Quer provar um pastel de nata com farinha de inseto? Está quase.

3 meses atrás 92

Em Beja o investigador Nuno Sidónio Pereira coordena uma equipa que procura aferir critérios de qualidade para produção em massa de produtos alimentares com incorporação de proteína proveniente de insetos.

O Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) financia a Agenda Mobilizadora InsectERA. Cerca de 57 milhões de euros a dar asas a um novo sector produtivo. Em termos genéricos, esta agenda tem como objectivo recorrer aos insectos como fonte de proteína e usar essa proteína em alimentos quer para consumo humano quer para rações de animais.

Estima-se que gere 23 milhões de euros e dê origem a 143 novos postos de trabalho. Já existem produtos no mercado que incorporam proteínas de insectos para animais de estimação e para a aquacultura. Em alguns supermercados, já é possível encontrar massas e farinhas, para humanos, com o mesmo componente.

Este recurso é visto como essencial para assegurar a segurança proteica da Europa num futuro muito próximo, porque vai ser impossível continuar a fornecer proteína de origem animal, como dos bovinos, ao actual ritmo de consumo. É insustentável, do ponto de vista da pegada de carbono, afirma sem dúvidas, Nuno Sidónio Pereira investigador do Instituto Politécnico de Beja que coordena a equipa que procura construir um software para monitorizar a qualidade destes produtos. Não tarda, devem estar identificados mais de cem produtos, processos e serviços, com origem no recurso a proteína oriunda dos mais diversos insectos.

Laboratório de Física e Quimica do IP Beja. FOTO: António Jorge

A Agenda Mobilizadora InsectERA envolve um consórcio muito alargado que incorpora toda a fileira, desde laboratórios, academia e empresas. É liderado por Daniel Murta, que defende que o objectivo é colocar Portugal na vanguarda desta indústria. Por causa deste projecto, que termina no final do próximo ano, o Politécnico de Beja gere 1,4 milhões de euros, o maior projecto de investigação em curso. Aliás, o maior de sempre, se excluirmos a construção da residência para estudantes que está em andamento, e que também é financiada pelo PRR.

Camara de imagens hiperespectrais. FOTO: António Jorge

Numa espécie de bunker, Nuno Sidónio Pereira prossegue o estudo das imagens híper-espectrais que um equipamento semelhante a uma camara vulgar consegue obter dos alimentos colocados em cima de teflon e que podem ser bocados de avelãs, com algum açúcar, farinha e proteína derivada de insectos, moscas soldado negro, por exemplo. O objectivo é encontrar o processo mais eficiente para que o algoritmo possa, num processo produtivo de larga escala, dizer- isto é proteína de insecto, aquilo não é. Mas no projecto estão envolvidos outros laboratórios do Politécnico de Beja, como o de Físico-química, ou o Laboratório de Analise Sensorial. De resto, e a título experimental, já ali avaliaram (mas não foi provado) um pastel de nata. Foi feito com farinha que tinha proteína de insetos.

Maria João Carvalho, coordenadora do Laboratório Sensorial. FOTO: António Jorge

Maria João Carvalho que coordena o Laboratório explica que a escolha do pastel de nata simboliza a capacidade inovadora da proteína proveniente de insectos, todos os sentidos foram convocados para o teste do pastel, todos menos o sabor. A lei ainda não permite.

Dentro de um dos eixos desta Agenda Mobilizadora, em Beja, procura-se também aferir o processo de tratamento de águas residuais das queijarias por insectos.

Esta é a rubrica A Europa em Portugal e o jornalista António Jorge conversou com Nuno Sidónio Pereira.

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