Pepe, um jovem que chega aos 41 anos: «Ficarei feliz se ultrapassar o meu recorde»

Das condições de treino à forma como os jogadores olham e cuidam para/dos próprios corpos, são vários os indicadores que dão força à ideia de que o futebol tem vindo a evoluir.

Se até há uns anos era quase impensável ver um jogador aproximar-se da barreira dos 40 anos a jogar num nível competitivo elevado, a verdade é que, hoje em dia, é mais comum haver quarentões a dar cartas em grandes palcos. Ainda assim, há um caso em Portugal que se destaca de forma evidente: do alto dos seus 187 centímetros, Pepe assume-se como um exemplo de longevidade e chega, esta segunda-feira, aos 41 anos de idade. 

Depois de se ter estreado como sénior em 2002, na altura ao serviço do Marítimo B, o defesa-central construiu uma carreira repleta de sucessos e títulos, sendo que, agora, já dentro das quatro décadas de vida, lidera não só o setor defensivo do FC Porto, mas também o balneário dos dragões.

É certo que, no mundo do futebol, olhar demasiado para o futuro é um exercício arriscado, mas, atendendo ao cenário atual, o zerozero procurou fazer uma ação de futurologia neste artigo... Confuso? Vamos por parte, caro leitor.

Aos 41 anos, Pepe é já o jogador de campo mais velho de sempre a atuar na Primeira Liga, sendo que, no registo absoluto, tem à sua frente apenas dois guarda-redes: Rafael Bracalli (fez o último jogo na prova com 42 anos e 15 dias) e Quim, o mais velho de sempre a alinhar no campeonato português (disputou a última partida na competição com 42 anos, dois meses e um dia). 

Para ultrapassar os dois guardiões, o internacional brasileiro tem de renovar com o FC Porto para a próxima época e ser utilizado em maio de 2025. Assim sendo, fica a questão no ar: conseguirá Pepe atingir esta marca?

«Abdicou de muito para estar onde está»

O recordista, pelo menos, é perentório quando questionado se está preparado para ser destronado. «[Risos] Claro que sim. Costumo dizer que para um guarda-redes é ligeiramente mais fácil. Para um jogador como o Pepe, um central que precisa de ir atrás dos avançados, já é mais complicado. Ele faz 41 anos e está como está, isso tem mais valor do que o facto de eu, guarda-redes, ter jogado até aos 42. Ficarei feliz se um jogador como o Pepe ultrapassar o meu recorde, até porque eu nunca procurei bater recordes». começa por dizer Quim ao zerozero.

O antigo internacional português, atual treinador de guarda-redes do Trofense, usa até como exemplo a boa exibição que Pepe fez contra o Arsenal para justificar a ideia de que o defesa-central «irá renovar com o FC Porto e superar» a sua marca: «O importante é sentirmo-nos bem, a idade é só mesmo um número e ele está numa excelente forma.» 

Apesar de nunca se ter cruzado com Pepe a nível de clubes, Quim partilhou balneário com o jogador do FC Porto na Seleção Nacional. Desta convivência, o antigo guardião destaca um aspeto. «O Pepe é um profissional de topo, costumo falar com a malta do futebol e digo-lhes que vejo o Pepe à imagem do Cristiano Ronaldo no que à forma de ser e de trabalhar diz respeito. A maneira como ele encara o futebol e a vida fora do futebol... No futebol perdemos muitos momentos em família e o Pepe abdicou de muita coisa para estar onde está e para apresentar a forma que apresenta aos 41 anos», realça, efetivando de seguida esta afirmação: «Ele cuida-se de manhã à noite e, se for necessário, até a dormir faz tratamentos porque é um profissional daqueles que já não existem.»

Apesar de o luso-brasileiro estar já no crepúsculo da carreira, Quim ainda o vê com capacidade de ajudar bastante a equipa liderada por Sérgio Conceição no futuro. «Um FC Porto sem Pepe não é o mesmo FC Porto. Acredito que o FC Porto vai ter muitas dificuldades em encontrar um jogador do nível do Pepe, mesmo tendo ele 41 anos. Será difícil encontrar um jovem com a qualidade dele», acrescenta.

«A treinar parece um miúdo e isso também o ajuda»

Marítimo, FC Porto, Real Madrid e Besiktas: eis os clubes que Pepe representou enquanto sénior e ao serviço dos quais conquistou 26 títulos. A este registo juntam-se 134 internacionalizações por Portugal e mais dois troféus (um Campeonato da Europa e uma Liga das Nações).

Na visão de Quim há um dado que ajuda a explicar todo este sucesso. «Ele tinha uma alegria e um prazer enormes em treinar, algo que o Sérgio Conceição já referiu. Ele a treinar parece um miúdo e, se calhar, isso também o tem ajudado. Mesmo com esta idade nunca se corta nos treinos, quer sempre mais. O Pepe não nasceu em Portugal, mas adaptou-se de uma forma fantástica à Seleção. Não se relacionava só com os colegas de clube ou com quem já conhecia, preocupava-se com todos os jogadores independentemente do clube. Ambientou-se de uma forma muito boa, a forma de ser dele ajudou-o bastante», destaca o ex-jogador, que sublinha ainda. à margem da conversa, que o seu principal objetivo agora como treinador de guarda-redes do Trofense (Liga 3) é ajudar os seus atletas a chegar a patamares mais elevados. 

Apesar do elevado rendimento que ainda apresenta, é natural que o corpo de Pepe não responda da mesma forma como quando este tinha menos 20 anos. Olhando também para a longevidade de Quim, a pergunta foi inevitável: o que muda na forma de trabalhar de um jogador com o avançar da idade?

«O descanso, a alimentação, a vida que se tem... Por exemplo, numa fase inicial da carreira se calhar vai-se passear ao shopping depois do treino, no final já se dorme a sesta à tarde depois de se treinar de manhã. No nosso dia a dia somos «obrigados» a cuidar muito de nós e do nosso corpo. A questão da alimentação também é fundamental, isto na medida em que temos tendência a engordar mais com o passar dos anos. Por fim, ter um família que nos ajude em todo este processo e que não nos dê grandes preocupações- acredito, sinceramente, que o Pepe tem isso-, é também extremamente importante».

O dia é de festa para um dos jogadores mais internacionais de sempre por Portugal. Aos 41 anos, Pepe vem mostrando que a idade é apenas um número e, agora, o recorde de Quim está ali ao virar da esquina...