PRÉMIO ZEROZERO | Nenê: «Inscrevia o golo contra o Chaves para o prémio Puskas»

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No final de mais uma temporada da Liga Portugal SABSEG o zerozero foi até à Vila das Aves para entregar o prémio de jogador mais regular da competição a Nenê.

O avançado brasileiro, aos 40 anos, voltou a ser decisivo na prova. Fez mais de trinta jogos, somou 23 golos e duas assistência na Liga Portugal SAEBSEG e ajudou de forma direta o AVS SAD a subir à Liga Portugal Betclic.

zerozero: Nenê, muitos parabéns. Este prémio é todo seu.

Nenê: Agradeço pelo prémio, agradeço pelo reconhecimento. Depois de tanto, chegar aos 40 anos e receber este prémio é algo que me deixa sem palavras. Só tenho que agradecer, pois é o reconhecimento pelo meu trabalho.

zz: Pensava fazer tantos golos e ser o melhor jogador da temporada para o zerozero?

N: Não. Se pensasse que no início da época eu iria ganhar este prémio e a equipa chegar onde chegou... não era o que esperava, apesar de saber da qualidade que tínhamos. Não esperava ganhar o prémio, mas com o decorrer dos jogos vi que tudo era possível. Quando fiz aquela sequência de mais de dez jogos seguidos a marcar, vi que tanto a equipa como eu poderíamos chegar a um patamar alto. Por isso, só tenho de agradecer por este momento.

zz: O Nenê sabia que era um jogador bem posicionado para ganhar este prémio, depois da sua temporada?

N: Eu tenho de estar sempre otimista de que estou capacitado para ganhar, mas sei que não vai depender sempre de mim, mas sim da equipa. Capacidades eu sei que tenho, até porque já consegui ganhar o prémio de melhor marcador da 1ª Liga.

zz: Vocês jogadores vão acompanhando as nossas notas e depois tentam ver que podem ser o melhor jogador do campeonato?

N: Eu tento não acompanhar tanto, pois tenho um foco. Se eu ficar preocupado com essas coisas, depois vou levar isso para dentro do campo e fico preocupado em ganhar prémios. Na minha vida nunca fui assim, foi sempre a fazer o melhor em cada jogo. A partir do momento em que comecei a fazer golos, percebi que podia fazer uma boa marca, nesta temporada. Por isso, estou aqui hoje e quero continuar na próxima temporada.

zz: Foi uma das melhores épocas da sua carreira e aos 40 anos. Qual é o segredo?

N: O segredo é ser profissional. Se estou aqui aos 40 anos e quero isto para mim, tenho de estar focado no meu dia-a-dia. Alimentar-me bem, treinar bem, descansar bem... Tudo isso é importante. Eu tenho de aproveitar tudo ao máximo, para poder ter prazer com o meu futebol.

zz: Alguma vez na sua carreira colocou uma meta para terminá-la? Não deve ser fácil para um jogador de 40 anos fazer o que o Nenê fez esta temporada.

N: Eu não coloquei uma meta. A minha meta é definida a cada ano. Enquanto estiver a produzir, o meu corpo estiver a 100 por cento e eu puder ajudar a equipa, vou continuar. Estou com 40 e tenho mais um ano de contrato. Senti-me bem e aos 41 anos vou começar uma nova temporada e depois vejo como o meu corpo vai reagir. Se sentir que estou num momento em que não estou a contribuir, é o momento de parar. 

zz: Hoje em dia que avançado o Nenê é? Diferente do que chegou a Portugal para o Nacional?

N: Sim, até porque não tenho a velocidade que tinha nessa temporada. Mas tenho mais conhecimento e mais experiência do que nessa temporada. Aos 40 anos chegar a esta marca deveu-se à experiência. Dentro do campo tento saber como posso antecipar as jogadas, trabalhar bem com os meus colegas. A experiência ajuda-nos a encontrar atalhos para finalizar em golo. Nesta temporada soube aproveitar isso e viver bem o momento.

zz: Sentiu que tinha defesas que o podiam menosprezar pela idade? 

