O "Haja Saúde", hoje apresentado, envolve a cooperativa de intervenção social Coolabora, coordenadora do projeto, a Unidade Local de Saúde (ULS) da Cova da Beira, a Associação Humanitária Beira Aproxima, composta por estudantes de Medicina, e um grupo representativo da comunidade cigana dos dois bairros da vila envolvidos.
Numa primeira fase, uma técnica de intervenção social e alunos de Medicina vão visitar a casa de famílias ciganas e fazer um diagnóstico dos seus hábitos de alimentação, de prevenção da doença e outros aspetos que possam afetar a saúde, para implementar um plano de melhoria e acompanhamento.
Em articulação com a ULS, desse trabalho pode resultar o encaminhamento para consultas, por exemplo, de planeamento familiar ou de saúde infantil e juvenil, assim como recolher dados para a criação de um manual para facilitar a comunicação entre profissionais de saúde e a comunidade cigana.
Estão também previstas sessões de sensibilização sobre a cultura cigana e a promoção de um encontro final que ponha em diálogo estes profissionais e esta comunidade.
Para o administrador da ULS Cova da Beira, João Casteleiro, é importante "encontrar formas de melhorar e simplificar a comunicação".
"Há algumas dificuldades de comunicação entre a vossa comunidade e os profissionais de saúde. Vocês têm uma cultura própria e é preciso interpretá-la. Queremos melhorar, de facto, esta ligação entre profissionais de saúde e a comunidade, para nos relacionarmos melhor", disse o cirurgião.
João Casteleiro considerou que o projeto "pode ser pioneiro não apenas para esta comunidade" e destacou a importância de "encontrar caminhos que se possam percorrer de melhor segurança para todos".
O presidente da Coolabora, André Barata, sublinhou que a intervenção será feita "caso a caso" e a preocupação em "chegar às pessoas e escutar" o que têm a dizer, "para que ninguém se sinta fora de casa neste território neste direito básico que é o acesso à saúde".
"Queremos também empoderar, capacitar, e, por isso, é fundamental trabalhar a dimensão da comunicação, seja pelo lado dos profissionais de saúde, seja pelo lado da comunidade cigana, para dissipar barreiras que estão presentes", frisou André Barata.
Um dos representantes da comunidade cigana no Tortosendo, Mário Cardoso, mencionou "os rótulos" que se associam a comportamentos individuais e que se tornam fator de discriminação para um grupo alargado de pessoas, salientou a importância do conhecimento mútuo e de melhorar a comunicação, e vincou que, enquanto pastor de um culto, incentiva os fiéis a "não serem imprudentes" e a procurarem a medicina convencional.
Sara Dias, estudante de Medicina, considerou o projeto "um veículo de saúde pública", manifestou a intenção de "dar ferramentas às pessoas para elas terem mão na sua saúde" e acentuou ser uma forma de tornar os participantes "melhores médicos no futuro".
O projeto, a implementar em 2024, e financiado pelo Fundo de Apoio à Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas, propõe-se intervir em 44 famílias e 135 pessoas no Tortosendo, para contribuir para um maior e melhor acesso aos cuidados de saúde e melhorar a qualidade de vida desta população.
Das 190 pessoas ciganas residentes no concelho da Covilhã, no distrito de Castelo Branco, 135 vivem no Tortosendo.