Petróleo: Menor procura, economia e geopolítica justificam queda de 15% num ano

2 horas atrás 18

Menor procura e aumento potencial da oferta desta matéria-prima, receios de desaceleração da economia mundial, e o desempenho económico da China, são fatores que justificam esta quebra, como explicam os analistas consultados pelo Jornal Económico.

O petróleo tem sofrido uma forte desvalorização no espaço de um ano. Nesse tempo o brent e o crude estão a cair sensivelmente 15%. Menor procura e aumento potencial da oferta desta matéria-prima, receios de desaceleração da economia mundial, e o desempenho económico da China, são fatores que justificam esta quebra, como explicam os analistas consultados pelo Jornal Económico.

O analista da corretora XTB, Henrique Tomé, refere, ao Jornal Económico, que as quedas nos preços do petróleo “podem ser vistas como um desenvolvimento previsto”, levando em consideração a natureza do mercado e os fatores que o influenciam.

“Atualmente, há três elementos principais que são críticos para entender o comportamento do petróleo: a geopolítica, as ações da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e o panorama económico global.

No âmbito da geopolítica, Henrique Tomé salienta que as tensões que se fazem sentir no Médio Oriente, que inicialmente se antecipava “poderem escalar de forma significativa”, acabaram por ter um “impacto mais moderado” no mercado.

“Isso tem levado a uma correção nos preços [do petróleo], com o mercado a ajustar-se a um cenário de menor risco imediato”, diz o analista da XTB.

Já no que concerne à OPEP, Henrique Tomé sublinha que se continua a observar uma “contenção deliberada” da oferta, com “cortes de produção implementados para sustentar” os preços.

“Contudo, o cartel já indicou que estes cortes serão revertidos no próximo ano, o que sugere que as pressões sobre os preços tendem a abrandar. Um aumento gradual da oferta, uma vez concretizado, deverá aliviar ainda mais os preços”, considera o analista da XTB.

Relativamente à conjuntura económica, Henrique Tomé considera que o atual cenário apresenta desafios para um “ambiente de preços elevados”.

Henrique Tomé acrescenta que os dados de atividade económica sugerem um “abrandamento global, que se reflete diretamente numa menor procura por petróleo”.

Estes fatores combinados [geopolítica, OPEP, e conjuntura económica], explica Henrique Tomé, permitem ter uma “explicação clara para os preços mais baixos” do petróleo em relação ao ano passado.

“A conjugação entre expectativas de menor procura e um aumento potencial da oferta está a pressionar o mercado, resultando nas recentes quedas”, afirma Henrique Tomé.

O economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Monteiro Rosa, explica, ao Jornal Económico, que esta descida de sensivelmente 15% no petróleo foi causada por uma “combinação de fatores económicos e geopolíticos, sobretudo receios de desaceleração da economia global, nomeadamente na China e na Europa, aumento da produção” pela OPEP+.

“A recessão na Alemanha e, consequentemente as crescentes preocupações de repercussões à restante economia da Zona e especialmente a gradual desaceleração da economia China, têm resultado num abrandamento da procura por petróleo”, acrescenta Paulo Monteiro Rosa.

O economista sénior do Banco Carregosa sublinha que o crescimento económico mais lento tem “reduzido” o consumo de energia, sobretudo na China, sendo a segunda maior economia mundial “um dos maiores impulsionadores” da procura global por petróleo.

“Enquanto a procura enfraqueceu, a oferta de petróleo aumentou. Países fora da OPEP+, como os Estados Unidos, Canadá e Brasil, aumentaram a sua produção, levando a um excesso de oferta no mercado. Mesmo com cortes voluntários de produção por parte de alguns membros da OPEP+, a produção global continua em níveis elevados, pressionando os preços do crude em baixa”, refere Paulo Monteiro Rosa.

A consultora BA&N diz, ao Jornal Económico, que a quebra que se tem verificado no preço do petróleo “está sobretudo relacionada com a perspetiva de excesso de oferta” da matéria-prima no mercado, pois a OPEP+ “vai começar a reverter os cortes extraordinários na produção numa altura em que as previsões para a evolução do consumo são mais desfavoráveis”.

A BA&N salienta a influência que a estratégia da Arábia Saudita tem provocado no mercado petrolífero.