N: A 2ª Liga é uma competição muito difícil. Os centrais estão sempre muito concentrados, estudam bem os adversários, de certeza que os treinadores passam algumas características minhas e isso passa por ter uma marcação forte e ter um foco alto na concentração. Mas eu tento encontrar atalhos, muito com a ajuda dos meus colegas. O avançado que eu sou define-se na concentração. Temos uma oportunidade, logo temos de estar focados e concluir, porque nem sempre no jogo vão haver duas ou três oportunidades. Sou focado, gosto de trabalhar no dia-a-dia, porque o que acontece no treino, acontece no jogo. Estes prémios são o reconhecimento do trabalho que tenho feito até aos dias de hoje.

Nenê fez 23 golos na Liga Portugal SABSEG, esta temporada @Kapta+

zz: Começou a temporada logo a marcar grandes golos. O que se recorda dessa altura, comentou em casa? A sua esposa disse-lhe alguma coisa ou os seus colegas? 

N: Começando por falar da minha esposa, só tenho a agradecer ela ter-me escolhido como marido. A confiança que tenho, tal como a determinação, está relacionada com a força que ela me passa. Muitos dos golos que faço devem-se a ela. Ela fora do campo faz um trabalho formidável, tem muitas obrigações a cumprir e eu fico focado no trabalho de futebolista. Ela sempre me passou confiança e o mérito destes prémios é muito dela.

zz: Treinava aqueles livres?

N: Mais na época em que estive em Itália, aqui em Portugal não treino muito, mas curiosamente foi aqui no AVS onde consegui fazer mais golos de livre, numa temporada.

zz: Mas nos dias de hoje não treina?

N: Não, não treino.

zz: É interessante, pois não treina aqueles lances, mas consegue marcar.

N: Eu acho que está mais relacionado com o instinto de um avançado. Ganhamos o hábito de rematar de fora da área e naquele momento temos de estar concentrados. O livre não passa de uma situação muito diferente destas, é claro que a bola tem de passar por cima de uma barreira, mas como finalizador tenho de estar focado no local onde quero colocar a bola. O primeiro objetivo, de quando cobro um livre, é colocar a bola na baliza. Depois, decido se coloco por cima da barreira, por fora, mais em força, ou em jeito, mas o objetivo fundamental é acertar na baliza. Daí não treinar livres, porque durante o treino fazemos esse trabalho e como tal o trabalho está feito.

qTreinei mais os livres quando estive em Itália. Aqui em Portugal não treino, mas esta época foi quando marquei mais dessa forma

Nenê, avançado do AVS

zz: Foi comprando os seus colegas para bater os livres e pedindo para lhe passarem as bolas para poder marcar e assim ganhar este prémio?

N: Foi engraçado, porque no início da época, depois da chegada do mister Jorge Costa, a quem tenho muito a agradecer por tudo o que nos ajudou, o Luís Silva, o nosso capitão, disse ao mister que eu era o único homem que batia livres. O mister não me conhecia, mas permitiu logo essa situação. Comecei logo a bater na pré-época e em alguns lances fiz golo. Depois houve mais bolas paradas durante a temporada, concluí em golo. Aqueles golos contra o Tondela e o Leiria foram a uma distância bastante grande e foi o mister a incentivar-me a rematar à baliza. Só tenho a agradecer a este grupo de trabalho, porque estes prémios não se ganham sozinhos.

zz: Nunca jogou contra o Jorge Costa, mas acreditamos que ele o tenha ajudado.

N: Ele era um central que não era fácil de enfrentar, nunca joguei contra ele, mas na época passada joguei contra a equipa dele, o Ac. Viseu. Estou grato por ele ter vindo para cá e nos ter ajudado a fazer esta bela campanha. Chegámos a estes objetivos muito graças ao mister e não a nós.

zz: Imagine que podia inscrever um golo seu ao prémio Puskas no próximo ano: qual era?

N: Todos são importantes, mas se tivesse que escolher ia para o golo na Taça da Liga, que foi o primeiro, contra o Chaves. Tive de decidir o lance numa fração de segundos e a única coisa que pensei foi em rematar à baliza, pois reparei que o guarda-redes estava um pouco fora. Fui feliz em concluir em golo e acho que o meu sucesso começou ali, por isso escolho esse golo como candidato a prémio Puskas.

zz: É candidato a vencer um prémio como este na próxima época?

N: Tenho de ser. Tenho de estar focado, manter-me confiante. No Brasil nós dizemos que para Deus não há impossíveis e para mim é igual. Vou batalhar, vou treinar e se conseguir este prémio com 41 anos estarei muito feliz.

Nenê, com o jornalista do zerozero Humberto Ferreira, e o prémio regularidade atribuído pelo zerozero @zerozero

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