Oxfam acende alarmes. "Concentração do poder empresarial e monopolista global está a exacerbar a desigualdade"

8 meses atrás 115

Denis Balibouse - Reuters

Dentro de dez anos, a Oxfam estima que a riqueza esteja ainda mais concentrada numa minoria, acentuando a distância face aos pobres. Com o Fórum Económico Mundial a começar esta segunda-feira, em Davos, a organização recomenda que países fixem metas para a "redução radical e rápida" da desigualdade, recorrendo, por exemplo, a impostos sobre os rendimentos multimilionários.

Se as tendências económicas se mantiverem, demorará 229 anos a erradicar a pobreza mundial, diz o mais recente relatório da Oxfam, organização internacional sem fins lucrativos que procura soluções para o problema da desigualdade.

O documento detalha que os cinco homens mais ricos do mundo duplicaram as fortunas, atingindo os 819 mil milhões de euros desde 2020, ano marcado pela pandemia da covid-19. Em simultâneo, 60 por cento da população mais pobre do mundo – quase cinco mil milhões de pessoas – perdeu cerca de 0,2 por cento do rendimento.

“As pessoas em todo o mundo estão a trabalhar mais e durante mais horas, muitas vezes por salários de pobreza em empregos precários e inseguros”, afirma o relatório. “Em 52 países, os salários reais médios de quase 800 milhões de trabalhadores caíram. Estes trabalhadores perderam um total de 1,37 mil milhões de euros nos últimos dois anos, o equivalente a 25 dias de salários perdidos para cada trabalhador", acrescenta.

A Oxfam adverte que a “concentração do poder empresarial e monopolista global está a exacerbar a desigualdade em toda a economia”. E afirma: “Sete em cada dez, das maiores empresas de todo o mundo, têm um CEO bilionário ou um bilionário como principal acionista”.

O texto conclui que 148 das maiores empresas do mundo, juntas, arrecadaram 1,65 mil milhões de euros em lucros líquidos totais no ano até junho de 2023, um salto de 52 por cento em comparação com os lucros líquidos médios entre 2018 e 2021.

De acordo com os dados da empresa Wealth X, o estudo identificou as cinco pessoas mais ricas do mundo – Elon Musk, Bernard Arnault, Jeff Bezos, Larry Ellison e Mark Zuckerberg. A investigação dá conta ainda que as fortunas aumentaram 424 mil milhões de euros, correspondendo a 114 por cento, colocando a riqueza a crescer três vezes mais rápido do que a taxa de inflação, desde 2020.
Taxar os multimilionários

A análise deixa recomendações aos países às empresas mais ricas no dia em que começa o Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça, onde se reúnem os líderes políticos e executivos de empresas mais endinheirados do mundo.

Com um por cento dos mais ricos do mundo a reterem 59 por cento de todos os ativos financeiros globais – incluindo ações, títulos e obrigações, além de participações em empresas privadas, a Oxfam adverte: “Para acabar com a desigualdade extrema, os governos devem redistribuir radicalmente o poder dos multimilionários e das empresas de volta às pessoas comuns”.

A organização deixa várias mensagens aos mais ricos reunidos em Davos – cerca de 2.800 líderes, incluindo 60 chefes de estado e vários CEO - presentes na Reunião Anual do Fórum Económico Mundial de 2024.

Entre os apelos, a Oxfam reclama a existência de um imposto sobre a riqueza para restabelecer o equilíbrio entre os trabalhadores e os gestores ou proprietários de empresas.

E dá o exemplo do Reino Unido, onde, caso o imposto sobre os multimilionários britânicos fosse aplicado a uma taxa entre um a dois por cento sobre o património líquido acima de 11,6 milhões de euros, o resultado seria a disponibilidade de 25,6 mil milhões para o Tesouro redistribuir, todos os anos.

Aleema Shivji, diretor executivo interino da Oxfam, sublinha que “este abismo cada vez maior entre os ricos e o resto não é acidental, nem é inevitável”. 

Os governos de todo o mundo estão a fazer escolhas políticas deliberadas que permitem e incentivam esta concentração distorcida de riqueza, enquanto centenas de milhões de pessoas vivem na pobreza”, acrescenta.

A Oxfam enfatiza que “um mundo mais igualitário é possível se os governos controlarem e re-imaginarem eficazmente o sector empresarial e abraçarem o sector público”.

É possível uma economia mais justa, que funcione para todos nós. O que são necessários são políticas concertadas que proporcionem uma tributação mais justa e apoio para todos, não apenas para os privilegiados”, conclui.
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