Os vencedores de 2024 dos prémios Nobel

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O leque de galardoados com os prestigiados Prémios Nobel ficou concluído na passada segunda-feira, quando foi entregue o reconhecimento na categoria económica. Do primeiro Nobel a falar coreano a um que chegou a ser processado durante o Governo de José Sócrates, todos os trabalhos reconhecidos são merecedores de destaque

microRNA de Ambros e Ruvkun 

O Prémio Nobel em Fisiologia ou Medicina foi entregue a Victor Ambros e Gary Ruvkun no dia 7 de outubro «pela descoberta do microARN e do seu papel na regulação pós-transcricional dos genes». 

Ambros é professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Massachussets, onde leciona medicina molecular e ciências naturais e é um dos académicos mais conceituados na área. Também Ruvkun trabalha a partir de Massachussets, na Universidade de Harvard, e é professor de genética. Trabalham em conjunto há mais de trinta anos. A descoberta do microARN foi em 1993, inicialmente apenas por Ambros e outros investigadores, complementada posteriormente com o trabalho da equipa de Ruvkun. Como escreveu Rickard Sandberg, membro do Comité dos Prémios Nobel, «Graças à descoberta seminal de Ambros e Ruvkun (…) foi revelada uma nova dimensão da regulação dos genes. Enquanto as proteínas no núcleo regulam a transcrição e o splicing do ARN, os microARNs controlam a tradução e a degradação do ARNm no citoplasma. Esta camada inesperada de regulação pós-transcricional dos genes tem uma importância crítica ao longo do desenvolvimento animal e em tipos de células adultas e é essencial para a vida multicelular complexa»

Hopfield, Hinton e as redes neuronais artificiais

No campo da física, o Prémio Nobel foi atribuído ao físico John Hopfield e ao informático Geoffrey Hinton «pelas descobertas e invenções fundamentais que permitem a aprendizagem automática com redes neuronais artificiais». A inteligência artificial é hoje um dos temas mais relevantes e que mais promete revolucionar o nosso modo de vida e de sociedade, mesmo que esteja ainda numa fase inicial. Hopfield, professor na Universidade de Princeton, foi o responsável pela criação de uma estrutura que pode armazenar e reconstruir informação, enquanto que Hinton desenvolveu um método que é capaz de descobrir propriedades nos dados de forma independente, algo de incontornável importância para os modelos de inteligência artificial atuais.

O estudo foca-se em processos de imitação do cérebro, na memória associativa e no reconhecimento de novos exemplos do mesmo tipo. A Presidente do Comité Nobel da Física, Ellen Moons, garantiu que «o trabalho dos galardoados já foi de grande benefício». «Na física utilizamos redes neuronais artificiais num vasto leque de domínios, como o desenvolvimento de novos materiais com propriedades específicas»

Baker, Hassabis  e Jumper e a previsão da estrutura das proteínas

No dia 9 de outubro, Hans Ellegren, Secretária-Geral da Real Academia Sueca de Ciências, anunciou a atribuição do Prémio Nobel da Química a David Baker, Demis Hassabis e John Jumper pela «previsão da estrutura das proteínas». Também com ligações à Inteligência Artificial, Hassabis, CEO da DeepMind, e Jumper, investigador da mesma empresa, criaram um modelo que permite «resolver um problema com 50 anos: prever as estruturas complexas das proteínas». Já David Baker, da Universidade de Washington e do Instituto de Medicina Howard Hughes, «conseguiu a proeza quase impossível de construir tipos de proteínas totalmente novos», pode ler-se no site dos Prémios Nobel. «A vida não poderia existir sem proteínas. O facto de podermos agora prever as estruturas das proteínas e conceber as nossas próprias (…) confere o maior benefício para a humanidade», diz o comunicado de imprensa após a atribuição do prémio.

Porque falham as nações

O Prémio do Banco Central da Suécia em Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel foi dividido em três. Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson foram premiados pelos «estudos sobre a forma como as instituições são formadas e afetam a prosperidade». Acemoglu e Robinson são autores de um dos livros mais conhecidos sobre História Económica, “Porque falham as nações”, e Johnson, para além de todas as contribuições de importância acrescida, é conhecido em Portugal por ter escrito, em conjunto com Peter Boone, o artigo “O Próximo Problema Global: Portugal”. Artigo este que alertava para o rumo preocupante das finanças portuguesas em 2010, o que não foi do agrado do então Ministro Teixeira dos Santos e acabou por valer-lhe um processo em tribunal.

Robinson é também coautor do professor e investigador português Nuno Palma, com quem o Nascer do SOL falou na presente edição. «As sociedades com um Estado de Direito precário e instituições que exploram a população não geram crescimento nem mudanças para melhor. A investigação dos galardoados ajuda-nos a compreender porquê», lê-se no comunicado de imprensa de atribuição do prémio. É com estes três nomes da Economia que fica fechado o leque de premiados por uma das instituições com mais prestígio no mundo académico e científico.

O reconhecimentoda literatura sul-coreana

A escritora da Coreia do Sul, Han Kang, recebeu um dos dois Prémios Nobel que já estiveram na mão de um português (José Saramago, 1998). Mats Malm, Secretário Permanente da Academia Sueca anunciou o prémio que foi atribuído a Kang «pela sua prosa poética intensa que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana». Autora de livros famosos como “A Vegetariana” (2007) ou “Atos Humanos» (2014), «Han Kang confronta os traumas históricos e conjuntos invisíveis de regras (…) Tem uma consciência única das ligações entre o corpo e a alma (…) e no seu estilo poético e experimental tornou-se uma inovadora na prosa contemporânea», disse o crítico literário Anders Olsson, membro da Academia Sueca.

A organização Nihon Idankyo e a dissuasão nuclear

Um dos Prémios Nobel mais mediáticos é o da Paz. Este ano, o português e Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres esteve apontado, mas o prémio acabou por ir para Tóquio. A organização japonesa Nihon Idankyo advoga pelo fim das armas nucleares através de testemunhos de sobreviventes e venceu «pelos seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por ter demonstrado, através de testemunhos, que as armas nucleares nunca mais devem ser usadas». O grupo Hibakusha, formado por sobreviventes das bombas atómicas lançadas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki no fim da II Guerra Mundial, criou a instituição em 1956 e, desde então, tem tido um papel ativo e importante que, por fim, recebe o devido reconhecimento. Numa época em que a hipótese de um conflito nuclear não é descartável, a sensibilização para o tema assume uma ainda maior relevância.

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