Papel do partido Podemos no parlamento "é uma incógnita"

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Resultados das eleições gerais de quarta-feira em alguns dos 11 círculos eleitorais moçambicanos já divulgados pelos órgãos eleitorais provinciais colocam o Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) como o segundo mais votado (legislativas), atrás da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, e à frente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição.

"A expectativa é que o Podemos injete ideias novas e uma nova maneira de exercer o poder parlamentar, mas, se isso se irá concretizar ou não, é uma grande incógnita", disse à Lusa Fernando Lima, analista político e jornalista moçambicano.

Lima assinalou que o Podemos nunca esteve num órgão de poder e não estava preparado para entrar no parlamento, tendo conseguido uma votação significativa por força da "parceria" com o candidato presidencial Venâncio Mondlane, um antigo deputado do parlamento pela Renamo.

"O partido tem agora que gizar a sua estratégia no parlamento, porque estava fora de cogitação e estava empenhado na campanha eleitoral", enfatizou.

Fernando Lima sustenta que entregar a liderança do partido a Venâncio Mondlane seria "um importante ativo, dada a experiência política e o carisma" deste político.

Mas "aí também há um elemento de imprevisibilidade, porque não se sabe se Venâncio Mondlane se irá filiar ao Podemos ou irá fundar o seu próprio partido".

Por seu turno, o analista Dércio Alfazema também considera que "o comportamento do Podemos no parlamento é uma incerteza, porque chega ao parlamento de forma inesperada e não tem experiência política".

"Para o Podemos, estar no parlamento é algo que caiu do céu, graças à aliança com Venâncio Mondlane", acrescentou.

A expectativa, prosseguiu, é se aquela força política terá condições para enfrentar e pressionar o partido parlamentar maioritário e apresentar propostas estruturantes da vida política, económica e social de Moçambique.

Dércio Alfazema considera que o "trunfo" para o Podemos seria a escolha de Venâncio Mondlane para líder do partido, como forma de capitalizar a experiência política deste político.

"Venâncio Mondlane é um político astuto e inteligente e com ele na presidência, o Podemos pode ter energia à altura de enfrentar os embates parlamentares, porque ele batia de frente, muitas vezes sozinho, com a Frelimo e a direção do parlamento", enfatizou Dércio Alfazema.

O presidente do partido extraparlamentar Podemos acusou segunda-feira os órgãos eleitorais de manipulação de resultados do escrutínio de quarta-feira para manter a Frelimo no poder e a Renamo como principal força da oposição.

"Os resultados que nós temos, com evidências numéricas das urnas, não são os que estão a ser apresentados [pelos órgãos eleitorais] nos distritos. Os resultados que estamos a ter a nível dos distritos não são aqueles que o povo efetivamente depositou nas urnas. Isto tudo visa responder uma ordem superior para que o Podemos não consiga estar no primeiro nem no segundo lugar", declarou Albino Forquilha em conferência de imprensa em Maputo.

O Podemos, registado em maio de 2019, é fruto de uma dissidência de antigos membros da Frelimo, que pediam mais "inclusão económica", tendo abandonado o partido no poder, na altura, alegando "desencanto" e diferentes ambições.

A publicação dos resultados da eleição presidencial pela Comissão Nacional de Eleições, caso não haja segunda volta, demora até 15 dias (contados após o fecho das urnas), antes de seguirem para validação do Conselho Constitucional, que não tem prazos para proclamar os resultados oficiais após analisar eventuais recursos.

A votação incluiu ainda legislativas (250 deputados) e para assembleias provinciais e respetivos governadores de província, neste caso com 794 mandatos a distribuir.

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