dispensam. Hoje em dia até os melhores apresentam a sua versão desta receita, tão popular dos mais novos aos mais velhos e que é transversal a toda a sociedade. Mas nem todos o sabem fazer a preceito. Há quem invente e altere a tipologia do prato adicionando ou retirando ingredientes que o adulteram e também há quem não seja criterioso com a qualidade. Mesmo quem não o inclui na sua ementa normalmente desenrasca sempre um bitoque a pedido.

Em Lisboa, santuário das tascas, pode-se comê-lo a cada esquina. Mas mesmo sendo um prato considerado simples de confecionar existe muita diferença entre um razoável bitoque ou um daqueles que entram para o grupo restrito de excelência. E a excelência atinge-se através da qualidade mas também da consistência. Se me dissessem que só teria oportunidade de comer mais um em toda a minha vida, a escolha recairia no Jorge D’Amália na Ajuda. Este pequeno estabelecimento que não aceita marcações está forrado com coisas do Belenenses que deixa adivinhar a simpatia clubista do proprietário. A mulher na cozinha, o marido no bar e nas mesas. Não há mais ninguém. O bife (muito saboroso) vem para a mesa naquelas frigideiras de inox tão características e o molho é simplesmente delicioso. Batatas fritas caseiras, ovo no ponto, bom pão para molhar no ovo e no molho e imperiais bem tiradas. Formula perfeita, em equipa que ganha não se mexe e talvez por isso se mantenha assim há anos.

Dois restaurantes que vivem paredes meias e que apresentam dois excelentes bitoques são a Adega do Solar Minhoto e a Marisqueira Sem Palavras. O primeiro, no largo dos bombeiros, é um típico restaurante português. Bife maior que o habitual (tem vezes que sai do prato) com molho carregado de alho. O segundo também na Avenida Rio de Janeiro rivaliza facilmente com o marisco de qualidade que por ali se serve. Na Graça temos um dos meus restaurantes preferidos de Lisboa, o Cardoso da Estrela D’Ouro. Aqui tudo é bom mas o bitoque vale mesmo a pena experimentar. A qualidade da carne é mesmo muito boa, montada por um ovo estrelado e repleto de batatas fritas caseiras que preenchem cada espacinho da frigideira. Também gosto muito de ir comer um belo bitoque à barra do Galeto. Casa afamada de Lisboa, com um ambiente muito próprio que respira vida no meio de diversos combinados à antiga e onde a carne assume papel principal. Por ultimo deixo também uma menção ao Rui dos Pregos, que como o nome indica tem como especialidade os pregos e bitoques (a que chama prego no prato). Preço muito em conta num dos precursores da moda do bife batido, em que a carne se apresenta fina e estendida pelo prato. Para além das batatas e do ovo vem também com pickles. Estes são os meus favoritos em Lisboa. E os seus, quais são?

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