Putin avisa NATO: “Também temos armas. Consequências para os intervencionistas serão muito mais trágicas”

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O discurso do estado da nação, mascarado de propaganda para as eleições que se aproximam, insistiu na tese de que a invasão tem a ver com a defesa da essência da Rússia.

A poucos dias das eleições presidenciais russas, o presidente Vladimir Putin – que se recandidata e tem a vitória assegurada – usou o tradicional discurso sobre o estado da nação para saudar a unidade nacional russa, que se manifesta mesmo com os combates na Ucrânia.

Dirigindo-se a uma também tradicional plateia de deputados e altos funcionários do aparelho do Estado, e num discurso transmitido ao vivo para todo o país, Putin disse que a Rússia está “a defender a sua soberania e segurança e a proteger os nossos compatriotas” na Ucrânia. Repete assim discursos anteriores – mas a matéria não seria suscetível de grandes inovações, tendo reafirmado que a “operação militar especial” conta com o apoio da maioria dos cidadãos russos.

As análises ocidentais têm confirmado esta versão do regime, mas duvidam que essa realidade possa manter-se por muito mais tempo: estimativas ocidentais indicam que o país já perdeu mais de 400 mil soldados desde que invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, e está a caminho de atingir a marca de meio milhão até o final deste ano. Vários analistas preveem que a sociedade russa possa passar por um período idêntico ao que sucedeu quando a guerra no Afeganistão passou a ter forte impacto nas gerações que tiveram de deixar tudo para ir lutar num deserto longínquo.

Mas, se é certo que esse fenómeno pode repetir-se face ao aumento do número de mortos, é também verdade que o regime soviético, apesar de o ter tentado, nunca conseguiu ‘convencer’ a sociedade de que a ‘aventura’ afegã era uma questão de ‘vida ou morte’ do regime. Desta vez, a ‘aventura’ ucraniana tem esse sentido, o que pode mudar tudo.

Segundo as agências internacionais, Putin também reiterou que quaisquer “ameaças” ocidentais contra a Rússia terão consequências catastróficas – uma clara referência à capacidade das armas nucleares russas, mas também à frase recente do presidente francês, segundo a qual a NATO teria em cima da mesa a hipótese de enviar tropas para o terreno ucraniano. Foi desmentido por todos os seus parceiros – Alemanha e Estados Unidos incluídos – mas ficou dito.

“Também temos armas que podem atingir alvos nos seus territórios”, disse. “Lembramos o que aconteceu com aqueles que enviaram as suas forças para o nosso país. Agora, as consequências para os intervencionistas serão muito mais trágicas.”

Putin disse repetidamente que enviou tropas para a Ucrânia em fevereiro de 2022 para proteger os interesses russos e evitar que a Ucrânia representasse uma grande ameaça à segurança da Rússia ao integrar a NATO. O líder russo sinalizou repetidamente o desejo de negociar o fim dos combates, mas alertou que a Rússia manterá os seus ganhos territoriais, que incluem a Crimeia e o leste da Ucrânia.

Tradicionalmente, os principais tópicos do discurso não são divulgados previamente, mas desta vez, “levando em conta o calendário político interno”, adiantou o gabinete de Putin, anunciou que lançará as grandes tarefas para os próximos seis anos. De acordo com seu secretário de imprensa, Dmitry Peskov, Putin tem trabalhado no texto do discurso pessoalmente e teve “dezenas de contatos ” com ministros, vice-primeiros-ministros e outros funcionários do governo.

O discurso anual do presidente na Assembleia Federal (o parlamento bicameral da Rússia) faz tradicionalmente uma avaliação da situação no país e traça tendências nas políticas interna e externa.

O mais longo discurso sobre o Estado da Nação (115 minutos) foi proferido por Putin em 2018. As mais curtas foram entregues em 2004 e 2005, ambas com duração de 48 minutos. Em média, seus discursos duraram 70 minutos.

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