“Depois de ter impulsionado cortes acumulados de 5,8 milhões de barris na oferta diária de crude desde o final de 2022 (perto de 6% da procura mundial), a Arábia Saudita terá alterado a estratégia, deixando cair a ambição de elevar o preço do petróleo para os 100 dólares. A OPEP+ vai aumentar a oferta em 180 mil barris por dia a partir de dezembro, num processo de reversão gradual dos cortes que visa defender a quota de mercado dos membros do cartel”, explica a BAN.

A consultora acrescenta que ao nível da procura as notícias também são “favoráveis à tendência descendente” das cotações.

“A Agência Internacional de Energia cortou recentemente as perspetivas de crescimento da procura para menos de um milhão de barris por dia em 2024 e 2025, cerca de metade do ritmo que se registava antes da pandemia. Embora com perspetivas menos pessimistas, a OPEP também admite um crescimento mais reduzido da procura nos próximos anos”, reforça a BAN.

A BA&N salienta que os estímulos à economia chinesa e o agravamento das tensões no Médio Oriente levaram as cotações do Brent a superar os 80 dólares por barril no início de outubro, contudo refere que “não se materializaram os receios” com o ataque de Israel a instalações petrolíferas do Irão, a que se junta um “avolumar das incertezas sobre o potencial da segunda maior economia do mundo [China] regressar a taxas de crescimento pré-pandemia”.

A consultora considera que a perspetiva de abrandamento da economia global em 2025, em conjunto com um aumento da oferta dos membros da OPEP e outros produtores, “faz antever um excesso de oferta” da matéria-prima no mercado no próximo ano, o que “joga a favor da manutenção das cotações do petróleo abaixo da fasquia” dos 80 dólares.

“A evolução da economia chinesa, da política da OPEP e dos riscos geolíticos são os fatores mais determinantes para o rumo das cotações”, acrescenta a BA&N.

Já o trader do Banco Best, Ângelo Custódio, refere, ao Jornal Económico, que o crescimento da procura global de petróleo continua a desacelerar”, baseando-se na leitura efetuada pela Agência Internacional de Energia.

“A condicionar atualmente a subida dos preços está a rápida desaceleração da economia chinesa, onde o consumo contraiu, levando a um sell-off no mercado petrolífero em setembro. Com a disrupção da dinâmica entre a procura e a oferta verificada por fluxos de produção mais elevados em alguns países, como o Brasil e a Guiana, aliada a uma menor procura por parte das principais economias mundiais, a estabilização dos preços da matéria-prima nos mercados internacionais tornou-se claramente mais desafiadora para os principais produtores de petróleo”, acrescenta Ângelo Custódio.

O trader do Banco Best diz que o “rápido declínio” no crescimento da procura mundial de petróleo nos últimos meses, liderado pela China, “alimentou uma forte queda” dos preços do barril de petróleo, com os futuros do Brent a caírem de um máximo superior a 82 dólares/barril no início de agosto para um mínimo de quase três anos, pouco abaixo dos 70 dólares/barril, registado durante setembro.

“Isto apesar da quebra da oferta na Líbia e de uma redução generalizada dos stocks de crude durante os últimos meses. Num esforço para travar a queda dos preços do petróleo, a Arábia Saudita e os seus parceiros da OPEP+, anunciaram um adiamento de dois meses ao final dos cortes adicionais de produção”, explica o trader do Banco Best.

Ângelo Custódio salienta que este atraso dá ao cartel “algum tempo” para avaliar as perspetivas do lado da procura para 2025, bem como o seu plano de eliminar gradualmente restrições adicionais.

“Contudo, com a oferta por parte de outros produtores a aumentar mais do que a procura global, a OPEP+ pode estar perante um excedente substancial, mesmo que as suas restrições adicionais continuem em vigor”, afirma o trader do Banco Best.

Ângelo Custódio reforça que apesar da “forte pressão” sobre o preço do barril nos mercados, os valores de referência do petróleo “subiram acentuadamente” no início de outubro, “à medida que os potenciais riscos de abastecimento de petróleo voltam a ocupar o centro das atenções”.

O trader do Banco Best alerta que a escalada das tensões entre Israel e o Irão “está a alimentar receios” de um conflito mais amplo no Médio Oriente e de perturbações nas exportações iranianas.

“Importa referir que apesar das crescentes preocupações com a segurança do abastecimento de petróleo, o mercado global de petróleo parece estar adequadamente abastecido”, diz Ângelo Custódio, baseando-se na Agência Internacional de Energia.

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