Petiscos. Uma forma de ser português

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Portugal é um paraíso dos petiscos: dos pipis aos pastéis de bacalhau, dos caracóis às lagostas, tudo serve para uma boa conversa bem regada. Os estrangeiros estão cada vez mais fascinados com tantas iguarias.

Qual o segredo para se obter um belo petisco? A qualidade dos produtos, a simplicidade e a mão de quem os confeciona. Ouvindo vários intervenientes do setor, é essa a conclusão que se chega. Em Portugal, alguns dos petiscos mais famosos da baixa lisboeta já desapareceram, como é o caso dos passarinhos fritos. Mas há todo um mundo para descobrir, e além dos portugueses, são agora os estrangeiros que procuram ansiosamente a tradição. Se é verdade que os restaurantes da moda têm muito público, também é verdade que não são muito diferentes dos que existem noutros países. Daí muitos chefes apostarem em valorizarem os produtos nacionais, bem como a história dos mesmos.

Mas se verão combina com petiscos, Portugal é o rei desta tradição. E se já éramos conhecidos por estas iguarias, o nosso país entrou no mapa de alguns destes pitéus quando Anthony Bourdain gravou cá um dos seus programas de viagem e gastronomia. Em Lisboa, andou pela cervejaria Ramiro, a comer marisco, provou coiratos, bifanas e conservas e ouviu fado. Também o chef inglês Gordon Ramsay tentou recriar a famosa bifana portuguesa mas o resultado não foi o melhor ao juntar paprika, queijo derretido, pimentos e cebola roxa.

É certo que das cozinhas portuguesas saem os melhores resultados que deixam nacionais e estrangeiros de queixo caído. E, se uns convencem à primeira vista há outros que mostram algumas resistências.

Um desses exemplos mais emblemáticos são os caracóis que apesar de serem vendidos em toneladas largas, nem todos ficam rendidos ao seu encanto. E os números falam por si. Só no ano passado importámos quase quatro milhões de euros em caracóis, o equivalente a mais de dois milhões de quilos. O i faz um retrato de dois dos campeões de vendas. Apesar de estarem situados na mesma rua têm um público distinto e clubes futebolísticos diferentes ­– um puxa mais pelo Benfica, outro pelo Sporting – mas onde os caracóis e as caracoletas são os reis da ementa. E qual o segredo dos caracóis? Para Vasco Rodrigues, do Filho do Menino Júlio dos Caracóis, o segredo é isso mesmo: segredo. Confessa que foi um mecânico que há mais de 40 anos indicou a produto espanhol que faz a diferença. Já para D._Graça, a timoneira do Germano, ambos na Rua do vale Formoso de Cima, o segredo está na qualidade do caracol e na medida certa dos ingredientes.

Mas os petiscos não se resumem a caracóis e para quem tem outros gostos nada melhor do que mergulhar no Gigi, um templo do melhor peixe e marisco, no Algarve. O taberneiro ibérico, como gosta de se apresentar, faz uma verdadeira viagem pelos petiscos da sua cidade de Lisboa, que iam das iscas no pão, aos pipis, aos passarinhos fritos e até ao peixe frito frio.

A simplicidade como trunfo

E quem nos visita fica rendido aos encantos da cozinha portuguesa, como admitem vários estrangeiros ouvidos pelo i: “Adoro a simplicidade e autenticidade dos petiscos portugueses” ou “no café passamos horas a partilhar cervejas, as deliciosas saladas de polvo e as fantásticas moelas banhadas em molho de tomate”. E se para os portugueses o verbo petiscar entra no léxico de qualquer um, para quem permanece mais tempo ou fica mais rendido ao nosso país acaba por entrar no seu quotidiano. Já que o petiscar está, muitas vezes, associado à ideia de convívio num ambiente relativamente informal.

Dupla perfeita

E para acompanhar os petiscos nada melhor do que uma bebida e para muitos a escolha recai nas cervejas. Apesar de Portugal não surgir no top 10, os últimos números indicam que cada cidadão bebeu 58 litros de cerveja e em média cada pessoa consumiu seis mínis.

 No entanto, há quem prefira outras escolhas. E a oferta aí é variada, desde o vinho às sangrias, passando também pelas bebidas da moda. O gosto, a par do preço também ditam, muitas vezes, a escolha.

Locais de excelência

Não se pode falar de petiscos sem falar em tascas. E se recuarmos no tempo chegamos à altura das tabernas e dos romanos. A estes junta-se ainda a cultura árabe.

E se durante o Estado Novo, as tabernas não eram vistas com bons olhos, em que geralmente eram frequentadas por operários, onde mulheres nem crianças deveriam entrar – aliás, eram obrigadas a ter uma porta de vaivém por “razões de moralidade pública” – após 25 de Abril, as mentalidades mudaram e estes espaços foram ganhando nova vida e acabaram por dar lugar ao que conhecemos hoje em dia.

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