Perspetivas para o mercado de M&A em 2024

3 meses atrás 41

O mercado de M&A continua a enfrentar períodos de grande incerteza. O ciclo do Covid-19 aconselhou cautela nos investimentos e consolidações perante uma pandemia cujos contornos, duração e efeitos eram desconhecidos. Ao mesmo tempo que se vencia tal desafio, a instabilidade geopolítica provocada pela guerra da Ucrânia veio a afetar as cadeias de produção e distribuição na Europa. Acresce a instabilidade resultante do conflito israelo-palestino e a potencialidade de uma escalada a todo o médio-oriente. A inflação daí resultante e a necessária subida das taxas de juro para a controlar de novo aconselharam um compasso de espera, atrasando a tão esperada retoma do mercado de M&A.

Não se perspetiva, pois, um grande impulso no mercado de M&A em geral em Portugal, pese embora as anunciadas intenções de venda de empresas de dimensão considerável, como a Altice, o Novo Banco ou possivelmente a própria TAP.

Quanto aos modelos de aquisição, e apesar de uma maior expectativa de controlo da inflação, qualquer descida de taxas de juro deverá apresentar-se ainda muito ligeira, pelo que ainda será cedo para o retorno a estruturas alavancadas de aquisição. Existe, contudo, liquidez no mercado, bem como ausência de ativos alternativos, pelo que investidores não dependentes de recurso ao financiamento, tais como private equities, fundos de pensões e fundos de investimento, poderão posicionar-se de forma oportunista e mais vantajosa, embora pressionados por múltiplos de transação mais elevados e exigências mais intensas relacionadas com fatores ambientais, sociais e de governação (ESG).

Os processos de decisão, avaliação e negociação perspetivam-se mais cautelosos e certamente mais morosos.

No que respeita aos sectores alvo, estes deverão continuar a centrar-se no imobiliário, energia (sobretudo renováveis), tecnologia, indústria e saúde.

Na área industrial, o esforço de reindustrialização da velha Europa deveria ser aproveitado por Portugal, como centro de nearshoring, para se posicionar no centro das novas cadeias logísticas, incentivando as empresas a tomar medidas para aproximar as suas unidades de produção aos mercados alvo e ter um controlo mais apertado da gestão dessas cadeias de abastecimento.

Deverão continuar os investimentos em energia renovável, embora se tenha vindo a notar uma necessidade de redimensionamento de operações previamente projetadas. Apesar de bastante ativo, os custos ainda elevados de capital poderão provocar algum abrandamento no setor imobiliário.

O sector do agrobusiness tem igualmente atraído investidores internacionais, nomeadamente fundos de pensões e outros investidores de longo prazo. Portugal, apesar da sua reduzida dimensão geográfica, oferece uma grande diversidade de sistemas agro, com enorme potencialidade de desenvolvimento na área agrícola e florestal.

Num novo quadro de renovadas dificuldades económicas, as compras oportunistas de empresas em dificuldade (sejam as causas próprias, ou indiretas pela manutenção de “empresas zombie” no mercado) darão lugar a excelentes possibilidades de investimento no mercado.

Em suma, um ano sem exuberâncias, mas de enormes oportunidades para os agentes menos alavancados, razão pela qual, mais uma vez, os capitais próprios farão a diferença.

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