Porque é que o Burger King é uma “arma” assustadora para os adversários militares dos Estados Unidos?

9 meses atrás 109

Soldados americanos em fila para um Burger King na base de Bagdade, no Iraque, em 2005

CHRIS TOMLINSON / ASSOCIATED PRESS

Das mais variadas características que definem a arte da guerra da Grand Armée de Napoleão Bonaparte, uma das que se mais destaca é a minuciosidade da preparação logística para as expedições que o imperador francês empreendeu. Este padrão de pensamento transitou até aos nossos tempos.

Atualmente, os Estados Unidos são, de longe, a maior potência militar. A sua vantagem sobre os restantes reside na capacidade que Washington tem em projetar, para qualquer local no mundo, uma força militar com uma capacidade de fogo superior a todas as outras presentes no teatro em questão.

Este contingente, ao qual se chama de Carrier Striker Group (CSG), é composto por um navio porta-aviões, um cruzador, uma esquadra de contratorpedeiros (normalmente pelo menos dois contratorpedeiros e/ou fragatas) e pode ainda incluir um submarino. É servido por 65 a 70 aeronaves de várias tipologias e um dispositivo humano de cerca de 7.500 homens.

Para manter esta capacidade militar funcional, é necessário alimentar o dispositivo humano, e assegurar o funcionamento pleno de todos os materiais. Tal resulta num desdobramento global de uma rede logística de bases aéreas e navais por todo o mundo o que explica o porquê dos EUA terem cerca de 750 instalações militares, espalhadas por cerca de 80 países de todo o mundo.

Acompanhando o envio de munições, armas, combustível, fardas e outros bens de necessidades básicas, os EUA projetam ainda uma task force especial – postos de venda do Burger King, a famosa cadeia de fast food.

Porque é que ter um “Burger King” por perto faz diferença?

Na perspetiva de um soldado, estar deslocado num teatro de operações longe do seu país, e ter acesso a, ocasionalmente, uma refeição que remete para o seu país natal, é uma forma de o manter mais motivado e empenhado na execução do seu serviço.

As consequências estratégicas e políticas deste tipo de investimento podem ser brutais. Por exemplo, estrategicamente falando, uma instalação militar com um restaurante de fast food funcional é um alvo mais desafiador para um cerco, porque a fome não será um desafio a enfrentar enquanto se espera por um reforço dos seus camaradas ou se combate o inimigo com as próprias forças.

Numa vertente um pouco diferente, e como habitualmente tal acontece em bases militares que não estão diretamente ameaçadas por um inimigo, os restaurantes podem ser visitados pelos civis, permitindo, desta forma, às Forças Armadas dos EUA ter um impacto positivo na comunidade em que estão. Isso gera a aceitação e confiança mútua.

Pode-se, ainda, observar, na perspetiva do inimigo. Torna-se extremamente difícil combater uma unidade de militares que está bem treinada e alimentada e sabe que, após o combate os seus soldados poderão repor calorias com um menu de nuggets e um cheeseburger acompanhado por um fresco refrigerante. Uma força de combate que sabe que tem todas as comodidades necessárias torna-se muito mais eficiente no teatro operacional.

Ainda se pode formular uma outra vantagem de projetar um Burger King para um teatro de operações ativo. Trata-se de conseguir divergir as atenções do inimigo e confundir as suas convicções. Imaginemos um inimigo que vê, a partir de um drone de vigilância aérea, um desembarque de uma força especial a conferir proteção a um contentor da Burger King. Tal operação poderá parecer uma manobra de disfarce, e enquanto o inimigo ficou boquiaberto a observar o desdobramento de um mero restaurante de fast food, os americanos poderão ter ganho alguma vantagem tática num outro teatro paralelo.

O envio e o abastecimento de um Burger King para um teatro de combate é a demonstração máxima do potencial de uma logística militar que não tem par no mundo… E isso é deveras aterrador para os inimigos dos EUA.

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