No ano em que o meteorologista valenciano Rafael Armengot nasceu, em 1957, a cidade espanhola registou a maior inundação da sua história, provocando mais de 80 vítimas mortais. Nas últimas horas, a tragédia voltou a repetir-se com uma chuvada que já é considerada a pior do século. No entanto, a catástrofe natural não espanta o especialista, que avisa que "estas barbaridades vão continuar a acontecer".
"A natureza é mais poderosa do que nós. Os grandes episódios, por vezes, perdem-se na memória, mas devemos tê-los sempre presentes. Isto pode sempre voltar a acontecer e temos de aceitar que temos de viver com eles", alertou Rafael Armengot em entrevista ao jornal espanhol El Mundo.
A quem nada percebe de meteorologia, o especialista explica que a tempestade Dana tratou-se "de uma situação bem definida e prevista: uma depressão isolada em níveis elevados" que acabou por se aprofundar muito e deu origem a "ventos de leste persistentes e muito fortes" que se tornaram no "combustível que alimentou" todo o fenómeno natural.
Contudo, o que originou as graves inundações foi o facto de as chuvas terem sido "altamente concentradas e terem estado muito confinadas" a bacias hidrográficas específicas.
"Os problemas concentraram-se em áreas muito pequenas, mas afetaram de forma muito mais grave", explicou o meteorologista espanhol.
As autoridades confirmaram até agora 73 vítimas mortais, 70 das quais na Comunidade Valenciana, onde imagens divulgadas pela polícia, pelos meios de comunicação social e nas redes sociais mostram centenas de carros amontoados em estradas e vias alagadas e cheias de lodo, algumas delas destruídas ou danificadas.
Os jornalistas perguntaram esta quarta-feira ao ministro de Política Territorial, Ángel Victor Torres, numa conferência de imprensa em Madrid sobre a tempestade, se as populações foram avisadas com antecedência suficiente para se protegerem, sobretudo, na Comunidade Valenciana, fazendo eco de críticas ouvidas e escritas ao longo de todo o dia em meios de comunicação social.
O ministro respondeu que, perante "um resultado dantesco" da tempestade, este é um momento de solidariedade para com as autoridades locais e com todos os afetados, assim como de explicar a situação no terreno e a resposta que está a ser dada.
Na última noite, a precipitação na região de Valência foi a mais elevada em 24 horas desde 11 de setembro de 1966, de acordo com dados oficiais.
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