Passe ferroviário: onde param os comboios?

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O novo passe verde ferroviário que entrou em vigor esta segunda-feira é uma excelente ideia, mas o Governo arrisca-se a começar a casa pelo telhado. Como é que com os mesmos comboios, muitos deles já cheios, a CP vai conseguir transportar ainda mais passageiros?

A modernização e o aumento do número das actuais composições de comboios estão estagnados há décadas, e os últimos grandes investimentos em material circulante foram feitos nos anos 90. A actual oferta é, por isso, a mesma dos anos 90.

Novos comboios só chegarão à CP em 2027 (estão a ser construídos em Matosinhos), fruto de sucessivos atrasos provocados pela impugnação do concurso por dois dos concorrentes.

Esta segunda-feira, o ministro das Infra-Estruturas declarou-se pouco preocupado com o eventual aumento da procura e pouca capacidade de oferta da CP, recorrendo a dados estatísticos que servem pouco de consolo. Dizia Miguel Pinto Luz que esse problema está longe de existir, porque a média global de utilização dos comboios de longo curso é de 52%.

Ora, este número não significa que seja esta a média de utilização na linha Lisboa-Porto, porque para este valor de 52% contam as utilizações de linhas como a do Alentejo ou da Beira Baixa. Aliás, a própria CP nunca divulgou os dados desagregados sobre taxas de ocupação por zonas do país. O último relatório e contas da empresa, o de 2023, distingue apenas serviços urbanos de Lisboa, Porto, Coimbra, serviço de longo curso, serviço regional e serviço internacional.

Numa coisa, o ministro foi sincero: admitiu que o novo passe foi desenhado de modo a “mitigar” uma forte onda de procura: por isso, ao contrário de experiências noutros países, como Espanha ou Alemanha, as pessoas apenas podem viajar com este passe nos Intercidades se fizerem reserva nas 24 horas anteriores. Mesmo assim, os estudos da CP apontam para que o novo passe abranja 30 milhões de passageiros por ano, e a empresa estima ter transportado 172,6 milhões de passageiros no ano passado.

“A medida do passe ferroviário verde foi feita tendo em conta a oferta actual, porque sabemos que os comboios não chegam amanhã. Por isso é que foram colocadas um conjunto de regras para alisar a curva de procura”, tinha avisado Miguel Pinto Luz, em entrevista ao PÚBLICO/Renascença no início do mês.

A estratégia do Governo foi, primeiro, baixar o preço do serviço e só depois aumentar a oferta. Esperemos que chegue o dia de aumentar também a qualidade do serviço.

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